Ficha do Proponente
Proponente
- Alexandre Pfeiffer Fernandes (UFF)
Minicurrículo
- Alexandre Pfeiffer é pesquisador, professor, músico e compositor. É graduado e mestre em educação musical pela UFRJ e pós-graduado em trilha sonora pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. É doutorando no PPGCine/UFF, onde desenvolve uma pesquisa sobre a música orquestral no cinema brasileiro. Faz parte da diretoria da Musimagem Brasil (Associação de Compositores de Música para Audiovisual) e tem realizado trabalhos no âmbito do audiovisual e da música brasileira.
Ficha do Trabalho
Título
- Os primórdios da música orquestral no cinema brasileiro
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho tem como objetivo apresentar um breve histórico a respeito dos primórdios da música orquestral no cinema brasileiro, com enfoque no período compreendido entre as décadas de 1930 e 1960. Serão discutidas influências da música do cinema norte-americano nas produções brasileiras, bem como o desenvolvimento das trilhas musicais orquestrais nos filmes brasileiros produzidos nas décadas de 1930/1940 até a mudança estética que ocorreu durante o Cinema Novo.
Resumo expandido
- O diálogo entre a música erudita e a música feita para filmes parece ser constante quando observamos os diferentes momentos históricos da trilha musical para filmes. As inúmeras possibilidades de sonoridades que este tipo de instrumentação pode proporcionar acabaram sendo aproveitadas de maneira recorrente no âmbito audiovisual.
Para compreendermos melhor de que forma a música orquestral ganhou espaço no cinema brasileiro, é importante considerarmos primeiro certas influências que vieram dos primórdios da música para filmes no cinema norte-americano. Segundo Matos (2014), devido aos acontecimentos político-sociais que aconteciam na década de 1930, compositores europeus como Max Steiner e Erich Korngold que tinham experiência em música para balé e ópera imigraram para os EUA, fato que ajudou a popularizar a música sinfônica no contexto audiovisual, ou seja, “a textura sinfônica orquestral se tornou padrão na música para filmes” (MATOS, 2014, p.29).
Já nos primórdios da música para cinema no Brasil, podemos observar a influência desse estilo hollywoodiano, principalmente no contexto da música instrumental. Os filmes feitos na época do surgimento de produtoras como a Cinédia (1930), a Atlântida (1941) e a Vera Cruz (1949) tinham trilhas musicais que apresentavam grande influência da música popular. Muitas produções se utilizavam de sucessos do rádio e dos palcos de compositores e intérpretes como: Luiz Gonzaga, Ciro Monteiro e Dick Farney, produções estas que se assemelhavam a “musicais filmados” de acordo com Matos (2014). Segundo Máximo (2003), quando se tratava de filmes que necessitavam de música instrumental, os diretores recorriam aos arranjadores que trabalhavam nas rádios ou aos compositores eruditos para que compusessem a trilha musical dessas produções.
Entre as décadas de 1930 e 1960, compositores de renome fizeram contribuições importantes para a criação de uma identidade musical no cinema brasileiro: Léo Peracchi, Rogério Duprat, Radamés Gnatalli, Moacir Santos, Gabriel Migliori, Francisco Mignone, Lyrio Panicali, Enrico Simonetti, Guerra-Peixe, Camargo Guarnieri, Cláudio Santoro, Remo Usai, entre outros.
A partir da década de 60, autores como Berchmans (2006), Costa (2006), Guerrinni Jr. (2009) e Matos (2014) afirmam que, com o advento do Cinema Novo, a música orquestral foi perdendo espaço gradativamente no campo da trilha musical no Brasil, já que este movimento “apresentou propostas de rompimento gradativo com conceito clássico de se fazer música para cinema” (BERCHMANS, 2006, p.123). Mesmo em um contexto pouco favorável para a música orquestral original, o trabalho de um dos compositores mais prolíficos do cinema brasileiro ganhou destaque: o já citado Remo Usai. Remo foi responsável por explorar ainda mais a linguagem orquestral no cinema brasileiro, realizando trilhas musicais que aliavam a sensibilidade narrativa à excelência técnica, conseguindo “ao mesmo tempo um eficiente trabalho como músico e como “dramaturgo”, já que suas músicas atuam diretamente na construção do enredo” (EIKMEIER, 2010, p.7).
Mesmo tendo forte influência de elementos presentes na música de filmes norte-americanos (estudou na University of Southern California com o compositor Miklós Rózsa), Remo concebeu um encontro um tanto inovador para a época quando compôs a trilha musical de O assalto ao trem pagador (1962): instrumentos de percussão característicos do samba foram incorporados a uma orquestra tradicional. Diante do drama vivido pelo personagem principal do filme Tião Medonho nas favelas do Rio, tal escolha estética não poderia traduzir melhor os elementos emocionais e as desigualdades sociais contidas na trama. Por conta dessa estética inovadora, esta trilha é considerada por muitos como um marco no campo da música orquestral para o cinema no Brasil.
A partir deste breve histórico, é possível perceber como a música orquestral contribuiu de forma significativa para diversas produções cinematográficas desta época.
Bibliografia
- BERCHMANS, Tony. A música do filme: tudo o que você gostaria de saber sobre a música de cinema. São Paulo: Escrituras Editora, 2006.
COSTA, Fernando Morais da. O som no cinema brasileiro: revisão de uma importância indeferida. 2006. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense (UFF). Rio de Janeiro, 2006.
EIKMEIER, Martin. A música de Remo Usai no cinema brasileiro. Tese (Doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes. Campinas, SP, 2010.
GUERRINI Jr., Irineu. A música no cinema brasileiro: os inovadores anos sessenta. São Paulo: Terceira Margem, 2009.
MATOS, Eugênio. A arte de compor música para o cinema. Brasília: Editora Senac – DF, 2014.
MÁXIMO, João. A música do cinema: os 100 primeiros anos. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.