Ficha do Proponente
Proponente
- Gabriel Philippini Ferreira Borges da Silva (Unespar)
Minicurrículo
- Gabriel Philippini Ferreira Borges da Silva é bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) – Campus de Curitiba II, mestrando do Programa de Pós-Graduação/Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo (PPG-CINEAV) da Unespar, vinculado à linha de pesquisa: Processos de Criação no Cinema e nas Artes do Vídeo, membro do Grupo de Pesquisa CineCriare/ Cinema: criação e reflexão (Unespar/PPG-CINEAV/CNPq) e atua como curador e montador cinematográfico.
Ficha do Trabalho
Título
- Conversas em busca de autenticidade: som direto em Muito Prazer (1979)
Formato
- Presencial
Resumo
- Muito Prazer (1979), por vezes, desvia-se de sua trama para registrar conversas prosaicas entre seus personagens. Nesta comunicação, exploramos a captação dos diálogos no longa-metragem, analisando uma cena à luz dos estudos de Garcia e Opolski e das reflexões do crítico-cineasta e diretor do filme, David Neves, em seus textos. Dessa forma, buscamos discutir como os diálogos, captados com som direto, parecem conferir ao filme certa autenticidade e “impressão de realidade” brasileira.
Resumo expandido
- “Muito Prazer” (1979, dir.: David Neves) é um exemplo raro de “filme conversado brasileiro” nos anos 80. Ao longo do longa-metragem, chama a atenção a maneira como os cineastas priorizam o registro das conversas mais cotidianas e prosaicas entre seus personagens, em detrimento ao desenvolvimento narrativo do filme. A captação da espontaneidade dos atores, dos sotaques, dos trejeitos e da “autenticidade” da cena é o que interessa aos cineastas. “Muito Prazer” é, como contam os relatos de produção, uma ficção filmada segundo técnicas de cinema direto, com filmagens em película 16mm de uma câmera livre e ágil e, particularmente, com a captação de som direto. É pelo interesse por este último que partimos à esta comunicação.
Neste trabalho, buscamos explorar a abordagem e captação dos diálogos no filme, analisando uma cena específica à luz dos estudos sobre filmes de conversação de Alexandre Rafael Garcia (2022), dos estudos sobre o diálogo cinematográfico como elemento sonoro de Débora Opolski (2021), das reflexões do próprio crítico-cineasta David Neves em seus textos e de breve panorama acerca do problema do “problema do diálogo cinematográfico” no Brasil (GOMES, 2016).
Tendo em vista o interesse por estudar justamente a sonoridade dos diálogos, como ferramenta de análise, utilizamos, entre outras, de análise espectral da cena para compreender como as falas dos personagens são registradas no filme. A análise do espectrograma nos permite examinar a frequência e intensidade dos sons no determinado momento do filme e, desta forma, pode nos ajudar a identificar padrões sonoros do estilo cinematográfico de “Muito Prazer”.
Partimos também da análise fílmica da cena e do estudo de entrevistas e diários de gravação do filme deixados por Neves e seus colegas de realização, reunidos em catálogo de mostra (BRITO, FERREIRA, 2015) e livros autorais (NEVES, 1993; NEVES, 2004), e de trabalhos e críticas já realizados sobre “Muito Prazer” para confrontar diretamente o estilo empregado na captação dos diálogos do filme.
Considerando a busca de David Neves por uma “almejada autenticidade” (NEVES, 1993, p. 34), sua crença no poder da representação do “Brasil e de sua gente” (NEVES, 2004) por meio da fala em português nos filmes, e tendo ainda em vista os relatos da produção de Muito Prazer deixados tanto pelo roteirista Joaquim Vaz de Carvalho, como pelo produtor Carlos Moletta e pelo diretor de fotografia Jom Tob Azulay, analisamos como a captação dos diálogos dos personagens em som direto, assim como a escrita de falas cotidianas, são empregados na busca por captar a espontaneidade dos “sotaques, dialetos e variações de formas da fala do português brasileiro” (OPOLSKI, 2021, p. 79) e criar uma atmosfera naturalista, “familiar” e “íntima” que aproxima o espectador da experiência vivida pelos personagens.
Por fim, destacamos o caráter singular de Muito Prazer como um filme em que as conversas entre os personagens têm destaque principal e não somente acessório à narrativa, compreendendo a inserção de Muito Prazer em um panorama de “filmes falados brasileiros” que ganha corpo após “a introdução dos equipamentos e das técnicas de captura de som direto em locações ao ar livre e a troca de experiências entre cineastas” (GARCIA, 2022, p. 249). E destacamos a importância do som direto na gravação dessas conversas para garantir ao filme o registro da “espontaneidade” dos atores, de seus sotaques” e a tentativa de “impressão de uma realidade” (MAURO, 1932) brasileira que já há tempos vinha sendo buscada no cinema nacional.
Bibliografia
- GOMES, Paulo Emílio Sales. A ideologia da crítica brasileira e o problema do diálogo cinematográfico. In: GOMES, Paulo Emílio Sales; CALIL, Carlos Augusto (Org.). Uma situação colonial? São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 115-118.
GARCIA, A. R. Filmes de conversação: conceito, história e análise de um estilo cinematográfico. 2022. Tese (Doutorado em História) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2022.
BRITO, T.; FERREIRA, P. H. Paisagens do Rio de Janeiro: A poética de David Neves. Rio de Janeiro. Caixa Cultural. 2015.
MAURO, H. Cinema falado no Brasil. Revista Cinearte, v. 7, n. 324, 1932
NEVES, D. E. Cartas do meu bar. São Paulo: Editora 34, 1993.
NEVES, D. E. Telégrafo visual: crítica amável de cinema. Org: Carlos Augusto Khalil. São Paulo: Editora 34, 2004.
OPOLSKI, D. R. Edição de Diálogos no cinema: a fala cinematográfica como um elemento sonoro. Curitiba. Ed. UFPR, 2021