Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Allison Vicente Xavier Gonzalez (UFscar)

Minicurrículo

    Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) com pesquisa sobre epistemologia das ciências humanas em Ivan Domingues; mestrando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som, Universidade Federal de São Carlos (UFscar) com pesquisa sobre adaptações audiovisuais de jogos eletrônicos com foco em The Last of US, orientada por João Carlos Massarolo.

Ficha do Trabalho

Título

    O horror na adaptação de jogos eletrônicos: o caso de The Last of Us

Formato

    Presencial

Resumo

    Alguns estudos já foram realizados sobre as adaptações de jogos eletrônicos de gênero horror para outros formatos de mídia. Em geral, a sobrevivência parece ser algo peculiar nos jogos e encaixa-se de forma diferente quando adaptada. Este trabalho pretende analisar e discutir alguns aspectos do gênero na adaptação The Last of Us com ênfase no episódio oito da série televisiva. Aponta-se que: o horror se manifesta diferentemente em cada formato, porém mantém seu fundamento principal da narrativa.

Resumo expandido

    Jogos eletrônicos são, em seu âmago, uma atividade definida por regras de programação e algoritmos que permitem as jogadoras escolher em função de objetivo/s. (GALLAWAY, 2006). Desde que desenvolvidos com base em narrativas os videogames parecem ter ganhado profundidade e foram explorados não apenas neste formato, mas também em outros como a televisão e o cinema (LEITE, 2006). Assim, a produção japonesa de Donkey Kong (Nintendo, 1981), teve adaptações realizadas para o cinema e para a televisão. Após o seu sucesso, uma série animada foi produzida pela Ruby-Spears Productions (1983). Alguns anos mais tarde, um longa-metragem sob direção em live-action de Rocky Morton e Annabel Jankel (1993) foi produzida a partir da série de jogos desenvolvidos pela Nintendo na década de 80; entre outras.
    Apesar dessa relação, raramente os jogos eletrônicos obtiveram sucesso com suas adaptações para o cinema e para a televisão. Diversos autores se interessaram pelos problemas e dificuldades das adaptações audiovisuais (HUTCHEON, 2013; STAM, 2006; EVANS, 2011; JUUL, 2001) e, algumas vezes comentaram sobre o caso dos jogos eletrônicos. Essa questão se mantém, e, no entanto, os jogos envolvem uma mudança radical nas expectativas e na experiência do espectador, mas quando construídos como parte de um drama transmídia, eles também são posicionados como parte de uma experiência narrativa integrada e coerente. (EVANS, 2011).
    Este trabalho é parte de uma pesquisa em andamento acerca de alguns aspectos das adaptações entre jogos eletrônicos e séries televisivas com foco no caso da franquia The last of us (Tlou, Naugthy Dog) para o formato televisivo (HBO, 2023). Concentra-se aqui no episódio oito da série televisiva, com a pretensão de analisar e discutir se, assim como (MUSSA et. GARCIA, 2014) concluem em seu artigo o caso se repete na adaptação de Tlou sobre o gênero e: a sobrevivência é deixada de lado na obra adaptada por não conseguir comportar a tensão de resolver um mistério ou enigma enquanto passa por uma situação hostil e sobrenatural.
    Considera-se aqui que: uma adaptação é uma revisitação anunciada, extensiva e deliberada de uma obra de arte (HUTCHEON, 2013) e, jogos eletrônicos são também formas de expressão artística e cultural (GALLAWAY, 2006; HUTCHEON, 2013; PONTES, 2020). Devido ao envolvimento do criador do jogo Tlou, Neil Druckmann, como diretor e escritor de alguns episódios e apresentação de um complemento a narrativa na série, pode-se ainda apontar Tlou como uma franquia transmídia (MASSOROLO et. ALARENGA, 2010) no uso da noção de narrativa transmídia (EVANS, 2011).
    A adaptação de Tlou para obra seriada conta a história sobre um mundo pós-apocalítico em que um fungo se desenvolveu a ponto de tornar humanos em infectados violentos e nocivos. Como resultados da análise, tem-se que a obra seriada tem diversos momentos em que consegue adaptar alguns aspectos do horror no jogo, aqui definido como uma sensação ou afeto caracterizado pelo excesso e o grotesco nos limites entre o real e o fantástico (CARROLL, 1999; MONTEIRO, 2018; PERRON, 2009). Na maior parte da temporada, o gênero aparece nos momentos de luta contra os infectados, mas isso não satisfaz o aspecto de sobrevivência, muito relevante para os jogos.
    Ao entender então o que se caracteriza como sobrevivência em Tlou vê-se que não são os infectados ou a situação no mundo que a proliferação do fungo provocou o que caracteriza essa sobrevivência, tão menos o horror. O horror fundamental na narrativa de The last of us é a própria capacidade humana de sobrevier, de fazer qualquer coisa pela sobrevivência e mais ainda pela satisfação dos próprios desejos; a situação do mundo e a nocividade dos infectados apenas intensificam a narrativa, o que é muito bem representado pelo canibalismo, os assassinatos a sangue frio e a tentativa de estupro no episódio oito da obra seriada, motivo pelo qual o recorte do presente trabalho se justifica.

Bibliografia

    CARROLL, Nöel. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Campinas: Papirus, 1999.

    EVANS, Elizabeth. Transmedia Television: audiences, new media and daily life. New York: Routledge, 2011.

    HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Tradução de André Cechinel. 2ª ed. Florianópolis: Editora UFSC, 2013.

    MONTEIRO, Tiago José Lemos. Identidades fraturadas: sobre a fragilidade dos heróis masculinos na franquia Silent Hill. Disponível em: https://www.portalintercom.org.br/anais/nacional2018/resumos/R13-0355-1.pdf, acessado em, 15/04/2023.

    MUSSA; GARCIA. Terror, Horror, Survive-Horror: A Transposição do Gênero Horror dos videogames para o cinema. Disponível em: https://www.abciber.org.br/simposio2014/anais/GTs/ivan_mussa_tavares_gomes_195.pdf, acessado em: 16/04/2023.

    PERRON, Bernard. The survival horror: the extended body genre. In: ______. (ed.) Horror video games: essays on the fusion of fear and play. North Carolina: McFarland & Company, Inc., Publishers, 2009.