Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Leonardo Esteves (PPGHIS/UFMT)

Minicurrículo

    Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso e docente do bacharelado em Cinema e Audiovisual na mesma instituição. Doutor em Comunicação Social pela PUC-Rio com estágio doutoral na Université Sorbonne Nouvelle (Paris 3). Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ficha do Trabalho

Título

    “Mixagem alta não salva burrice”: notas sobre duas cartas de Bressane

Seminário

    Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas

Formato

    Presencial

Resumo

    Entre Novembro de 1970 e Janeiro de 1971, um par de cartas escritas por Julio Bressane é publicado nos programas da Cinemateca do MAM, por ocasião da mostra “Novos rumos do cinema brasileiro”. Nelas, o diretor esmiúça a ruptura contra o Cinema Novo, formalizando críticas à industrialização encampadas pelos cinemanovistas. Faz também defesa da Belair, sua produtora criada em parceria com Rogério Sganzerla e Helena Ignez. A presente comunicação propõe uma análise sobre o conteúdo das cartas.

Resumo expandido

    A Belair Filmes foi uma produtora cinematográfica que esteve na ativa durante o primeiro semestre de 1970. Fruto da parceria entre Julio Bressane, Rogério Sganzerla e Helena Ignez, realizou longas-metragens provocadores, sempre com a atriz no elenco. Os títulos são: Copacabana mon amour, Sem essa, Aranha, Carnaval na lama (todos rodados por Sganzerla); A família do barulho, Barão Olavo, o horrível e Cuidado madame (filmados por Bressane); além de um suposto trabalho coletivo, contendo imagens de bastidores, intitulado A miss e o dinossauro, dado como perdido. Encerrada em poucos meses, a produtora se desfez com a partida de seus proponentes para a Europa, onde serão finalizados dois títulos da filmografia do grupo.

    No final daquele ano, a Cinemateca do MAM promove a mostra “Novos rumos do cinema brasileiro”, entre Novembro e Janeiro de 1971. Tentativa de reunir um conjunto emergente de títulos e realizadores que começa a se notabilizar e será mais tarde rotulado como marginal, nela se darão as primeiras exibições públicas no Brasil de duas obras da Belair, Barão Olavo e A família do barulho. Já em Londres, Bressane redige duas cartas que serão publicadas nos programas da Cinemateca, como acompanhamento ao anúncio das projeções na “Novos rumos”. A primeira surge no programa de nº 255, publicado em 13 de Novembro de 1970, acompanhando Barão Olavo, o horrível. A segunda carta consta no programa nº 25, de 29 de Janeiro de 1971, que relaciona a projeção de A família do barulho e do curta-metragem Meio dia (1970), de Helena Solberg.

    Parcialmente reproduzidas nos documentos tornados públicos pela Cinemateca, essas cartas documentam com precisão o estágio do discurso que não só justifica o surgimento (e encerramento) da Belair como também explica a intensidade do conflito deflagrado por ela contra o Cinema Novo. A intenção dessa comunicação é primeiramente apresentar as fontes e apontar os trechos ocultados na publicação a partir de outras versões do material encontradas e, até o momento, inéditas. O programa nº 25, de 29 de Janeiro de 1971, que reproduz a segunda carta de Bressane é, por si só um material de difícil acesso, uma vez que a própria Cinemateca do MAM não o possui depositado em seu acervo.

    A partir da apresentação dos conteúdos das cartas e das fontes, serão explorados dois aspectos salientados no texto: o protagonismo técnico como elemento crítico e defesa de um projeto de cinema brasileiro subdesenvolvido e antropofágico; e a influência de dois autores que fazem convergir o contexto nacional e outro, internacional, contrastando arte e política em um paralelo aparentemente improvável: Oswald de Andrade e Leon Trótski. Por fim, visa-se compreender esse par de escritos como uma documentação que detalha com intensidade alguns dos principais pontos que revelam o embate sobre a industrialização entre gerações do cinema moderno brasileiro, culminando com a propensão à vanguarda.

Bibliografia

    ANDRADE, Oswald. Manifesto antropófago e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

    AZEREDO, Ely. Matou a família e foi ao cinema. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15/16 mar. 1970. Caderno B, p. 4.

    BRESSANE, Julio. Fotodrama. Rio de Janeiro: Imago, 2005, p. 33.

    CAMPOS, Augusto de. Poesia, antipoesia, antropofagia & cia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

    CINEMATECA do MAM. Programa nº 25, Rio de Janeiro, 29 jan. 1971.

    CINEMATECA do MAM. Programa nº 255, Rio de Janeiro, 13 nov. 1970.

    IGNEZ, Helena; DRUMOND, Mario (orgs.). Tudo é Brasil: Projeto Rogério Sganzerla: fragmentos da obra literária. Joinville: Letradágua, 2005.

    RAMOS, Fernão. Cinema marginal: a representação em seu limite. São Paulo: Brasiliense, 1987.

    RETROSPECTIVA Julio Bressane: cinema inocente. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002.

    SCHWARTZ, Jorge. Vanguardas latino-americanas. São Paulo: EDUSP, 2008.

    TRÓTSKI, Leon. Literatura e revolução. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.