Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Damyler Ferreira Cunha (UFS)

Minicurrículo

    Mestre e doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA/USP. Atualmente é docente do curso de Cinema e Audiovisual, vinculado ao Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Sergipe. Ministra as disciplinas de Produção Audiovisual e Produção Sonora, é coordenadora adjunta do projeto de pesquisa Caminhar na cidade como prática estética, vinculado ao grupo de pesquisa Territórios Urbanos/CNPQ.

Ficha do Trabalho

Título

    Estilos sonoros no cinema brasileiro contemporâneo

Seminário

    Estilo e som no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Existe um estilo sonoro do cinema brasileiro contemporâneo? Quais os tipos de expressividades sonoras são mais preponderantes nos filmes brasileiros realizados recentemente?
    Observamos, a partir da análise das trilhas sonoras de Carro Rei, Mato Seco em Chamas, Temporada e Baronesa, que algumas estratégias de uso da música, dos efeitos sonoros e dos sons ambientes se repetem.

Resumo expandido

    Nesta apresentação nos detemos sobre a relação entre música, som e imagem, a partir das indagações sobre a existência de estilos sonoros na cinematografia brasileira contemporânea. Pretende-se apontar repetições de estilos na organização dos sons em trilhas sonoras de filmes brasileiros, e discutir se sua falta de constância é o que mais o caracteriza. No cinema contemporâneo brasileiro são produzidas trilhas sonoras inovadoras, ou existe uma textura, uma sonoridade que as caracteriza?
    A partir dessas perguntas podemos traçar um caminho para pensar as práticas sonoras e musicais realizadas em filmes nacionais contemporâneos, ao mesmo tempo em que se somam como novos elementos para a problematização e a fragmentação da definição de estilo sonoro como categoria cinematográfica. Nessa perspectiva, os textos publicados no livro Pós-produção de som no audiovisual brasileiro (2019), organizado pelo pesquisador Rodrigo Carreiro destacam algumas dessas transformações relacionadas as novas tendências de estilo, como por exemplo, o uso cada vez menor de música tradicional, melódica e harmônica substituídas por drones, harmônicos e ambiências digitais.
    Nos filmes analisados, outras questões também aparecem como movimentos constantes de criação. Em comum, temos filmes que são considerados ficções de caráter documental ou documentários dramatizados, à exceção de Carro Rei (2022), de Renata Pinheiro, uma ficção cyber-punk-experimental e distópica. Há também uma temática geral presente que é o cotidiano das mulheres na periferia das grandes cidades brasileiras.
    Em Baronesa (2017), de Juliana Antunes e Temporada (2018), dirigido por André Novais, podemos perceber uma presença constante de planos fechados, que emolduram nosso olhar, além da proliferação de diálogos fora-de-campo. Nestes dois filmes há pouca interferência de efeitos sonoros e músicas extra-diegéticas e, quando aparecem são presenças sutis. As músicas diegéticas de Baronesa enfatizam o cotidiano das personagens, se concentrando no gênero de funk e rap. Em Temporada, existe a repetição de uma música extradiegética nomeada como “música divertida” nos créditos, um tema de clarinete suave e onírico, para pontuar pequenas mudanças no cotidiano da personagem principal Juliana (Grace Passô), como um corte de cabelo ou ainda para fabular sobre os fumacês de combate a dengue, outro som constante na paisagem sonora do filme.
    Mato Seco em Chamas (2022), de Joana Pimenta e Adirley Queirós, também poderia ser considerado uma ficção cyber-punk-experimental, caso não flertasse com procedimentos de caráter documental, o que é também exposto diretamente pelos narradores e personagens do filme. Apresenta como temática o cotidiano de duas mulheres da periferia no entorno de Brasília e assim, como Carro Rei traz sons das sucatas e das entranhas do interior do país. Nestes dois filmes, o conflito máquinas (motos, carros e gambiarras para extrair petróleo) versus humanidade é a tônica que contamina a narrativa e suas trilhas sonoras que, apresentam uma grande presença de efeitos sonoros e sons foley que se misturam as ambiências digitais e drones.
    Nestes filmes, os espaços sonoros surgem ora cheios, densos, com a presença de ambiências digitais e drones, mas também podem ser contrapostos por espaços vazios, com menos processamento de som e que fornecem tempo ao espectador para contemplar as sutilezas e o silêncio.

Bibliografia

    CARREIRO, Rodrigo (Org.). Pós-produção de som no audiovisual brasileiro (2019). Parahyba: Marca de Fantasia Editora. 236p.

    IKEDA, Marcelo. “Silêncios e paisagens sonoras no cinema brasileiro”. Cambiassú [Edição Eletrônica]: Estudos em Comunicação. UFMA: São Luís, n.10, jan./jun. 2012.

    MIRANDA, Suzana Reck. “Música, Cinema e os desafios teóricos interdisciplinares”. Estilo e Som no Audiovisual [recurso eletrônico]. Org. Debora Opolski, Filipe Beltrão, Rodrigo Carreiro. São Paulo: SOCINE, 2019. P.247-268.