Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Lívia Maria Gonçalves Cabrera (PPGCine/UFF)

Minicurrículo

    Bacharel em Ciências Sociais pela UFSCar (2010) e em Cinema e Audiovisual pela UFF (2017), mestre pelo Programa de Pós Graduação em Cinema e Audiovisual da UFF (2020) e doutoranda no mesmo programa. Realiza pesquisa sobre Carmen Santos e a Brasil Vita Filmes. É servidora técnica administrativa federal desde 2010, com passagem pela UFSCar e ANCINE. Atualmente é chefe do Cine Arte UFF, sala de cinema com perfil universitário e comercial localizada em Niterói-RJ.

Ficha do Trabalho

Título

    As estratégias de produção nos primeiros anos da Brasil Vita Filme

Formato

    Presencial

Resumo

    A proposta de comunicação irá trazer as reflexões iniciais sobre os primeiros anos da Brasil Vita Filme, empresa idealizada e presidida por Carmen Santos, e dois de seus projetos: Favela dos meus amores (Humberto Mauro, 1935) e Inconfidência Mineira (Carmen Santos, 1936-1948), levando em consideração o contexto econômico e político ao qual estavam inseridos, o modelo de produção e as escolhas estéticas desenvolvidos, procurando estabelecer aproximações e diferenciações entre as obras.

Resumo expandido

    A Brasil Vita Filme, empresa idealizada e presidida pela pioneira Carmen Santos, é considerada uma das primeiras iniciativas brasileiras de construção de um estúdio de cinema seguindo o padrão hollywoodiano de industrialização da atividade cinematográfica (VIEIRA, 2018). Apesar de conhecida, pouco se investigou ou se escreveu sobre suas atividades no período de 1934 a 1959, do ano de sua fundação até o estúdio ser comprado pelo produtor Herbert Richers. Uma das grandes dificuldades encontradas é o desaparecimento quase completo do material fílmico da empresa, bem como a ausência de um arquivo organizado. Carmen Santos já havia demonstrado o desejo de se tornar empresária da produção cinematográfica em outros momentos de sua carreira, ainda muito jovem, nos anos 1920, com a FAB – Film Artístico Brasileiro, mas foi só com a Brasil Vita Filme que ela de fato deu estrutura a sua carreira como empresária.
    Arthur Autran (2013) aponta que, ainda no período do cinema silencioso no Brasil, havia algum entendimento do cinema como arte industrial e que essas ideias começaram a serem mais difundidas em alguns textos publicados nas primeiras revistas especializadas em cinema no Brasil, tomando forma como propostas nas primeiras associações de classe que começaram a se formar no país. É sabido que Carmen acompanhava essas discussões e manifestava suas opiniões sobre o cinema brasileiro em alguns veículos da imprensa (PESSOA, 2002). Suas ideias acompanhavam o que muitos outros empresários, jornalistas, diretores discutiam sobre o tipo de filmes que deveriam ser feitos e os valores morais a serem assegurados, modelos de realização, participação e proteção estatal, enfrentamento do poderio estrangeiro, dentre outros.
    Foi durante o Governo Provisório de Getúlio Vargas que esse grupo notou a chance de uma aproximação para pleitear espaço econômico e político, já que o novo governo tinha a proposta de criar um forte projeto cultural que auxiliasse na unificação das ideias e no compromisso com a nação. Havia espaço para pleitear algumas demandas e o governo deu acenos de auxílios ao setor que se mostrou animado nos primeiros anos com a possibilidade de suas produções conseguirem espaço no mercado a partir da organização e do apoio estatal.
    Carmen, assim como outros, estava otimista e enxergou no momento condições para investir em algumas produções e construir o seu estúdio percorrendo as melhores condições que ela poderia oferecer. Na ata da primeira assembleia é possível encontrar o propósito da empresa: “a produção de filmes cinematográficos, especialmente de caráter educativo nacional”.
    Tendo esse contexto político como pano de fundo, a presente proposta de comunicação irá refletir sobre os primeiros anos da Brasil Vita Filme e dois de seus projetos: Favela dos meus amores (Humberto Mauro, 1935) e Inconfidência Mineira (Carmen Santos, 1948), sendo que o segundo iniciou sua pré produção em 1936, sendo lançado apenas em 1948. A análise levará em consideração o modelo de produção a qual estavam inseridos e as escolhas estéticas, procurando estabelecer aproximações e diferenciações entre as obras. Quais são as relações possíveis de se fazer entre um filme musical, que se passava no morro da Providência, costurado pela música popular, e uma trama histórica sobre um episódio que crescia em importância naqueles anos 1930.
    Interessa pensar de que maneira essas duas escolhas de filmes compunham o seu sistema de produção e de que forma Carmen Santos poderia percorrer o mercado cinematográfico naquele momento que parecia ser receptivo ao cinema brasileiro. Procura-se iniciar algumas reflexões acerca das estratégias empresariais de Carmen Santos para encontrar espaço em um ambiente de intensas transformações, um contexto de muita agitação política, com forte disputa comercial entre os setores do mercado cinematográfico, predomínio do nacionalismos nas artes, a presença de um Estado centralizador e a hegemonia do cinema norte-americano.

Bibliografia

    AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec Editora, 2013.
    CARIJÓ, Armando Moura. Associação Cinematográfica dos Produtores Brasileiros: relatório de atividades (biênio 1934-1936). Rio de Janeiro: Jornal do Comércio, 1937.
    HEFFNER, Hernani; RAMOS, Lécio Augusto. Edgar Brasil: um ensaio biográfico. Aspectos da evolução técnica e econômica do cinema brasileiro. Rio de Janeiro: 1988, [datil].
    MELO, Luís Alberto Rocha. Cinema Independente: produção, distribuição e exibição no Rio de Janeiro (1948-1954). Tese (Doutorado em Comunicação). Niterói, Universidade Federal Fluminense, Instituto de Arte e Comunicação Social, 2011.
    VIEIRA, João Luiz. “A chanchada e o cinema carioca (1930 – 1955)”. In: RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila (Org.). Nova História do cinema brasileiro (vol. 1º). São Paulo: Edições SESC, 2018, p. 392 – 431).
    PESSOA, Ana. Carmen Santos: o cinema dos anos 20. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002.