Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Deisimer Gorczevski (UFC)

Minicurrículo

    Professora e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Cultura e Arte, na Universidade Federal do Ceará. Coordenadora do Laboratório Artes e Micropolíticas Urbanas (LAMUR/CNPq). Realizou doutorado em Ciências da Comunicação pela Unisinos – RS e doutorado-sanduíche em Comunicação Audiovisual na Universitat Autònoma de Barcelona. Estuda processos de criação coletivos e colaborativos, cartografias e intervenções audiovisuais e micropolíticas urbanas.

Coautor

    Sabrina Késia de Araújo Soares (UFC)

Ficha do Trabalho

Título

    Inventando memórias com o bairro: Mostra AudioVisual do Titanzinho

Seminário

    Festivais e mostras de cinema e audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    A Mostra AudioVisual do Titanzinho chega à sua décima edição, em 2023, na cidade de Fortaleza, afirmando filmes feitos com o bairro, produções que raramente circulam nos espaços tradicionais do cinema. Ao criar espaços de convivência, promover encontros com diferentes formatos, tecnologias e modos singulares de exibição, a Mostra traz à tona problemas e potencialidades, afirmando o lugar de moradia, a participação comunitária e a produção audiovisual como invenção de memórias do território.

Resumo expandido

    Fazemos cinema em coletividade, nos movemos na cidade com aliados. Realizadores, curadores, amantes das imagens em movimento com um mesmo desejo, o de criar modos de existência com o mar, praias, ruas, praças e o Farol do Mucuripe, em Fortaleza, mais precisamente, com o Titanzinho, no Serviluz, bairro localizado na orla da capital, que abarca o Cais do Porto, entre duas das maiores praias turísticas – a praia do Mucuripe e a praia do Futuro – uma região conhecida pelas legendas múltiplas em um regime de mercado e especulação imobiliária.

    Entre as ações com cinema, criamos a Mostra AudioVisual do Titanzinho, realizada anualmente, chegando à sua décima edição em 2023. A Mostra acontece com filmes feitos com o bairro, produções de curta metragem que raramente circulam nos cinemas de nossas cidades, produções audiovisuais desdobradas em processos de criação que implicam experiências singulares e coletivas.

    A produção de imagens e sonoridades com o bairro apresenta múltiplos modos de viver e conviver em comunidade. Sendo considerada uma produção “menor” opera como um processo de singularização (GUATTARI, 1992), um exercício de construção e reconstrução de sua existência|resistência em uma região que convive com as ameaças das políticas de remoções, desde a sua formação, sendo o próprio material audiovisual uma invenção de memórias do território.

    A cartografia dos filmes e os temas da Mostra, no processo de curadoria, são modos de dialogar com as práticas cotidianas em busca de entender como as pessoas ocupam o espaço e se inventam em processos de singularização, “modos de subjetivação emergentes, focos de enunciação coletiva, territórios existenciais, inteligências grupais que escapam aos parâmetros consensuais, às capturas do capital” (PELBART, 2003). Nas análises dos filmes também consideramos as contribuições de Comolli (2008) e Amaranta César (2017) em diálogo com outros fazedores de cinema apresentados por Alice Fátima Martins (2019).

    A criação da Mostra teve como uma das inspirações o CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre que, em sua primeira edição, fez o convite em formato de pergunta: “Você também pode fazer o seu filme, o seu vídeo, o seu festival, se é que já não o faz – e por que não?”. Um festival que propõe a “desbitolação do audiovisual”, defendendo a diversidade de formatos e técnicas de produção, em outras palavras, a multiplicidade do cinema.

    Com um acervo de imagens feitas com o bairro, ao longo dos dez anos, a Mostra segue recriando espaços de convivência promovendo encontros com diferentes formatos, tecnologias e modos singulares de exibição, ampliando as expressões do sensível, trazendo à tona problemas e potencialidades, afirmando o lugar de moradia, os espaços de participação comunitária e a produção audiovisual como política ativa que fortalece a relação entre a experiência ética e estética.

    Inventamos um modo de fazer cinema com o bairro muito próximo ao que entendemos por micropolíticas urbanas pensando em práticas que buscam interferir no cotidiano dos espaços que habitamos e que nos habitam – territórios geopolíticos e existenciais – e nas concepções institucionalizadas de cinema e audiovisual – com o objetivo de perturbar e provocar desvios de percurso e, desse modo, reinventá-los (GORCZEVSKI, 2021).

    Além de mobilizar a circulação das produções audiovisuais locais, a programação da Mostra contempla apresentações de grupos de teatro, música, dança, poesia, entre outras expressões, suscitando conversas em torno dos processos de criação e experimentações artísticas e comunitárias.

    A organização da Mostra envolve o Coletivo AudioVisual do Titanzinho, participantes da pesquisa Cinema In(ter)venções, no Laboratório Artes e Micropolíticas Urbanas (LAMUR- CNPq), do Programa de Pós-Graduação em Artes, na Universidade Federal do Ceará, em alianças com a Associação de Moradores do Titanzinho e Colaboradores.

Bibliografia

    CESAR, Amaranta. Cinema como ato de engajamento: documentário, militância e contextos de urgência. C • LEGENDA. N°35, 2017.
    CINEESQUEMANOVO. https://www.cineesquemanovo.org/pt-br
    CINESERVERLUZ. https://cineclubeserverluz.wordpress.com/
    COMOLLI,Jean-Louis. A cidade filmada. Ver e poder: a inocência perdida: cinema, televisão, ficção, documentário. Belo Horizonte: UFMG, 2008, p. 179-185.
    GORCZEVSKI, Deisimer. Cinema com o Bairro: Modos de Pesquisar e Intervir. In. Poéticas de Pesquisa: Cartografando o Audiovisual. Orgs. FARIAS, Ana Angela; GUIMARAES, César; MENDONÇA, Fernando de; SILVA, Renato Izidoro da – Aracaju, Criação, 2021.
    GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. 2. ed. São Paulo: Ed. 34, 1992.
    MARTINS, Alice F. Outros fazedores de cinema: narrativas para uma poética da solidariedade. Porto Alegre, RS: Zouk, 2019.
    PELBART, P.P. Vida capital: ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003.