Ficha do Proponente
Proponente
- Allison Vicente Xavier Gonzalez (UFscar)
Minicurrículo
- Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) com pesquisa sobre epistemologia das ciências humanas em Ivan Domingues; mestrando vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som, Universidade Federal de São Carlos (UFscar) com pesquisa sobre adaptações audiovisuais de jogos eletrônicos com foco em The Last of US, orientada por João Carlos Massarolo.
Ficha do Trabalho
Título
- O horror na adaptação de jogos eletrônicos: o caso de The Last of Us
Formato
- Presencial
Resumo
- Alguns estudos já foram realizados sobre as adaptações de jogos eletrônicos de gênero horror para outros formatos de mídia. Em geral, a sobrevivência parece ser algo peculiar nos jogos e encaixa-se de forma diferente quando adaptada. Este trabalho pretende analisar e discutir alguns aspectos do gênero na adaptação The Last of Us com ênfase no episódio oito da série televisiva. Aponta-se que: o horror se manifesta diferentemente em cada formato, porém mantém seu fundamento principal da narrativa.
Resumo expandido
- Jogos eletrônicos são, em seu âmago, uma atividade definida por regras de programação e algoritmos que permitem as jogadoras escolher em função de objetivo/s. (GALLAWAY, 2006). Desde que desenvolvidos com base em narrativas os videogames parecem ter ganhado profundidade e foram explorados não apenas neste formato, mas também em outros como a televisão e o cinema (LEITE, 2006). Assim, a produção japonesa de Donkey Kong (Nintendo, 1981), teve adaptações realizadas para o cinema e para a televisão. Após o seu sucesso, uma série animada foi produzida pela Ruby-Spears Productions (1983). Alguns anos mais tarde, um longa-metragem sob direção em live-action de Rocky Morton e Annabel Jankel (1993) foi produzida a partir da série de jogos desenvolvidos pela Nintendo na década de 80; entre outras.
Apesar dessa relação, raramente os jogos eletrônicos obtiveram sucesso com suas adaptações para o cinema e para a televisão. Diversos autores se interessaram pelos problemas e dificuldades das adaptações audiovisuais (HUTCHEON, 2013; STAM, 2006; EVANS, 2011; JUUL, 2001) e, algumas vezes comentaram sobre o caso dos jogos eletrônicos. Essa questão se mantém, e, no entanto, os jogos envolvem uma mudança radical nas expectativas e na experiência do espectador, mas quando construídos como parte de um drama transmídia, eles também são posicionados como parte de uma experiência narrativa integrada e coerente. (EVANS, 2011).
Este trabalho é parte de uma pesquisa em andamento acerca de alguns aspectos das adaptações entre jogos eletrônicos e séries televisivas com foco no caso da franquia The last of us (Tlou, Naugthy Dog) para o formato televisivo (HBO, 2023). Concentra-se aqui no episódio oito da série televisiva, com a pretensão de analisar e discutir se, assim como (MUSSA et. GARCIA, 2014) concluem em seu artigo o caso se repete na adaptação de Tlou sobre o gênero e: a sobrevivência é deixada de lado na obra adaptada por não conseguir comportar a tensão de resolver um mistério ou enigma enquanto passa por uma situação hostil e sobrenatural.
Considera-se aqui que: uma adaptação é uma revisitação anunciada, extensiva e deliberada de uma obra de arte (HUTCHEON, 2013) e, jogos eletrônicos são também formas de expressão artística e cultural (GALLAWAY, 2006; HUTCHEON, 2013; PONTES, 2020). Devido ao envolvimento do criador do jogo Tlou, Neil Druckmann, como diretor e escritor de alguns episódios e apresentação de um complemento a narrativa na série, pode-se ainda apontar Tlou como uma franquia transmídia (MASSOROLO et. ALARENGA, 2010) no uso da noção de narrativa transmídia (EVANS, 2011).
A adaptação de Tlou para obra seriada conta a história sobre um mundo pós-apocalítico em que um fungo se desenvolveu a ponto de tornar humanos em infectados violentos e nocivos. Como resultados da análise, tem-se que a obra seriada tem diversos momentos em que consegue adaptar alguns aspectos do horror no jogo, aqui definido como uma sensação ou afeto caracterizado pelo excesso e o grotesco nos limites entre o real e o fantástico (CARROLL, 1999; MONTEIRO, 2018; PERRON, 2009). Na maior parte da temporada, o gênero aparece nos momentos de luta contra os infectados, mas isso não satisfaz o aspecto de sobrevivência, muito relevante para os jogos.
Ao entender então o que se caracteriza como sobrevivência em Tlou vê-se que não são os infectados ou a situação no mundo que a proliferação do fungo provocou o que caracteriza essa sobrevivência, tão menos o horror. O horror fundamental na narrativa de The last of us é a própria capacidade humana de sobrevier, de fazer qualquer coisa pela sobrevivência e mais ainda pela satisfação dos próprios desejos; a situação do mundo e a nocividade dos infectados apenas intensificam a narrativa, o que é muito bem representado pelo canibalismo, os assassinatos a sangue frio e a tentativa de estupro no episódio oito da obra seriada, motivo pelo qual o recorte do presente trabalho se justifica.
Bibliografia
- CARROLL, Nöel. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Campinas: Papirus, 1999.
EVANS, Elizabeth. Transmedia Television: audiences, new media and daily life. New York: Routledge, 2011.
HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Tradução de André Cechinel. 2ª ed. Florianópolis: Editora UFSC, 2013.
MONTEIRO, Tiago José Lemos. Identidades fraturadas: sobre a fragilidade dos heróis masculinos na franquia Silent Hill. Disponível em: https://www.portalintercom.org.br/anais/nacional2018/resumos/R13-0355-1.pdf, acessado em, 15/04/2023.
MUSSA; GARCIA. Terror, Horror, Survive-Horror: A Transposição do Gênero Horror dos videogames para o cinema. Disponível em: https://www.abciber.org.br/simposio2014/anais/GTs/ivan_mussa_tavares_gomes_195.pdf, acessado em: 16/04/2023.
PERRON, Bernard. The survival horror: the extended body genre. In: ______. (ed.) Horror video games: essays on the fusion of fear and play. North Carolina: McFarland & Company, Inc., Publishers, 2009.