Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Roseane Monteiro Virginio (UFSC)

Minicurrículo

    Roseane Monteiro Virginio é especialista em Ensino de História (Ufal), mestra em História (Ufal). É doutoranda do PPGH/UFSC e bolsista do CNPQ. É integrante do NEHCINE/UFSC e do GPDIN/UFAL/CNPQ.

Coautor

    Naiara Leonardo Araujo (UFSC)

Ficha do Trabalho

Título

    Fôlego Vivo (2021) e o cinema indígenas como narrativa de si

Formato

    Presencial

Resumo

    Neste artigo refletimos como, por meio da produção cinematográfica Fôlego Vivo (2021) e da análise de suas imagens, o povo kariri constrói espaços de resistência, memórias e narrativas de si. O curta documental performático, produzido em coletivo e assinado por Juma Jandaia, se apresenta como um cinema contra-hegemônico uma vez que foi produzido, dirigido e atuado pelo povo kariri. Assim, traçamos um percurso de análise das imagens fílmicas confrontando-as com seu contexto sócio-político.

Resumo expandido

    O presente artigo busca refletir como, por meio da produção cinematográfica Fôlego Vivo (2021), de Juma Jandaia e da análise de suas imagens, o povo kariri constrói espaços de resistência, memórias e narrativas de si. Fôlego Vivo é um curta documental e performático produzido em coletivo pela Associação dos Índios Cariris do Poço Dantas-Umari ( habitantes da Chapada do Araripe, zona rural do município de Crato, distante aproximadamente 503 km da capital Fortaleza), que se utiliza de um cinema contra-hegemônico, fora do circuito de salas comerciais de exibição, ou seja, são produções fílmicas que circulam em festivais, mostras e/ou disponíveis no Vimeo e no Youtube. Estamos falando, portanto, de um cinema indígena, em contraposição àquele cinema que fala sobre indígenas – que costumeiramente produziu estereótipos e alimentou no imaginário popular uma narrativa construída por décadas de que se tratava de povos extintos. Essa virada de fato se dá quando os indígenas deixam de ser representados pelo o “outro” e passam a assumir a direção, o roteiro, a produção e a operação de câmera, vide o projeto no Brasil iniciado na década de 1980, o Vídeo nas Aldeias (ARAÚJO, 2015; NUNES, 2022). Essa formação em linguagem e técnicas de audiovisual apontam para uma nova forma de pensar, narrar e ver cinema. Sendo assim, os indígenas têm o controle de sua perspectiva para se representar como protagonistas de suas histórias, de suas cosmogonias e visões de mundo (SCHULER; ZEA, 2017), mas também como campo de conflitos, no qual o audiovisual se constitui como importante ferramenta. Nesse sentido, Juma Jandaia e o coletivo manipulam as tecnologias a seu favor e subverte o lugar do indígena na sociedade, ainda que a tensão se apresente em várias sequências. Por exemplo, o povo kariri, ao caminhar pela cidade, causa ao mesmo tempo desconforto e surpresa, tanto por estarem naquele espaço (existindo) quanto pela maneira que se apresentam. É nesse campo de disputa de imagens, narrativas e de representações que o embate se apresenta, em Fôlego Vivo, através da invasão de seu território para a transposição do rio São Francisco. Pois assim como Ailton Krenak (2019) afirma – ao mesmo tempo que critica na sociedade capitalista -, o filme produz imagens na qual os povos originários não conseguem se enxergar separados de suas terras – a destruição de suas paisagens são sentidas como a destruição de si próprio. Assim, no presente artigo traçamos um percurso de análise das imagens fílmicas para, em seguida, confrontá-las com o contexto sócio-político, que se apresenta na narrativa e fora dela.

    Palavras-chaves: cinema indígena; kariri; documentário.

Bibliografia

    ARAÚJO, Juliano José de. Cineastas indígenas, documentário e autoetnografia : um estudo do projeto Vídeo nas Aldeias. Campinas, São Paulo, 2015. 270f.: Tese (Pós-graduação em Multimeios) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2015.

    KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1° ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

    NUNES, Karliane Macedo. (R)existir com imagens: considerações sobre a produção audiovisual indígena no Brasil. Brasiliana – Journal for Brazilian Studies. Vol. 5, n.1, p. 318-343, maio. 2022 . ISSN 2245-4373. 2022. Disponível em: https://tidsskrift.dk/bras/article/view/23121/177813 Acesso em 19 de abril.

    SCHULER, Evelyn; ZEA, Alfred. Tratado del tener que ver. In: BOREA, Giuliana. Arte y antropología : estudios, encuentros y nuevos horizontes. 1º ed. Lima: Pontificia Universidad Católica del Perú, Fondo Editorial, 2017.