Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Cláudia Cardoso Mesquita (UFMG)

Minicurrículo

    Cláudia Mesquita é professora do Departamento de Comunicação Social e do `Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFMG, onde integra os grupos de pesquisa Poéticas da Experiência e Poéticas Femininas, Políticas Feministas. Co-autora de “Filmar o Real – sobre o documentário brasileiro contemporâneo” (Zahar, 2008) e de “El otro cine de Eduardo Coutinho” (Cinememoria, Edoc, 2012), lançado no Equador.

Ficha do Trabalho

Título

    Mulheres de luta – a família de Elizabeth Teixeira

Mesa

    Mulheres no cinema de Eduardo Coutinho

Formato

    Presencial

Resumo

    abeth Teixeira é, provavelmente, a principal personagem do cinema de Coutinho. Militante das Ligas Camponesas, seu protagonismo foi elaborado em Cabra Marcado para Morrer (1984). O exílio forçado a separou brutalmente de dez de seus filhos, durante 17 anos. Propomos abordar as aparições fílmicas de suas filhas e netas, de modo a examinar como, nas histórias dessas mulheres de outras gerações, as opressões patriarcais sofridas por Elizabeth se atualizam, mas também suas lutas e resistências.

Resumo expandido

    Em 2013, quando preparava extras para o DVD de Cabra Marcado para Morrer, Eduardo Coutinho reencontrou Elizabeth Teixeira e algumas de suas filhas, filhos e netos. Mediados pela câmera, no Rio e na Paraíba, esses reencontros com personagens de Cabra compõem o documentário A família de Elizabeth Teixeira, lançado 30 anos depois do primeiro filme. O extra, assim, “estende o arco do cinema-processo de Coutinho” (MESQUITA, 2014, p.215), reabrindo a história e sondando aquele “futuro (hoje presente) que voltava a ser possível (para Elizabeth, para Coutinho, para o país), no limiar da redemocratização” (p.216).

    Quando escrevi sobre A família de Elizabeth Teixeira (“A história reaberta”), em 2014, estava especialmente interessada em discutir a processualidade do cinema de Coutinho. Afinal, o extra do DVD, articulado a Cabra Marcado, inscreve 50 anos de história, reunindo registros de Elizabeth e da família em diferentes momentos e formatos (das fotografias de 1962, em que Elizabeth figura ao lado de filhas e filhos – adolescentes e crianças -, poucos dias após o assassinato de João Pedro Teixeira, até as imagens feitas por Coutinho em 2013). Nos reencontros do diretor com Marta e Marinês, contudo, eu já notava o que hoje motiva nosso retorno aos filmes: as filhas de Elizabeth se somavam à extraordinária galeria de personagens femininas do cinema de Coutinho, a começar por sua mãe: “mulheres que passaram por toda sorte de adversidade, experiências de perda, travessia e superação, sem sucumbir nem mergulhar no pântano do ressentimento” (2014, p.225).

    Tendo nos dedicado em outra ocasião ao protagonismo de Elizabeth (“A ferida que começou a se abrir para nunca mais fechar – Elizabeth Teixeira, militância e maternidade no redemoinho da história”), propomos agora abordar as aparições de suas filhas e netas na filmografia de Coutinho, de modo a examinar se (e como), nas histórias dessas mulheres de outras gerações, as opressões patriarcais sofridas por Elizabeth se atualizam, mas também suas lutas e resistências. Tendo substituído o marido na liderança da Liga Camponesa de Sapé, e sendo forçada ao exílio e à clandestinidade pelo golpe militar, “para não ser exterminada”, Elizabeth viveu 17 anos separada das filhas e filhos que teve com João Pedro (à exceção de Carlos). Essa separação, e a maternidade brutalmente interrompida, lhe doeram “como uma ferida aberta” (ROCHA, 2009).

    Quando Coutinho filmou Marinês, filha caçula de Elizabeth e João Pedro, em 1981/82, ela ainda não tinha 20 anos, e já carregava um filho nos braços. Histórias de maternidade, separação, abandono e morte pontuam seu relato em 2013, assim como o de sua irmã Marta, quando o diretor as reencontra em Ramos. Com talento e desenvoltura, elas narram episódios de suas vidas. Marinês, por exemplo, conta como o avô a expulsou de casa, ainda criança, por ter se banhado em um açude com primas e primos. Os retratos complexos e multifacetados de Marinês e Marta nos convidam a abordá-las de uma perspectiva feminista, em conexão com a história de sua mãe.

    Também nos interessa abordar a experiência das netas de Elizabeth. Emocionam as maneiras como a nova geração busca se identificar com as figuras combativas da avó e do avô, em uma
    construção de si que tem em conta essas referências. O que faz pensar que, apesar do estilhaçamento da família, das separações e mortes trágicas, algo da experiência de luta de Elizabeth foi transmitido. É especialmente o caso de Juliana Elizabeth, que carrega o nome da avó, e que aparecia bebê em Cabra Marcado para Morrer (1984), no colo de sua mãe, Nevinha. Hoje historiadora, ela conta ter se interessado pela história das Ligas Camponesas, tema de sua monografia de graduação, através do filme (que assistiu na faculdade). Com ela, que se dedicava ao ensino de história no interior da Paraíba, Coutinho visitou em 2013 o pequeno memorial dedicado à memória das Ligas.

    Nossa apresentação se dedica à trama feminina de três gerações da família Teixeira.

Bibliografia

    BANDEIRA, Lourdes M., MIELE, Neide & SILVEIRA, Rosa M.G. Eu marcharei na tua luta – A vida de Elizabeth Teixeira. João Pessoa, Editora Universitária da UFPB/Manufactura, 2012.
    MESQUITA, Cláudia. A família de Elizabeth Teixeira: a história reaberta. In: Catálogo forumdoc.bh.2014. Belo Horizonte: Filmes de Quintal, 2014. p. 215-225.
    _________. A ferida que começou a se abrir para nunca mais fechar: Elizabeth Teixeira, militância e maternidade no redemoinho da história. In: Almeida, R, Souza, C, Medeiros, K. Cabra marcado para morrer. São Paulo: Galatea, FeUSP, 2023 (no prelo).
    ROCHA, Ayala. Elizabeth Teixeira: Mulher da Terra. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2009.