Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Paulo Cunha (UBI)

Minicurrículo

    Paulo Cunha é professor auxiliar na Universidade da Beira Interior, onde coordena a Licenciatura em Cinema e é Vice-presidente do Departamento de Artes. Doutor em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra e investigador integrado no LabCom – Comunicação e Artes. Tem publicado sobre cinemas pós-coloniais, modos de produção, crítica de cinema, entre outros. É um dos coordenadores do GT Cinema Pós-coloniais e Periféricos da AIM.

Ficha do Trabalho

Título

    Pós-memória e trauma colonial na trilogia da memória de Inadelso Cossa

Seminário

    Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas

Formato

    Presencial

Resumo

    O objetivo desta proposta é fazer uma leitura transversal de três obras do cineasta moçambicano Inadelso Cossa (Xilunguine, A terra prometida, 2011; Uma memória quieta, 2014; Uma memória em três atos, 2017) a partir das abordagens trabalhadas nos estudos acerca da pós-memória (Hirsch) e do trauma (Andermahr, Kilomba), procurando compreender as complexas relações entre indivíduos, comunidades e as memórias individuais e colectivas do colonialismo e da luta anti-colonial.

Resumo expandido

    Nascido em 1984, Inadelso Cossa é o cineasta moçambicano mais destacado da gerações pós-independência. Presença regular em festivais de cinema internacionais, da Berlinale (Alemanha) ao IDFA (Países Baixos) e Cinéma du Reel (França), passando por Zanzibar (Tanzânia), Durban (África do Sul) ou Recife (Brasil). Na sua obra fílmica, destaca-se a “trilogia da memória” (“Xilunguine, A terra prometida”, 2011; “Uma memória quieta”, 2014; “Uma memória em três atos”, 2017), um conjunto de três obras documentais que, segundo o próprio cineasta, procuram recuperar e fixar testemunhos sobre a violência e o trauma colonial no processo de independência de Moçambique. Através dispositivo cinematográfico documental, Cossa propõe uma reflexão sobre a necessidade de reconstruir a memória colectiva no período actual, tendo em vista as gerações (como a sua) que nasceram após a independência e as gerações seguintes, criando bases de dados alternativas â historiografia oficial.
    Em “Xilunguine, A terra prometida”, Cossa segue os “Tsongas” no seu processo de mudança de sua terra de origem para a ex-Lourenço Marques (Xilunguine), abandonando os seus rebanhos para se integrarem na grande cidade, mas que tlevam consigo a linguagem, costumes e crenças para a nova terra. Em “Memória quieta”, Cossa revisita Kula, o local onde os ex-prisioneiros políticos capturados pela polícia secreta portuguesa (PIDE) foram interrogados e brutalmente torturados, forçados a revelar sua conexão e fornecer informações sobre o movimento de libertação em Moçambique, nos anos 60. Finalmente, em “Uma Memória em Três Actos”, Cossa aborda a grande ferida na memória coletiva do país na actualidade, o trauma pós-colonial e a perda de memória coletiva.
    O papel do trauma nas memórias e discursos coletivos e na formação de identidades tem vindo a ser crescentemente reconhecida e valorizada nos estudos fílmicos, em particular nos contextos pós-colonial, interseccional e ecocrítico. O objetivo desta proposta é fazer uma leitura transversal de três obras do cineasta moçambicano Inadelso Cossa a partir das abordagens trabalhadas nos estudos acerca da pós-memória (Hirsch) e do trauma (Andermahr, Kilomba), procurando compreender as complexas relações entre indivíduos, comunidades e as memórias individuais e colectivas do colonialismo e da luta anti-colonial, e o processo de reconstrução de memórias de tortura e de uma “possível reconciliação” como tratamento para o trauma pós-tortura.

Bibliografia

    Andermahr, Sonya (2015). “Decolonizing Trauma Studies: Trauma and Postcolonialism”. Humanities, 4(4), 500-505.
    Hirsch, Marianne (2012). The Generation of Postmemory: Writing and Visual Culture After the Holocaust. Nova Iorque: Columbia UP.
    Hodgin, Nick & Thakkar, Amit (ed.) (2017). Scars and Wounds: Film and Legacies of Trauma. Londres: Palgrave Macmillan.
    Jager, Benedikt & Hobuß, Steffi (ed.) (2017). (Post)Colonial Histories – Trauma, Memory and Reconciliation in the Context of Angolan Civil War. Bielefeld: transcript.
    Khanna, Ranjana (2003). Dark Continents: Psychoanalysis and Colonialism. Durham/ Londres: Duke UP.
    Kilomba, Grada (2019). Memórias da Plantação. Episódios de Racismo Quotidiano. Lisboa: Orfeu Negro.
    Shrbaji, Sarah (2021). “A critical review on A memory in three acts: on Susan Sontag’s, Guy Debord’s, and David Harvey’s visualizations of history and time in the context of the other”. Vista
    N.º 7, Janeiro – junho.