Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Marco Túlio de Sousa Ulhôa (PUC Minas)

Minicurrículo

    Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Doutor em Comunicação na linha de Estudos de Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense.

Ficha do Trabalho

Título

    A espiral do tempo em O Século das Luzes de Humberto Solás

Seminário

    Cinema e audiovisual na América Latina: novas perspectivas epistêmicas, estéticas e geopolíticas

Formato

    Presencial

Resumo

    O estudo analisa o filme O Século das Luzes (1992), do cineasta cubano Humberto Solás, apontando como os ciclos temporais das tramas e suas interseções com o desenvolvimento linear do enredo estabelecem a temporalidade espiralar da narrativa. Para isso, realiza a análise dos temas da obra original, o romance homônimo do escritor cubano Alejo Carpentier, colocando em perspectiva as origens da modernidade latino-americana, a partir das contradições dos ideais da Revolução Francesa no continente.

Resumo expandido

    Originalmente realizada como uma série para a televisão francesa, O Século das Luzes, dirigida pelo cineasta cubano Humberto Solás, ganhou uma versão cinematográfica em 1992, a partir da qual foi mundialmente conhecida. Produzido pelo ICAIC, como uma coprodução entre Cuba, França, Rússia e Espanha, o filme é uma adaptação do romance homônimo do escritor cubano Alejo Carpentier, publicado em 1962. Logo, a história ambientada no período da Revolução Francesa, entre os séculos XVIII e XIX, que narra o encontro dos irmãos Carlos e Sofía, juntamente ao primo Esteban, com o viajante e político francês Victor Hugues, revela não só como o filme de Solás reconstrói minuciosamente todo o contexto elaborado pela escrita de Carpentier, mas como os processos históricos e os fatos simbólicos de uma narrativa simultaneamente linear e circular, entram em composição no desenvolvimento de um enredo cuja temporalidade e a historicidade se articulam de forma espiralar.

    Diante dos aspectos diegéticos que interrelacionam o filme de Humberto Solás e o livro de Alejo Carpentier, conforma-se então uma compreensão metafórica e enigmática da narrativa que, por sua vez, a relaciona com os elementos da estética barroca frequentemente associada à literatura de Carpentier e visivelmente presente nos recursos pictóricos das imagens do filme de Solás. Por outro lado, a liberdade filosófica e os avanços sociais e científicos historicamente associados às transformações decorrentes da Revolução Francesa e do pensamento iluminista, são amplamente questionados pelas narrativas em questão tanto do ponto de vista simbólico quanto histórico, na medida em que a concepção barroca das obras e a interpretação de seus contrapontos temporais servem como emblemas das ambivalências que marcaram a ruptura com o antigo regime e a subsequente degeneração dos ideais revolucionários. Neste contexto, a América Latina é centro de uma narrativa que coloca em evidência a influência da revolução nas diferentes lutas de independência emergentes em todo continente, sem deixar de destacar que nas origens da modernidade latino-americana, nunca houve um processo verdadeiramente engajado em substituir a “velha ordem”, ao produzir ditaduras despóticas e preservar a escravidão.

Bibliografia

    CARPENTIER, Alejo. El cine, décima musa. México, D.F.: Editorial Lectorum, 2013.
    _______________. O Século das Luzes. Tradução Stella Leonardos. Rio de Janeiro: Editorial Labor do Brasil, 1976.
    _______________. Tientos y diferencias. Buenos Aires: Calicanto Editorial, 1976.
    CHIAMPI, Irlemar. Barroco e Modernidade: ensaios sobre literatura latino-americana. São Paulo: Perspectiva, 2010.
    _______________. O realismo maravilhoso. São Paulo: Perspectiva,1980.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Tradução Vera Casa Nova, Márcia Arbex. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2015.
    MOCEGA-GONZALEZ, Esther P. La narrativa de Alejo Carpentier: El concepto del tempo como tema fundamental. New York: Eliseo Torres & Sons, 1975.
    RANCIÈRE, Jacques. A historicidade do cinema. Tradução André Fabiano Voigt, Maurício José Souza Júnior. São Paulo: Revista Significação, v. 44, n.48, jul-dez, 2017, pp. 245-263.