Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Lúcia Ramos Monteiro (UFF)

Minicurrículo

    Lúcia Ramos Monteiro é professora adjunta do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-Graduação em Cinema (PPGCine) da Universidade Federal Fluminense. Fez doutorado em estudos cinematográficos na Sorbonne Nouvelle Paris 3 e na Universidade de São Paulo. Realizou pós-doutorado na Escola de Comunicações e Artes da USP e na Universidade de Grenoble Alpes. Dentre as publicações coletivas que co-organizou estão os livros Cinema: estética, política e dimensões da memória (Sulina, 2019).

Ficha do Trabalho

Título

    A cena da escrita e a escrita da cena

Seminário

    Cinema Comparado

Formato

    Presencial

Resumo

    A partir da análise de sequências de filmes em que roteiristas e escritores aparecem trabalhando, pretendo interrogar as condições materiais da escrita – quem escreve, como escreve, onde escreve. Na comparação entre diferentes cenas de escrita, questões ligadas a gênero, classe e raça se evidenciam, dando corpo a constatações exploradas por Virginia Woolf em “Um teto todo seu”. A proposta se associa aos exercícios de observação como base para a escrita da cena de roteiros audiovisuais.

Resumo expandido

    A partir da análise de sequências de filmes em que roteiristas e escritores aparecem trabalhando, e também na análise de textos literários em que a ação da escrita aparece, instaurando uma passarela direta entre o ato de enunciação e o ato de visionamento/leitura, pretendo interrogar as condições materiais da escrita. Quem escreve? Como escreve? Onde escreve? De que modo as condições mais ou menos precárias de escrita refletem-se no teor do que se escreve?
    Na comparação entre diferentes cenas de escrita, questões ligadas a gênero, classe e raça se evidenciam, dando corpo a constatações exploradas por Virginia Woolf em “Um teto todo seu”. A abordagem baseia-se em trabalhos sobre a literatura de criação (AMIGO PINO, 2004), caracterizada pela riqueza em cenas de escrita, descontinuidades e mise-en-abyme.
    Os títulos analisados pertencem a um conjunto de filmes bastante heterogêneo e ainda em construção, abrangendo de “Crepúsculo dos deuses” (1950), de Billy Wilder, a Là-bas (2006), de Chantal Akerman, passando por “Carolina” (2003), de Jeferson De, entre muitos outros exemplos.
    A escrita aparece como uma atividade frequentemente associada a espaços internos – e, no caso de escritoras e roteiristas mulheres, localizada sobretudo em ambientes domésticos, algo que aparece, por exemplo, no romance “Rostos na multidão”, de Valéria Luiselli, e que é teorizado no trabalho de Woolf (2014).
    Esta proposta faz parte de uma investigação atualmente em curso e que se acompanha de uma vertente mais prática, ligada a exercícios de escrita de cenas observação ao ar livre, que vem sendo desenvolvidos junto a grupos de alunos de diferentes origens. A intenção é de que a observação ao ar livre favoreça a elaboração de uma dramaturgia dos espaços, atenta a transformações da paisagem e ao valor documental do fundo cinematográfico (Bonamy, 2013), pilar para os cinemas modernos e que se torna ainda mais relevante nos tempos atuais, de crise planetária.

Bibliografia

    AMARAL, Carolina. “Confluências entre a cena e o gênero audiovisual”. Esferas, n. 21, 2021, https://portalrevistas.ucb.br/index.php/esf/issue/view/677/showToc.

    AMIGO PINO, Claudia. A Ficção da escrita. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.

    DURAS, Marguerite. Escrever. Belo Horizonte: Relicário, 2021.

    GINZBURG, Natalia. As pequenas virtudes, São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

    LUISELLI, Valeria. Rostos na multidão. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, Trad. Maria Alzira Brum.

    SCHULMANN, Clara. Cizânias. Belo Horizonte: Ayîné, 2022.

    WOLF, Virginia. Um teto todo seu. São Paulo: Companhia das Letras, 2014, Trad. Bia Nunes de Sousa.