Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Notariano Belizário (UFSCar/ PPGIS)

Minicurrículo

    Pedro Belizário é roteirista e mestrando do Programa de Pós Graduação em Imagem e Som (UFSCar) com estudos acerca do formato, estrutura narrativa e gênero das séries brasileiras da Globoplay e Netflix. Participa do Grupo de Pesquisa em Mídias Interativas (GEMInIS), onde realizou a Iniciação Científica: “TV Quase”- uma alternativa de produção no ambiente transmídia (2019). Também trabalhou como roteirista do documentário “Quarta Tem Batalha!” (2018) e do documentário “Da Grade Pra Cá” (2020).

Ficha do Trabalho

Título

    O Melodrama de Aruanas: Transformações e Reiterações

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Essa apresentação se propõe a analisar as transformações e reiterações do melodrama quando transposto para o formato de séries complexas, buscando compreender como as tradicionais simplificações estruturais do gênero se comportam perante a complexidade narrativa das ficções seriadas. Para isso, foi selecionada como objeto de análise a primeira temporada da série “Aruanas” (Original Globoplay, 2019) que demonstra algumas inovações estruturais em relação ao melodrama clássico.

Resumo expandido

    Este trabalho irá analisar a série “Aruanas” (Original Globoplay, 2019) como parte da ficção seriada brasileira que “acompanha um movimento de desterritorialização da produção e do consumo sob a condição de combinar o melodrama e os traços identificadores das narrativas nacionais às novas possibilidades tecnológicas” (LOPES, LEMOS, 2020, p. 114). Dessa forma, plataformas de streaming como a Globoplay fazem com que as narrativas melodramáticas, as quais possuem grande identificação com o público brasileiro, sejam reconfiguradas em novos formatos de series complexas (MITTEL, 2015). Nesse sentido, Aruanas possui formações estruturais que se apropriam de diversas características das matrizes melodramáticas, ao mesmo tempo em que a transposição do melodrama para novos formatos de séries produzidas para o streaming tem como consequência a reformulação de algumas de suas características.
    Aruanas é uma série com uma temática de ativismo socioambiental, com arco principal voltado para causas ambientais e a proteção da floresta amazônica. A primeira temporada percorre as investigações de um grupo de ambientalistas sobre o garimpo ilegal, desmatamento da floresta e contaminação das águas dos rios provocados por uma empresa de mineração em Cari (AM). Mas, além disso, outras temáticas sociais como a prostituição infantil, precariedade do trabalho e massacre de povos indígenas também compõem alguns de seus subtemas. Por isso, Aruanas pode ser entendida como uma série com imbricações de gêneros como o drama social, investigativo e suspense.
    Com essa mistura de gêneros “o melodrama tem seu sentido expandido, passando a integrar séries e outros formatos que trazem possibilidades mais fluidas de identificação” (LOPES, LEMOS, 2020, p. 110). Nesse sentido, busca-se investigar de que maneira Aruanas se apropria ou transforma as características do melodrama. Em relação à tradição das matrizes melodramáticas, será abordada a polarização entre bem e mal (HUPPES, 2000), a manutenção do didatismo e da ação pedagógica, além do caráter moralizante da trama (BROOKS, 1995).
    Outra característica comumente associada ao melodrama são seus personagens sem ambivalências, contradições ou dimensões, agindo de maneira unidirecional. No entanto, o formato das séries complexas pressupõe a existência de personagens complexos: “Os personagens, portanto, precisam ter diversas camadas, que vão sendo reveladas aos poucos durante a série. Para gerar histórias, eles também possuem conflitos em diversos níveis” (CANTORE, PAIVA, 2021; p. 102). Por isso, ao se transpor o melodrama para o formato de séries complexas como Aruanas, percebe-se a construção de personagens com conflitos internos, contradições e ambivalências que será abordado como um caráter de transformação das matrizes melodramáticas.
    Também associado ao melodrama é sua estrutura narrativa inverossímil que abandona a lógica linear dos acontecimentos. “Como as situações dramáticas não são complexas e não há apreço pela unidade dramática, os personagens são apenas veículos da expressão moral, antenas de concentração da emoção do espectador”. (SARAIVA, CANNITO, 2004, p. 87). Esse exagero da trama geralmente é visto por parte dos estudos de roteiro como uma falha estrutural da narrativa, já que “o poder de um evento só pode ser tão grande quanto à soma total de suas causas. Nós sentimos que a cena é melodramática se não conseguirmos acreditar que a motivação equivale à ação” (MCKEE, 2011, p. 346).
    Por isso, as análises apontam para uma transformação de Aruanas em relação as matrizes melodramáticas, no uso positivo dessa inverossimilhança da trama, exagero nas complicações e coincidências implausíveis – organizadas de maneira a gerar respostas emocionais das personagens ao invés de respeitar uma lógica dos acontecimentos – de forma a potencializar uma complexidade narrativa estruturada nas “Razões afetivas” (MAJITHIA, 2015).

Bibliografia

    BROOKS, Peter. The melodramatic imagination. U.S.: Yale University Press, 1995.
    CANTORE, Jaqueline; PAIVA, Marcelo Rubens. Séries: de onde vieram e como são feitas. Ed. Objetiva, 2021.
    HUPPES, Ivete. Melodrama: o gênero e sua permanência. Ateliê Editorial, 2000.
    LOPES, Maria Immacolata Vassalo; LEMOS, Lígia Prezia. Brasil: tempo de streaming brasileiro. In: O melodrama em tempos de streaming. Porto Alegre, Sulina, 2020.
    MAJITHIA, S. Rethinking Postcolonial Melodrama and Affect. Modern Drama, v. 58, n. 1, 2015.
    MASSAROLO, João. Aruanas: inovação e criatividade em tempos de pandemia de Covid-19. Obitel Brasil, 2021.
    MCKEE, Robert. Story: substância, estrutura, estilo e os princípios da escrita de roteiro. Arte e letra, 2011.
    MITTELL, J. Complex TV. New York University Press, 2015.
    SARAIVA, Leandro; CANNITO, Newton. Manual de roteiro: ou Manuel, o primo pobre dos manuais de cinema e TV. Conrad livros, 2004.