Ficha do Proponente
Proponente
- Leonardo Esteves (PPGHIS/UFMT)
Minicurrículo
- Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Mato Grosso e docente do bacharelado em Cinema e Audiovisual na mesma instituição. Doutor em Comunicação Social pela PUC-Rio com estágio doutoral na Université Sorbonne Nouvelle (Paris 3). Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ficha do Trabalho
Título
- “Mixagem alta não salva burrice”: notas sobre duas cartas de Bressane
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Entre Novembro de 1970 e Janeiro de 1971, um par de cartas escritas por Julio Bressane é publicado nos programas da Cinemateca do MAM, por ocasião da mostra “Novos rumos do cinema brasileiro”. Nelas, o diretor esmiúça a ruptura contra o Cinema Novo, formalizando críticas à industrialização encampadas pelos cinemanovistas. Faz também defesa da Belair, sua produtora criada em parceria com Rogério Sganzerla e Helena Ignez. A presente comunicação propõe uma análise sobre o conteúdo das cartas.
Resumo expandido
- A Belair Filmes foi uma produtora cinematográfica que esteve na ativa durante o primeiro semestre de 1970. Fruto da parceria entre Julio Bressane, Rogério Sganzerla e Helena Ignez, realizou longas-metragens provocadores, sempre com a atriz no elenco. Os títulos são: Copacabana mon amour, Sem essa, Aranha, Carnaval na lama (todos rodados por Sganzerla); A família do barulho, Barão Olavo, o horrível e Cuidado madame (filmados por Bressane); além de um suposto trabalho coletivo, contendo imagens de bastidores, intitulado A miss e o dinossauro, dado como perdido. Encerrada em poucos meses, a produtora se desfez com a partida de seus proponentes para a Europa, onde serão finalizados dois títulos da filmografia do grupo.
No final daquele ano, a Cinemateca do MAM promove a mostra “Novos rumos do cinema brasileiro”, entre Novembro e Janeiro de 1971. Tentativa de reunir um conjunto emergente de títulos e realizadores que começa a se notabilizar e será mais tarde rotulado como marginal, nela se darão as primeiras exibições públicas no Brasil de duas obras da Belair, Barão Olavo e A família do barulho. Já em Londres, Bressane redige duas cartas que serão publicadas nos programas da Cinemateca, como acompanhamento ao anúncio das projeções na “Novos rumos”. A primeira surge no programa de nº 255, publicado em 13 de Novembro de 1970, acompanhando Barão Olavo, o horrível. A segunda carta consta no programa nº 25, de 29 de Janeiro de 1971, que relaciona a projeção de A família do barulho e do curta-metragem Meio dia (1970), de Helena Solberg.
Parcialmente reproduzidas nos documentos tornados públicos pela Cinemateca, essas cartas documentam com precisão o estágio do discurso que não só justifica o surgimento (e encerramento) da Belair como também explica a intensidade do conflito deflagrado por ela contra o Cinema Novo. A intenção dessa comunicação é primeiramente apresentar as fontes e apontar os trechos ocultados na publicação a partir de outras versões do material encontradas e, até o momento, inéditas. O programa nº 25, de 29 de Janeiro de 1971, que reproduz a segunda carta de Bressane é, por si só um material de difícil acesso, uma vez que a própria Cinemateca do MAM não o possui depositado em seu acervo.
A partir da apresentação dos conteúdos das cartas e das fontes, serão explorados dois aspectos salientados no texto: o protagonismo técnico como elemento crítico e defesa de um projeto de cinema brasileiro subdesenvolvido e antropofágico; e a influência de dois autores que fazem convergir o contexto nacional e outro, internacional, contrastando arte e política em um paralelo aparentemente improvável: Oswald de Andrade e Leon Trótski. Por fim, visa-se compreender esse par de escritos como uma documentação que detalha com intensidade alguns dos principais pontos que revelam o embate sobre a industrialização entre gerações do cinema moderno brasileiro, culminando com a propensão à vanguarda.
Bibliografia
- ANDRADE, Oswald. Manifesto antropófago e outros textos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
AZEREDO, Ely. Matou a família e foi ao cinema. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 15/16 mar. 1970. Caderno B, p. 4.
BRESSANE, Julio. Fotodrama. Rio de Janeiro: Imago, 2005, p. 33.
CAMPOS, Augusto de. Poesia, antipoesia, antropofagia & cia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
CINEMATECA do MAM. Programa nº 25, Rio de Janeiro, 29 jan. 1971.
CINEMATECA do MAM. Programa nº 255, Rio de Janeiro, 13 nov. 1970.
IGNEZ, Helena; DRUMOND, Mario (orgs.). Tudo é Brasil: Projeto Rogério Sganzerla: fragmentos da obra literária. Joinville: Letradágua, 2005.
RAMOS, Fernão. Cinema marginal: a representação em seu limite. São Paulo: Brasiliense, 1987.
RETROSPECTIVA Julio Bressane: cinema inocente. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002.
SCHWARTZ, Jorge. Vanguardas latino-americanas. São Paulo: EDUSP, 2008.
TRÓTSKI, Leon. Literatura e revolução. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.