Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    caroline montezi de castro chamusca (UFRJ)

Minicurrículo

    É pedagoga, mestre em educação e doutoranda no CINEAD/LECAV- Laboratório de Educação, Cinema e Audiovisual da Faculdade de Educação da UFRJ que desenvolve atividades de pesquisa, ensino e extensão vinculando políticas e pedagogias do cinema e da educação. Atua no campo da infância, cinema e educação, divulgação científica e educação museal. É membro e também uma das idealizadoras da Rede de Primeira Infância em Museus (Rede PIMu).

Ficha do Trabalho

Título

    Filmes- carta como produção de memória e acervo sobre as escolas

Mesa

    Cinema na educação: conhecer/narrar o mundo desde outras perspectivas

Formato

    Presencial

Resumo

    Criar filmes-cartas em escolas, além de atuar como dispositivo pedagógico, é uma forma de documentar esses espaços, em uma perspectiva afetiva e ensaísta. A proposta é viabilizar um espaço de enunciação através de cartas audiovisuais realizadas por estudantes e trabalhadores dessas instituições a fim de promover a criação de um acervo que documenta perspectivas diversas de sujeitos que habitam cotidianamente esses espaços.

Resumo expandido

    A “Escola”, comumente enunciada no singular, como se fosse possível ser uno, ecoada de forma totalitária e essencialista, encontra-se atualmente no bojo de debates contemporâneos ocupados por indivíduos e coletivos com interesses diversos: de economistas à líderes religiosos. Os entusiastas da “Escola” das estatísticas e grandes políticas consideram os resultados de avaliações externas impostas por políticas públicas, como um espaço de enunciado dos estudantes e professores em relação a esse espaço.

    A partir do conceito de literatura menor criado por Deleuze & Guattari (1977), como um dispositivo de análise da obra de Kafka: uma literatura marginal, de resistência e subversão da própria língua alemã, Silvio Gallo (2002) propõe então um deslocamento conceitual para educação. O autor sugere operar através da ideia de uma educação menor: “para aquém e para além de uma educação maior, aquela das políticas, dos ministérios e secretarias, dos gabinetes, há também uma educação menor, da sala de aula, do cotidiano de professores e alunos” (GALLO, 2002, p.169). Ressalta que os encontros corriqueiros do cotidiano escolar são espaços de manifestação das diferenças e de linhas de fuga (DELEUZE; GUATTARI, 2012) em relação à educação maior.
    Não é sobre essa educação maior, sobre essas narrativas universalistas, sobre análises qualitativas em relação a essas instituições e toda complexidade que atravessa o ato essencial de pensar e fazer escola que essa proposta se debruça. O exercício é criar um acervo a partir da indagação: quais escolas podem se revelar através de enunciados mais afetivos e espontâneos produzidos por estudantes e trabalhadores desses espaços?

    Para documentar enunciados contemporâneos sobre as escolas, além da câmera como convite, a proposta de convocar estudantes e trabalhadores a criar filmes-carta, parte da hipótese que a invenção de um destinatário convoca a produção de narrativas audiovisuais em uma perspectiva mais afetiva. A ideia é propor que os protagonistas dessas instituições componham narrativas audiovisuais com diferentes perspectivas quanto aos modos de habitar, ocupar e fabular esses espaços.

    A partir dessa premissa de corresponder-se com alguém, o filme- carta provoca “um deslocamento que está muito além de um espaço físico e de uma delimitação territorial, mas remete a uma certa diagramação afetiva que cada cineasta desenvolve em seus percursos nesta grande cartografia sentimental” (MEDEIROS, 2012, p.13) O exercício epistolar mobiliza a escolha de um espectador/destinatário e convoca os realizadores a um desenho narrativo mais autoral, a fim de deslocar essa proposta das expectativas institucionais que impregnam o espaço escolar.

    A proposta é que esses filmes sejam realizados sob uma perspectiva de um “cinema menor”. Assim como a educação menor que atua nos encontros cotidianos, nos acontecimentos despretensiosos e sem holofotes. Um cinema menor que esteja atento e sensível ao que se apresenta e desvia das expectativas e projeções dos maiores. Nesse sentido, o filme-carta implica a invenção de um espectador, um destinatário que não opera na lógica da indústria cinematográfica do público-alvo, do marketing e da publicidade. Um espectador que não é o outro dos realizadores, mas está presente em todo processo de construção do filme. (MIGLIORIN; PIPANO, 2014).

    Fresquet (2007), faz um convite para pensar o cinema como escrita, um gesto que supõe fundamentalmente dois processos: lembrar e inventar. Portanto, criar um acervo, um repositório com filmes-carta sobre as escolas, produzidos por estudantes e trabalhadores dessas instituições, é um modo de criar lembranças, produzir memórias e fabular narrativas sobre esses espaços. Mobilizar produções de arquivo sobre as escolas que contemplem enunciados audiovisuais ensaísticos amplia as possibilidades analíticas e metodológicas de pesquisa, além de agregar na construção da memória educativa.

Bibliografia

    DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Kafka por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

    DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia vol 3. São Paulo: Editora 34. 2012.

    FRESQUET, Adriana Mabel. Imagens do desaprender –uma experiência de aprender com o cinema. Rio de janeiro, Booklink, 2007

    GALLO, Silvio. Em Torno de uma Educação Menor. Educação & Realidade, [S. l.], v. 27, n. 2, 2002.

    MEDEIROS, Rúbia Mércia de Oliveira Medeiros. Partida, deslocamento e exílio – Escrever com a Imagem: o processo de subjetivação e estética em filmes-carta.. Dissertação (Mestrado em Comunicação) Escola de Comunicação Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ. 2012

    MiGLIORIN, Cezar; PIPANO, Isaac. Cinema de Brincar. Belo Horizonte: Ed. Relicário, 2019