Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Baltar (PPGCine/UFF)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação, professora e pesquisadora do PPGCine (Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual) da UFF. Atualmente desenvolve a pesquisa “Excesso e atrações – reflexão e criação no audiovisual contemporâneo”, junto ao grupo de pesquisa Nex – Núcleo de Estudos do Excesso nas Narrativas Audiovisuais com apoio da Faperj (através do programa Cientista do Nosso Estado)

Coautor

    CAROLINA OLIVEIRA DO AMARAL (UFF-FAPERJ/ PUC-RIO)

Ficha do Trabalho

Título

    Pela escrita sensível: sentimentos, sensações e laboratório de roteiro

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta comunicação busca refletir sobre o lugar da expressão sentimental e sensorial no processo fílmico a partir do roteiro, tomando de partida a reflexão acerca do laboratório de escrita conduzido na UFF pelas autoras. Nesse sentido, a comunicação busca não apenas sintetizar reflexões sobre o campo da escrita do roteiro, nas suas relações com a expressão da emoção e das sensações, mas refletir a partir da prática de ensino laboratorial

Resumo expandido

    A proposta nasce do desejo de pensar e partilhar a experiência laboratorial de escrita conduzida com discentes do curso de cinema e audiovisual da UFF – RJ. O laboratório experimentou um modelo de escrita de construção do roteiro a partir dos marcos emocionais, sensoriais e sentimentais, fazendo com que esse hall de possibilidades, vinculadas às carnalidades e afetos, conduzisse a construção da narrativa. Nesse sentido, nossa aposta com o Laboratório era trazer para o protagonismo da escrita marcas de um excesso estético que comumente é associado a certos gêneros cinematográficos que expressam a centralidade do corpo e da sensorialidade, notadamente os gêneros do corpo (Williams, 2004), mas não apenas estes.
    Esta comunicação, bem como a prática laboratorial que a gerou, partiu da pergunta: pode o excesso (força expressiva ao mesmo tempo reiteradora e desafiadora dos códigos narrativos) não apenas estar presente na escrita do roteiro, mas ser ponto de partida para seu exercício criativo?
    O ensino do roteiro (oficinas, universidades e outros) costuma privilegiar elementos narratológicos como estrutura, personagem, intriga etc. Nossa experiência, ao focar na escrita narrativa a partir de emoções e sensações, não abandona de todo tais preceitos, mas reorienta o princípio do exercício criativo. Bernardo Oliveira apresenta uma concepção de narrativa fundada na ideia de experiência corporal: “ser encarnado, o ter um corpo como sinônimo de existência concreta, espaço temporal” (2015:215) tanto do personagem, quanto do leitor/espectador. Nesse sentido, a arte narrativa seria sobretudo uma experiencialidade: “seguir a personagem, se colocar no presente dela, é experimentar o sabor, seja qual for, de ser ela” (idem:209). A personagem é elemento privilegiado para nossa metodologia de escrita sensível e sensorial, compondo a escrita a partir do cuidado com as palavras – não apenas os significados que elas trazem, mas sua sonoridade e textura. Nossa experiência pretende enriquecer não apenas os procedimentos metodológicos do ensino de roteiro, mas o próprio campo dos estudos de roteiro como um todo. Como bem formulou Pablo Gonçalo (2019), trata-se de um campo ainda em construção e carente de propostas com esse viés.
    Tal debate não é de todo novo no campo da escrita criativa, mas nos estudos de roteiro ainda parece ponto fora da curva. Ainda assim, alguns teóricos-práticos do roteiro indicam crescente interesse em articular visceralidade do corpo, marcas expressivas do afeto e a escrita do roteiro. Dooley (2019) relata experiência análoga ao que estamos propondo, partindo da inquietação provocada por alguns filmes narrativos que “fazem me sentir fisicamente tocada, como se minhas terminações nervosas tivessem sido manipuladas pelas imagens visuais na tela” (2019:131). Se a experiência de visionamento da obra nos captura corporalmente, poderia a experiência da escrita partir dessa corporeidade? O debate também está no cerne das preocupações da tese de doutorado de Érica Sarmet (2020), quando u autore busca identificar as marcas do excesso nos roteiros. Excesso não é termo aleatório e Baltar (2019) tem se empenhado em demonstrar sua pertinência conceitual para englobar as dimensões carnais, afetivas e sensoriais que, a um só tempo, podem saturar e “disromper” a pulsão organizativa que parece ser constitutiva da narrativa. Nesse sentido, o excesso atua como catalisador de um convite endereçado ao corpo espectatorial a partir da força expressiva da encenação exacerbada, da visualidade e sonoridade reiterativas e hápticas. Poderia essa força ser o mote criador da construção da personagem e da cena? Para desenvolver nossas ideias, não apenas apresentaremos as bases teóricas que guiaram o Laboratório de escrita, mas detalharemos o processo laboratorial empreendido entre abril e maio junto à UFF. Com o relato da experiência do Laboratório, busca-se analisar de modo autorreflexivo nossa aposta na escrita a partir das emoções, sensações e afetos.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana. Realidade Lacrimosa. Niterói, Eduff, 2019
    BATTY, Craig (org). Screenwriters and Screenwriting. Putting Practice into Context. Palgrave Macmillan, 2014
    DOOLEY, Kath. Writing Bodies: Developing and Scripting an Embodied Feature Film Screenplay. In. BATTY et al. (orgs.), The Palgrave Handbook of Screen Production. Palgrave Macmillan, 2019
    GONÇALO, Pablo. Quando filmes são palavras: uma introdução aos estudos de roteiro. Raído, [S. l.], v. 11, n. 28, p. 123–140, 2017.
    OLIVEIRA, B. A personagem de ficção e o mundo digital. In: Viso: Cadernos de estética aplicada, v. IX, n.17 (jul-dez/2015), pp. 200-220.
    PRICE, Steven. A History of the Screenplay. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2013.
    SARMET, E. O ROTEIRO INVISÍVEL: melodrama e sensação em “A vida invisível” (2019), de Karim Aïnouz. In: ANAIS DO 29° ENCONTRO COMPÓS, 2020.
    WILLIAMS, L. Film Bodies: gender, genre and excess. In. BRAUDY, Leo e COHEN, Marshall (eds). Film Theory and criticism. NY, Oxford University Press, 2004