Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Luiz Ancona (FFLCH-USP)

Minicurrículo

    Bacharel e Licenciado em História e Mestre em História Social pela USP. Atualmente é doutorando no mesmo programa, com período sanduíche na Université Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines, e bolsista da FAPESP. Investiga o filme O homem do pau-brasil (Joaquim Pedro de Andrade, 1981) sob orientação de Marcos Napolitano. Integra o grupo de pesquisas CNPq História e audiovisual: circularidades e formas de comunicação, coordenado por Eduardo Morettin (ECA-USP) e Marcos Napolitano (FFLCH-USP).

Ficha do Trabalho

Título

    O homem do pau-brasil, cinema, história.

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    A comunicação analisará o filme O homem do pau-brasil (1981) de Joaquim Pedro de Andrade. Biografia do escritor modernista Oswald de Andrade, o longa é um filme histórico sui generis. A análise fílmica identificará as memórias e representações construídas sobre o biografado e sobre o modernismo brasileiro. Com isso, objetiva-se inscrever o filme nos debates culturais de seu tempo, assim como evidenciar os diálogos que ele estabeleceu com a produção cinematográfica brasileira do período.

Resumo expandido

    Esta comunicação analisará o longa-metragem O homem do pau-brasil, realizado por Joaquim Pedro de Andrade em 1981. Biografia em estilo bastante peculiar do escritor modernista Oswald de Andrade (1890-1954), o filme foi coproduzido pela Embrafilme, fruto de um programa especial de financiamento de filmes históricos lançado pela empresa em 1977. No entanto, o longa contraria totalmente os anseios de civismo e seriedade da ditadura, assim como rompe todas as expectativas em torno do gênero histórico-biográfico e recusa qualquer pretensão de fidelidade histórica.
    O biografado é interpretado por dois atores, um homem (Flávio Galvão) e uma mulher (Ítala Nandi), ambos sem qualquer semelhança física com Oswald. Outras personagens históricas têm os nomes alterados e o filme sequer se inscreve temporalmente de maneira clara. No longa a representação é de outra ordem, assim como a própria noção de história na qual ele se baseia. Vida e obra de Oswald, história e ficção, se fundem radicalmente. A trama é dividida em quatro partes bem definidas de acordo com a sucessão de relacionamentos dos protagonistas. Há uma progressão linear de acontecimentos, mas estes se sucedem de maneira fragmentária, num ritmo que lembra tanto uma colagem modernista quanto a estrutura em gags e esquetes das comédias populares. A encenação é paródica e carnavalesca e a atmosfera é farsesca. Assistimos às desventuras eróticas de personagens caricatas com piadas e trocadilhos infames, às vezes chulos – vide o título, um trocadilho de teor sexual como era comum nas pornochanchadas da época.
    A comunicação analisará as implicações dessa escrita sui generis da história nas memórias e representações construídas pelo filme sobre Oswald, em particular, e sobre o modernismo brasileiro, em geral. A análise levantará questões históricas e historiográficas a partir das quais é possível interrogar o contexto de produção da obra e, mais especificamente, o cinema brasileiro produzido no período. Com isso, busca-se inscrever O homem do pau-brasil nos debates culturais de seu tempo e evidenciar os diálogos que ele estabeleceu com distintas tendências do cinema produzido no Brasil naquele momento – a Abertura, os anos finais da ditadura militar.
    Por um lado, O homem do pau-brasil é uma expressão tardia de uma conjuntura típica do início dos anos 1970, na qual os filmes históricos tiveram destaque no debate cultural (sendo inclusive objeto de atenção especial da ditadura, que desejava obras patrióticas e ufanistas). O longa se insere também num movimento que marcou os realizadores do Cinema Novo desde o final da década de 1960 em busca da expansão de seu público. Nessa direção, muitos cineastas (do Cinema Novo e não só) viram na comédia erótica uma estratégia para o sucesso de público, em um contexto no qual, cada vez mais, o erotismo se impunha enquanto regra de nosso mercado cinematográfico.
    Ademais, O homem do pau-brasil não foi o único filme sobre Oswald de Andrade realizado nos primeiros anos da década de 1980. No ano seguinte, 1982, foram concluídos Tabu, de Júlio Bressane, e O rei da vela, de José Celso Martinez Corrêa e Noilton Nunes. Por fim, o filme também dialoga com uma atmosfera própria dos realizadores egressos do Cinema Novo durante a Abertura. Filmes como Bye bye, Brasil (Cacá Diegues, 1979), Eles não usam black-tie (Leon Hirszman, 1981) e Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho, 1984) empreendem balanços históricos e apontam para revisões de projetos anteriormente defendidos.
    Assim, a comunicação discutirá a posição que O homem do pau-brasil ocupou em diferentes debates que atravessavam não só o cinema, mas a cultura e a política brasileiras daquele período. O momento era de construção, e embate, de memórias em torno da ditadura, inclusive em torno das lutas culturais travadas em seu interior. Partindo da análise fílmica a comunicação objetiva discutir aspectos culturais desse período da história recente do Brasil.

Bibliografia

    ANCONA, Luiz. O homem do pau-brasil (1981) de Joaquim Pedro de Andrade: releitura oswaldiana no Brasil da Abertura. Anais Eletrônicos do XXV Encontro Estadual de História da ANPUH-SP, São Paulo, 2020. DOI: https://www.encontro2020.sp.anpuh.org/resources/anais/14/anpuh-sp-erh2020/1600747884_ARQUIVO_0a1db55cec1259c96d8f5a17a3685798.pdf
    BERNARDET, Jean-Claude. Qual é a história? In ___. Piranha no mar de rosas. São Paulo: Nobel, 1982. p. 57-68.
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    NAPOLITANO, Marcos. Coração civil: a vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985). São Paulo: Intermeios, 2017.
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