Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Tiago Coutinho de Oliveira (UnB)

Minicurrículo

    Mestrando pela Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília – UnB com o tema: “A reinvenção de um estilo? As mídias digitais e suas possíveis influências no discurso e na interação do crítico de cinema perante o espectador”, orientado pelo professor Pablo Gonçalo de Campos Martins. Criador e administrador do perfil @Reduto7Arte, no instagram, especializado em críticas de filmes e estudos diversos sobre o cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    A Cibercinefilia e o fim da Revista SET

Formato

    Presencial

Resumo

    Partiremos das definições de cibercinefilia e de cinefilia 2.0 para, comparando-as, entendermos quais mudanças foram implementadas no perfil cinéfilo após a propagação da internet. Analisaremos a existência de uma possível relação de causa e efeito entre esses fenômenos e a extinção da Revista SET. Abordaremos as mídias digitais como agentes transformadores do formato original da publicação, de modo a adaptá-la ao gosto de um público acostumado com as ferramentas interativas do ciberespaço.

Resumo expandido

    Com o surgimento da internet, houve uma profunda reconfiguração dos fenômenos sociais e midiáticos então existentes ao redor do mundo. No que tange à relação do indivíduo com o cinema e com todas as possibilidades comunicacionais que ele proporciona não foi diferente.
    A cinefilia clássica instituída por intelectuais franceses nos anos 50, consolidada por publicações inspiradas na Cahiers du Cinéma e definida por Antoine De Baecque como a “vida que organizamos em torno dos filmes” (DE BAECQUE, 2011 p. 31), precisou se adaptar aos novos atributos virtuais e às ferramentas interativas do ciberespaço.
    O farto material relacionado ao cinema disponível na internet, além do surgimento de novos agrupamentos virtuais, como os cineclubes, que inseriram seus membros no campo do debate fílmico, outorgando-lhes legitimidade para expressarem suas impressões, inseriram uma nova camada na relação estabelecida entre crítico e espectador: o espaço de interação entre este último a crítica publicada.
    No caso do leitor que sentia o afã de aprofundar seus conhecimentos cinematográficos, a internet surgiu como uma ferramenta que poderia atender o descontentamento de um papel meramente passivo no vértice de conversação crítico-artística, saciando seu anseio por interações bilaterais.
    Com esse cenário, novos perfis se consolidaram ao longo dos anos, substituindo antigos modelos. Com a “emancipação do espectador” (RANCIERE, 2014, p. 17), os internautas passaram a ter a possibilidade de criar blogs e impulsioná-los segundo seus próprios critérios. Nascia a Cibercinefilia! A cinefilia pós-moderna, composta por sujeitos que experimentavam o cinema através das inúmeras possibilidades proporcionadas pela internet. “Uma nova configuração da paixão pelo cinema implementada e mediada pelas estruturas cibernéticas, pela interação e vivência no ambiente virtual” (JULLIER, 2012).
    No Brasil, essa transição trouxe mudanças significativas. Tomemos o exemplo da Revista SET, por décadas a publicação cinematográfica de maior referência no país. No seu auge, durante a fase pré-internet, sua tiragem mensal chegava a 50 mil exemplares. A partir do final dos anos 90, com o surgimento de blogs direcionados à crítica de cinema, suspeitamos que ela tenha iniciado um processo de declínio progressivo que culminou com sua extinção, em novembro de 2010.
    Supomos que a consolidação das novas mídias provocou mudanças no estilo discursivo, estético e estrutural da revista, de modo a adequá-la ao gosto dos cibercinéfilos. Porém, não apenas a relação destes com os instrumentos midiáticos se redefiniu: as conexões sociais implementadas pela web promoveram um novo modelo de interação, mais afeito à horizontalidade. Algo que não podia ser explorado em toda sua potencialidade por publicações unicamente impressas, como era o caso da Revista SET.
    À medida em que a cinefilia passava a coexistir com a cibercinefilia, e, posteriormente, com a “cinefilia 2.0” – “termo criado por Tim O´Reilly para diferenciar a primeira fase do ciberespaço, onde as páginas da internet eram mais estáticas, para a atual, onde diversas funcionalidades foram adicionadas aos websites” (LEMOS, LÉVY, 2010, p. 38) – as mídias tradicionais que não se reinventavam digitalmente se enfraqueciam perante o mercado de consumo. Suspeitamos que as vendas decaiam à medida em que materiais gratuitos eram disponibilizados na internet e as possibilidades de interação dadas ao espectador iam se expandindo no ciberespaço.
    No presente estudo, procuramos entender como a internet e a revista SET podem ter se influenciado mutuamente ao longo dos anos. Através de revisão bibliográfica e pesquisa documental, traremos à baila nossa hipótese de que as imposições dos atributos multimidiáticos da cibercinefilia, e, posteriormente, da cinefilia 2.0, afetaram formatos tradicionais de publicações que a eles não se curvaram. Dentre elas, a revista SET, ainda hoje cultuada por fãs saudosos e por acadêmicos em busca de respostas.

Bibliografia

    CARVALHO, Rafael Oliveira. Contornando crises e reafirmando a autoridade na WEB: os desafios da crítica de cinema online no Brasil. Tese apresentada junto à Universidade Federal da Bahia, 2017.
    DE BAECQUE, Antoine. Cinefilia. 2011 p. 31
    EAGLETON, Terry. A função da crítica. Martins Fontes, 1991.
    HAN, Byung-Chul. A sociedade do cansaço. Petrópolis: vozes, 2017.
    ELSAESSER, Thomas. Cinema como arqueologia das mídias. SESC, 2018.
    GONÇALO, Pablo. A arqueologia das mídias e uma nova agenda para os estudos de cinema. Revista Famecos, 2020.
    JULLIER, Laurent; LEVERATTO, Jean-Marc. Cinéfilos y Cinefilias. Buenos Aires: la marca editora, 2012.
    LÈVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro, 1999.
    LÉVY, Pierre, LEMOS André. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária, 2010.
    RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. WMF Martins Fontes, 2014
    SOUTO, Mariana. Constelações fílmicas: um método comparatista no cinema. Galáxia, 2020.