Ficha do Proponente
Proponente
- Fidelis Fraga da Costa (UFF)
Minicurrículo
- Roteirista e dramaturgo, mestrando em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Escreveu a série de ficção BAILE DE MÁSCARAS (Disponível no Globoplay) e as séries doc RODA DE CHORO e FRONTEIRAS FLUIDAS (ambas canal Curta!). Desenvolveu e produziu a série DESCONSTRUÍDA (Melhor roteiro e direção no RIO WEBFEST 2022) já nas plataformas Looke, Now e Vivo Play. É professor de roteiro do Polo Educacional SESC desde 2020. É consultor do Laboratório do Festival ROTA desde 2018.
Ficha do Trabalho
Título
- O improviso na escrita e no ensino do roteiro audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente estudo investiga a potencialidade do emprego de técnicas de improvisação de escrita na construção do roteiro audiovisual. Para tanto recorre-se às bases da metodologia de ensino de dramaturgia textual do dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra e aos princípios da Pedagogia do Dispositivo desenvolvida no projeto Cinema de Grupo e Práticas de Cuidado do Laboratório Kumã de cinema e audiovisual da Universidade Federal Fluminense.
Resumo expandido
- Trata-se de uma investigação sobre uma metodologia fundamentada em técnicas de improviso para a escrita e o ensino do roteiro de ficção. O ponto de partida está no trabalho do dramaturgo José Sanchis Sinisterra (1940-), considerado um dos principais renovadores da cena teatral espanhola. Sua dramaturgia deixa para trás os caminhos seguros do drama clássico e incorpora a prática da improvisação na construção de uma dramaturgia da fragmentação. Conheci Sinisterra durante uma oficina de escrita teatral no projeto Puente realizada no Rio de Janeiro em 2010. Nessa ocasião pude vivenciar na prática sua metodologia de ensino que nos conduz através de um sinuoso caminho de narrativas menos cartesianas e mais fragmentadas, abrindo espaço para a construção de estruturas e diálogos mais espontâneos e disruptivos.
Eu me interesso efetivamente pela dramaturgia da fragmentação, ou seja, como renunciar, deixar de lado conceitos de coerência, de unidade, trazidos pela lógica no tratamento dramático dos textos e encontrar formas dramáticas que reproduzam esse deslocamento, essa percepção fragmentária que temos do mundo, da realidade e que freqüentemente nos coloca diante de uma sensação de perdidos dentro do caos. […] . (SINISTERRA, 2008)
Nesta pesquisa, além dos exercícios experimentados por mim, recorro ao livro de Sinisterra “Prohibido escribir obras maestras” (SINISTERRA, J. 2018), que traz práticas e experiências do dramaturgo espanhol compilados durante toda sua carreira. Em sua maioria, tratam-se de dispositivos com certas regras que exigem um desvio nos processos clássicos de causalidade, pergunta-resposta, simetria, equilíbrio, etc. As técnicas de improvisação de escrita propiciam um escape do pensamento cartesiano, ao trabalhar com elementos variáveis e inconstantes na escrita síncrona. As cenas produzidas durantes os improvisos nascem da tensão entre arbitrariedade das diretrizes recebidas do dinamizador e a necessidade subjetiva de cada um dos participantes de preservar alguma continuidade lógica no encadeamento de ações que vão surgindo.
Para me auxiliar na transposição das técnicas de escrita teatral de Sinisterra para uma metodologia de escrita audiovisual baseada em improvisação, lanço mão de princípios da pedagogia do dispositivo desenvolvida pelo programa Inventar com a Diferença, iniciado em 2013 pelo Laboratório Kumã, da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde exercícios e jogos baseados em um conjunto de regras são utilizados para lidar com os aspectos básicos do cinema de maneira inventiva e pessoal.
“O dispositivo é a introdução de linhas ativadoras em um universo escolhido. O criador recorta um espaço, um tempo, um tipo e/ou uma quantidade de atores e, a esse universo, acrescenta uma camada que forçará movimentos e conexões entre os atores (personagens, técnicos, clima, aparato técnico, geografia etc.). O dispositivo pressupõe duas linhas complementares: uma de extremo controle, regras, limites, recortes; e outra de absoluta abertura, dependente da ação dos atores e de suas interconexões.” (MIGLIORIN, C. 2006 p. 83)
Durante minha vivência como coordenador no projeto CINEMA DE GRUPO E PRÁTICAS DE CUIDADO, atualmente em curso no laboratório Kumã, pude constatar que a Pedagogia do Dispositivo e a Metodologia de Sinisterra carregam diversos traços em comum. Ambos têm como base a prática, abdicando da necessidade de formação teórica e técnica dos participantes, e lançam mão de restrições criativas para os exercícios propostos. Tenho, inclusive, tido a oportunidade de trabalhar com os participantes alguns princípios de escrita improvisada síncrona, com resultados instigantes. O próximo passo de minha pesquisa será a elaboração de um programa de exercícios que agregue princípios e procedimentos das duas metodologias citadas acima. Está prevista a realização de uma oficina no segundo semestre e o relatório final dessa experiência fará parte da minha dissertação de mestrado.
Bibliografia
- CID, Viviane, IVO, Eliane, MIGLIORIN, Cezar. RESENDE, Douglas (org.) Formas de hacer y experimentar cine y educación. Kumã Lab. PPGCine-UFF. Rio de Janeiro: Áspide, 2022.
GALVÁN, OMAR. Del salto al vuelo, manual de impro. Buenos Aires: Ed. Improtour, 2013.
MENDES, João Maria. Culturas Narrativas Dominantes, o caso do cinema. Lisboa: Ediual, 2009.
MIGLIORIN, C. O dispositivo como estratégia narrativa. En: Lemos, A.; Babosa, M.; Berger, C. (Orgs.). Narrativas Midiáticas Contemporâneas. Porto Alegre: Meridional, 2006, p. 83.
SINISTERRA, José Sanchis. Prohibido escribir obras maestras – taller de dramaturgia textual. Barcelona: Ñaque Editora, 2018.
_____________. Dramaturgia atoral: entrevista ao dramaturgo espanhol José Sanchis Sinisterra por Mariana Muniz. Revista eletrônica Travessias. V. 3, N. 1 (2009). Disponível em: . Acesso em: 07 dez. 2020.