Ficha do Proponente
Proponente
- Giulianna Nogueira Ronna (PUCRS)
Minicurrículo
- Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PPGCOM/PUCRS (2019) – com incentivo de Bolsa CAPES. Especialista em Expressão Gráfica PUCRS/FAU (2008). Participa do Grupo de pesquisa Kinepoliticom (CNPq).
Ficha do Trabalho
Título
- Reescrita histórica no documentário brasileiro contemporâneo
Formato
- Presencial
Resumo
- Nesse texto busco analisar e refletir como a inscrição da palavra e do traço em documentários brasileiros contemporâneos relaciona-se graficamente com o tema da ditadura civil-militar (1964-1985), reconfigurando a experiência histórica. Para tanto, trago uma reflexão sobre a escrita do desastre (BLANCHOT, 2016) na tomada do testemunho e do trauma, que permite a compreensão dos sujeitos e das comunidades biografadas a partir dos silêncios gráficos, dos hiatos e dos desvios narrativos.
Resumo expandido
- Esse texto busca refletir e analisar a recorrência gráfica em documentários brasileiros contemporâneos que se propõem a revisitar o período ditatorial, a partir dos testemunhos e trajetórias biografadas, contribuindo para a reflexão sobre o passado e o presente do país e, construindo, assim, novos espaços para uma reescrita da história. O debate em torno do gênero biográfico, no qual a apreensão dos acontecimentos se dá a partir das histórias individuais e da concepção do tempo em sua impureza (CERTEAU, 2011), quando aplicado ao cinema, proporciona que as modulações biográficas, a partir das suas visualidades, tornem-se capazes de expor as particularidades do tecido social a que pertencem, engendrando um discurso sobre a sociedade, sua época e sua história. Nesse sentido, a imagem é vista como uma premissa de conhecimento histórico, com a compreensão de um passado que se efetiva em relação a um outro, seja ele um sujeito, outro tempo ou o próprio presente que se ausenta. Este estudo também parte do entendimento de que, no contexto brasileiro, especificamente a partir de 2013, diante de uma realidade política e social abalada por acontecimentos como as jornadas de junho do mesmo ano, o golpe parlamentar de 2016, as eleições presidenciais de 2018 e 2022 e, os ataques golpistas de janeiro de 2023, vivemos em um cenário de ataques constantes às instituições democráticas e à celebração pública da violência do regime autoritário. Diante disso, esta proposta busca analisar como a palavra inscrita e o traço gráfico interferem na forma como as subjetividades dos sujeitos históricos são abordadas e como elabora o tempo histórico, confrontando, no silêncio da linguagem, o horror, o trágico, o indizível, na tentativa de apreender algo do ocorrido. Considerando o conceito de uma escrita do desastre de Blanchot (2016), que envolve a compreensão dos processos de testemunho por meio de uma escrita constituída a partir da espectralidade e dos vestígios de vozes ausentes, a análise se concentra no encontro da imagem com a escrita em filmes como Nossa Histórias (Angela Zoé, 2014), Em Busca de Iara (Flavio Frederico, 2014) Retratos de identificação (2014), Rogério Duarte: o tropikaoslista (José Walter Lima, 2016), Construindo Pontes (Heloisa Passos, 2017), Codinome Clemente (Isa Albuquerque, 2017), Fico te devendo uma carta sobre o Brasil (2019) e Apiyemiyekî? (2020). Produções que se propõem a revisitar o passado, assimilando as rupturas históricas, por meio de determinadas escolhas estéticas, entre elas, a recorrência gráfica. São postas em cena trajetórias interrompidas, testemunhos de sobrevivência, memórias pessoais e históricas, sobrepostas ao presente, através de operações temporais no interior da imagem, alinhavando e atualizando uma crítica social e política ao país. Nesse sentido é possível contemplar como as inscrições no interior da imagem, enquanto recurso narrativo, revelam o conhecimento do passado e como engendram novas visualidades históricas e temporais.
Bibliografia
- BADIOU, Alain. Pequeno Manual de Inestética. São Paulo, Estação Liberdade, 2002.
BLANCHOT, M. A escritura do Desastre. São Paulo: Lumme Editora, 2016.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. 3a ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011.
RICOEUR, Paul. Tempo e Narrativa. A configuração do tempo na narrativa de ficção. São Paulo: Martins Fontes, 2010
ROWLAND, Clara. A Escrita no Cinema: ensaios. Lisboa: Documenta,
2015
________. Falso Movimento: ensaios sobre escrita e cinema. Lisboa:Cotovia, 2016.
SELIGMANN-SILVA, Márcio. Testemunho, Catástrofe e Historiografia: Entrevista Com Márcio Seligmann-Silva. (Entrevista concedida a) Sabrina Costa Braga. Revista de Teoria da História. Universidade Federal de Goiás Volume 19, Número 1, Junho/2018 p.297-304
SOARES, Luiz Eduardo. O Brasil e seu Duplo. São Paulo: Todavia. 2019.