Ficha do Proponente
Proponente
- Cecília Antakly de Mello (USP)
Minicurrículo
- Cecília Mello é Professora Livre-Docente no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA-USP. Foi Pesquisadora Visitante na Beijing Film Academy (2013), na Universidade de Pequim (2015), na Taipei National University of the Arts (2010/2017), Universidade de Nottingham em Ningbo (2021) e no King’s College London (2022). É autora de, entre outros, The Cinema of Jia Zhangke: Realism and Memory in Chinese Film (Londres: Bloomsbury 2019).
Ficha do Trabalho
Título
- Televisão, telenovelas e remediação na China das Reformas
Mesa
- Televisão e mediação nacional e transnacional: estudos de caso
Formato
- Presencial
Resumo
- A intenção será investigar o impacto do aparecimento da televisão na China continental nos anos 1980 e o surgimento de suas primeiras telenovelas a partir da análise de Ano após ano, de 1998. Como irei sugerir, a genealogia da televisão como remediação é enfatizada nesta novela através do que eu chamo de “reflexividade intermidiática”, que mostra como a evolução da mídia e a crescente mediatização da sociedade chinesa no período de reforma (1980-1990) vem impactando a formação de subjetividades.
Resumo expandido
- Ano após ano é uma novela chinesa de 1998 dirigida por Li Xiaolong e An Zhanjun. Compreendendo 21 capítulos, narra a vida de duas famílias em Pequim, os Chens and os Lins , de 1978 a 1998, e enfoca a relação entre Chen Huan, o filho de um projecionista de cinema, e Lin Pingping, a filha de um político perseguido na Revolução Cultural. A novela atravessa o período histórico conhecido como “Era das Reformas”, implementada por Deng Xiaoping com enorme impacto nos anos 1980 e 1990. Ano após ano emprega uma estrutura semelhante à novela Aspirações, de 1990, considerada a primeira do gênero na televisão chinesa, idealizada ainda sob o impacto da exibição da telenovela brasileira Escrava Isaura pela TV Pequim em 1984. Tanto Aspirações quanto Ano após ano apresentam sagas familiares como veículo para o tratamento de questões sociais e históricas do país, mas a última complexifica o melodrama familiar entrelaçando a história individual e coletiva da China com as transformações no universo das mídias audiovisuais. O catalisador dessa estrutura altamente intermediática e metalinguística de Ano após ano é o personagem Chen Fusheng, que trabalha em um cinema projetando filmes chineses e estrangeiros, e que é testemunha das mudanças de hábitos do público desde os anos 1970 até as vésperas do século XXI. Na minha comunicação, pretendo investigar o uso de diferentes mídias na novela, recorrendo à noção de intermedialidade, inspirando-me principalmente nos estudos pioneiros de Irina Rajewsky (2010) e Ágnes Pethő (2020). Deslocando a questão do “o que é intermedialidade” para “o que a intermedialidade realmente implica” na novela, tanto formal como narrativamente, irei discutir a forma multifacetada de reflexividade de Ano após ano, levando em consideração a noção de remediação de Bolter e Grusin (2000) – entendida como o processo que informa a genealogia da mídia através da história, e que vê o surgimento da mídia televisiva como um processo de remediação de outras mídias como o filme, o vaudeville e o rádio. Em Ano após ano, a genealogia da televisão como remediação é enfatizada através do que eu chamo de “reflexividade intermidiática”, que mostra como a evolução da mídia e a crescente mediatização da sociedade chinesa nas duas primeiras décadas do período de reforma têm impactado a formação de subjetividades no país, trabalhando tanto a favor quanto contra a homogeneização e o consenso. Por fim, desdobrarei a noção de remediação ao considerar a disponibilidade destas novelas hoje nos canais do YouTube, de forma gratuita, e suas várias sobrevidas em novas eras e para novos públicos.
Bibliografia
- Barker, Chris (1997), Global Television: An Introduction. Oxford: Blackwell.
Bolter, Jay David & Grusin, Richard (2000), Remediation: Understanding New Media. Cambridge, MA: The MIT Press.
Lu, Sheldon H. (2000), “Soap Opera in China: The Transnational Politics of Visuality, Sexuality, and Masculinity”. In Cinema Journal, Vol. 40, No. 1 (Autumn), pp. 25-47.
Lull, James (1991), China Turned On: Television, Reform, and Resistance. London and New York: Routledge.
Pethő, Ágnes (2020), Cinema and Intermediality: The Passion for the In-Between. Second, enlarged edition. Newcastle: Cambridge Scholars Publishing.
Rajewsky, Irina, (2010), “Border Talks: The Problematic Status of Media Borders in the current Debate about Intermediality”, in Lars Elleström (org), Media Borders, Multimodality and Intermediality. Basingstoke: Palgrave Macmillan, pp. 51-69.
Rofel, Lisa (2007), Desiring China: Experiments in Neoliberalisim, Sexuality, and Public Culture. Durham/London: Duke University Press.