Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Flávia Seligman (Sem vínculo)

Minicurrículo

    Jornalista formada pela PUC RS (1986), Doutora em Artes pela USP (2000). Professora da PUC RS (1993-2001), UFRGS (1999-2003), ESPM (2010-2016) e Unisinos (2003-2020). Avaliadora de Cursos Superiores credenciada pelo MEC-INEP. Bolsista CAPES / UAB/ UFSM (2020-2021). Professora Substituta do Curso de Cinema e Audiovisual da UFPEL (2021-2023). Membro do Comitê Científico, 2019-2021, da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema – Socine. Membro do Conselho Deliberativo da Socine, 2021 -2023.

Ficha do Trabalho

Título

    Olhar gauche sobre a história: Silvio Tendler e a Ditadura Militar

Formato

    Presencial

Resumo

    Este trabalho faz um recorte na obra do cineasta Silvio Tendler, os filmes que tratam da Ditadura Militar Brasileira. Como Tendler afirma em entrevistas e debates e com base na sua própria produção, todos seus filmes possuem um viés político, social. Na intenção de constituir uma análise mais específica, escolhemos, entre filmes e séries pontuais, que centram numa figura pública , como Jango e Mariguella, e outros mais abrangentes que retratam um grupo social, profisional ou uma geração.

Resumo expandido

    Silvio Tendler nasceu em 1950, no Rio de Janeiro. Ele conta que no dia do Golpe Militar, em 1964, estava no cinema e quando saiu, no meio da agitação das ruas de Copacabana, conseguiu observar o sentimento dos porteiros dos prédios de luxo, ouvindo por um radinho as notícias da deposição e Jango e a chegada do novo governo. Ao contrário deles, a burguesia carioca sentia-se feliz com os novos rumos que o país tomava. Talvez tenha nascido ali, naquele garoto de 14 anos, o contador de histórias que ele veio a se tornar.
    Tendler começou a fazer cinema nos anos 1970 e nunca mais parou. No auge da repressão foi para o Chile e depois para a França. Estudou na Sorbonne, viajou o mundo em busca de utopias e imagens. Voltou para o Brasil para contar uma história do país vista pelos olhos de um jovem de esquerda, que sabia que o mundo não poderia ser aquele determinado pelo governo militar. Desta forma ele relembrou os presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart para as gerações que conheciam e apresentou para jovens que tinham nascido pouco antes ou pouco depois do Golpe.
    Este trabalho recorta na filmografia de Tendler os filmes com a temática da Ditadura Militar brasileira, e são muitos. Alguns pontuais, outros mais dispersos, abrindo para um contexto, um entorno do Golpe e suas consequências. Nos filmes pontuais como Jango e Mariguella, Silvio mergulha no íntimo dos protagonistas e se cerca de depoimentos que referendam e contradizem suas teorias (como por exemplo o depoimento do General Muricy, em Jango, que avalia como benéfico o Golpe Militar). Nas obras mais abertas, que trabalham com uma classe, como os advogados, os próprios militares e os militantes estudantis, o contar da história passa para um grupo que traduz dramas e inquietações de uma geração marcada por acontecimentos contundentes.
    Sobre o Golpe de 1964 em si, trabalhamos com Élio Gaspari, autor do conjunto de livros denominado As ilusões Armadas, sobre todos os períodos e seus presidentes. Ainda sobre o Golpe buscamos a produção do historiador Carlos Fico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialista em história do Brasil República, com ênfase em temas como a Ditadura Militar Brasileira e as ditaduras latino-americanas. Também utilizamos o livro Os Militares no Poder, do jornalista Carlos Castelo Branco, publicação abrangente de todo o período militar.
    Sobre as teorias que interrelacionam os estudos de história e os estudos de cinema utilizamos os textos de Mark Ferro, Cinema e História e também nos apoiaremos nas publicações de Eduardo Morettin e Leif Furhammar e Folke Isaksson.
    Também utilizamos relatos de autores que viveram o período militar, como o jornalista Flávio Tavares, que escreveu, entre outros, o livro 1964 – O Golpe, sobre a participação dos Estados Unidos na concepção e gerenciamento dos acontecimentos no Brasil e Memórias do Esquecimento, sobre a própria experiência de Tavares, ex guerrilheiro que foi preso, torturado e exilado no México. Flávio estava entre os presos políticos que foram trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sequestrado pelo MR-8 em 1969.
    O trabalho também conta, claro, com toda a filmografia do cineasta Silvio Tendler sobre o Golpe Militar, porém focada nos filmes Jango, 1984, Marighella – Retrato Falado do Guerrilheiro, 2001, Sonhos Interrompidos, 2017, Ibiúna, Primavera Brasileira, 2019, Memória do Movimento Estudantil, 2007, Nas Asas da Pan Am, 2022, e as séries Advogados contra a ditadura, 2014 e Militares da democracia, 2014.
    Tendler , além de amigo pessoal da autora, também é diretor do filme Anotações para uma história: Leonel de Moura Brizola, no qual a autora trabalhou como produtora local para o RS, que está em fase de finalização. Escrever sobre este cineasta além de uma busca instigante é também uma grande responsabilidade pela admiração, proximidade e amizade que os une.

Bibliografia

    1. BRASIL, Marcia Paterman. História e utopia: o documentário de Silvio Tendler. Dissertação (mestrado em Comunicação), Orientador: Miguel Serpa Pereira – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008
    2. FERRO, Mark, Cinema e História. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
    3. FICO, Carlos. Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginário social no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1997.
    4. FURHAMMAR, Leif e ISAKSSON, Folke. Cinema e Política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
    5. GÁSPARI, Élio. A ditadura Envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
    6. _______________. A ditadura Escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
    7. JULLIER, Laurent e MARIE, Michel. Lendo as imagens do cinema. São Paulo: Editora Senac, 2009
    8. MORETTIN, Eduardo, Org.; NAPOLITANO, Marcos, Org. O cinema e as ditaduras militares: contextos, memórias e representações audiovisuais. São Paulo: Intermeios: Fapesp; Porto Alegre: Famecos, 2018.