Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    TAINA XAVIER PEREIRA HUHOLD (UFF / ESPM)

Minicurrículo

    Doutoranda do PPGCine da UFF. PBacharel em Comunicação Social – Cinema pela UFF e mestre em Artes Visuais pela EBA/UFRJ. Atua na direção e produção de arte desde 1997 e no ensino de cinema e audiovisual desde 2014, lecionando atualmente na ESPM Rio. Assina a direção de arte de espetáculos teatrais, séries, curtas e longas-metragens, sendo “De pai prá filho”, (Paulo Halm, em finalização) o mais recente. Participou do produção de arte de programas da TV Globo, de 1998 a 2000. É mãe.

Ficha do Trabalho

Título

    Sensorialidades e direção de arte no cinema contemporâneo brasileiro

Seminário

    Estética e teoria da direção de arte audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    O interesse nas implicações sensoriais valoriza e estimula experiências afetivas através do cinema, concedendo relevância às materialidades do profílmico, operadas pela direção de arte. Buscamos identificar, na produção brasileira pós retomada, estratégias de direção de arte que produzam novas espaço-visualidades e colaborem com a criação de estilos, como as parcerias entre Marcos Pedroso e Karim Aïnouz e entre Renata Pinheiro e Cláudio Assis.

Resumo expandido

    As maneiras de pensar o cinema são influenciadas pelo que se produz neste campo e o influenciam criativamente, como vemos num certo cinema contemporâneo que se renova ao refletir sobre relações experienciais entre filme e público, intensificar as sensorialidades e dialogar com as artes contemporâneas. Nessas produções, o drama, a significação, a cena, em suma, aquilo que se estruturava na mise-en-scène clássica se esvai, sendo, em muitos casos substituído por dispositivos, através dos quais o cineasta “se torna um instalador de ambiências ou um provocador/intensificador de realidades” (OLIVEIRA JR, 2013, p. 138). Stéphane Bouquet, que cunhou o termo cinema de fluxo, para um regime onde as imagens parecem não ser mais contidas pela ideia de plano, reconhece David Lynch, David Cronenberg, Hou Hsiao-Hsien, Tsai Ming-Liang, Wong Kar-Wai, Abel Ferrara, entre outros, como cineastas-artistas. Em seus filmes o corpo é acionado por experiências sensíveis, que podem ocorrer em espaços não instituídos em bases pictóricas ou teatrais, mas instalativas.(BOUQUET, 2005 apud OLIVEIRA JR, 2013).
    Erly Vieira Jr. propõe a categoria de realismo sensório para um cinema onde a noção de realismo não se reduz a uma perspectiva mimética, sim à busca de “efeitos de real” onde se cria “uma experiência afetiva que envolva espectador e obra” (VIEIRA JR, 2020, p. 39). Tal disposição implica numa mudança de propósito da direção de arte, pois sua função deixa de buscar oferecer representações, ou seja, construir substitutos do mundo com lastros em um real externo à diegese, mas produzir espaço-visualidades capazes de colaborar com a fruição dos efeitos de real.
    Nesta nova relação da imagem com o mundo se restabelece uma força da materialidade, reprimida em outros regimes pela função de apoio ao drama e às ações dos personagens. A sensorialidade que essas obras propõem é capaz de trazer a materialidade do espaço para o primeiro plano, produzindo “alguma dose de tatilidade da imagem”, conforme Vieira Jr(2020). Para melhor estimular esta dimensão, a que Laura Marks (2000) denominou visualidade háptica, percebe-se em muitos filmes contemporâneos, a intensificação de uso de relevos e texturas, o trabalho com superfícies reflexivas e refrativas, os altos contrastes cromáticos, a incorporação cada vez maior de fontes luminosas no profílmico, em escolhas destinadas a oferecer à câmera subsídios para a intensificação sensorial da imagem.
    A consolidação profissional da direção de arte no Brasil remonta ao cinema pós retomada, e a um contexto produtivo que almejava marcadores de qualidade técnica e a conquista do público. O mercado cinematográfico se reestruturava em novas formas de financiamento e passou a dialogar com agentes privados em busca de investimento, graças à adoção de mecanismos de isenção tributária. Do ponto de vista da direção de arte, o contexto é marcado por visualidades impactantes de propósitos miméticos, sendo o campo mais um indicador de qualidade do cinema brasileiro, como se vê nas produções indicadas em categorias ao Oscar em fins da década de 1990: “O Quatrilho” (Fábio Barreto, 1995), “O que é isso companheiro?” (Bruno Barreto, 1997) e “Central do Brasil” (Walter Salles, 1998).
    Com a ampliação e a diversificação da produção, a experimentação volta a aparecer e estratégias empregadas por diretores de arte brasileiros exploram outras relações com o real. Por outro lado, a colaboração entre novos realizadores e diretores de arte consolida estilos marcantes, como se vê no trabalho de Marcos Pedroso em suas colaborações com Karin Aïnouz, desde “Madame Satã” (2002), ou no trabalho de Renata Pinheiro em suas colaborações com Cláudio Assis, desde “Texas Hotel” (1999). Do brilho dos paetês de Satã aos blocos de cores fechadas e desgastadas das paredes do hotel, a direção de arte brasileira vem intensificando sensorialidades na imagem e colaborando com a criação de novas visualidades do cinema brasileiro.

Bibliografia

    MARKS, Laura U. The skin of the film: Intercultural cinema, embodiment and the senses. Durham; London: Duke University Press, 2000.
    OLIVEIRA JR, Luiz Carlos. A mise en scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo. Campinas, SP: Papirus, 2013.
    VIEIRA JR, Erly. Realismo sensório no cinema contemporâneo. Vitória, ES: EDUFES, 2020.