Ficha do Proponente
Proponente
- NEZI HEVERTON CAMPOS DE OLIVEIRA (COC/Fiocruz)
Minicurrículo
- Possui graduação em Comunicação Social com habilitação em Cinema pela Universidade de São Paulo (1994), mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2006) e doutorado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (2022). É assessor da Direção da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, onde atua nas áreas do Patrimônio Cultural, da Divulgação Científica e da Produção Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- “Le Cinéma Brésilien”: retrospectiva do cinema brasileiro (1987)
Seminário
- Festivais e mostras de cinema e audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho busca analisar a programação da mostra retrospectiva “Le Cinéma Brésilien”, realizada em 1987 no Centre Georges Pompidou em Paris. O objetivo é discutir os critérios que balizaram a seleção dos filmes exibidos nessa primeira grande retrospectiva internacional do cinema brasileiro e cotejá-los à luz do conceito de nacional, a partir da reflexão proposta naquele momento em dois ensaios de Jean-Claude Bernardet e Ismail Xavier publicados no livro-catálogo do evento.
Resumo expandido
- Em 1986, o crítico e historiador de cinema Paulo Antônio Paranaguá, residente em Paris, entrou em contato com a Embrafilme com uma proposta de realização de uma grande retrospectiva sobre o cinema brasileiro no Centre Georges Pompidou, na capital francesa.
O evento ocorreu entre 25 de março e 12 de outubro de 1987 e exibiu 220 filmes, incluindo obras de 1913 a 1986. Foi a maior mostra do cinema brasileiro já realizada fora do país, fato que não se repetiria desde então, ao menos se considerarmos a magnitude do evento e a diversidade e a representatividade dos filmes exibidos. A programação era composta por três sessões diárias e exibiu praticamente todas as cópias de filmes em branco e preto realizados até a década de 1960 que haviam sido duplicados e/ou restaurados no Laboratório da Cinemateca Brasileira até aquele momento.
Os responsáveis pela seleção de filmes foram Paulo Antônio Paranaguá, José Carlos Avellar, Ana Pessoa e Carlos Roberto de Souza. Além da projeção de filmes, foi também realizada uma exposição sobre a história do cinema brasileiro com materiais fornecidos pelo Departamento de Documentação da Cinemateca Brasileira, pela Cinemateca do MAM-RJ e pela Embrafilme.
Mesmo considerando a disponibilidade de matrizes como um fator determinante da seleção, o recorte realizado pelos curadores reflete uma visão específica sobre a produção cinematográfica brasileira. Esse recorte foi pautado por certos valores (conscientes ou não) que orientaram a escolha de um determinado conjunto de filmes que se mostraram como os mais representativos dessa cinematografia. Além do acesso a matrizes em bom estado de conservação para a confecção das cópias (que poderia ser um critério mais técnico), muitos filmes foram restaurados exclusivamente para o evento e, nesse caso, o critério para definir o que seria ou não restaurado, foi ditado por outras motivações (valor estético, valor histórico, consagração popular, etc.).
O Centre Georges Pompidou também publicou dentro da coleção Cinéma/Pluriel um suntuoso livro-catálogo da retrospectiva, organizado por Paulo Antônio Paranaguá. Farta e luxuosamente ilustrada, a publicação incluiu textos dos maiores historiadores e pesquisadores do cinema brasileiro àquela época, tendo sido considerada pela imprensa especializada francesa como a melhor obra sobre cinema publicada no país naquele ano.
Além da introdução, o livro-catálogo é dividido em quatro partes, contendo ainda um dicionário de realizadores, fichas técnicas de todos os filmes exibidos (incluindo sinopses), bibliografia, léxico e índice de filmes. A primeira parte corresponde a uma espécie de obra panorâmica sobre a história do cinema brasileiro. A segunda contém textos sobre três cineastas “marcantes” da cinematografia brasileira – Humberto Mauro, Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos. A terceira parte trata de gêneros ou movimentos que ganharam relevância dentro da historiografia do cinema brasileiro: o documentário, a chanchada, o Cinema Novo e o Cinema Marginal. A quarta e última parte apresenta um conjunto de textos mais diversificados contemplando, entre outros, dois ensaios escritos respectivamente por Ismail Xavier e Jean-Claude Bernardet que versam sobre uma questão cara à historiografia do cinema brasileiro: a definição de nacional, do que define ontologicamente o filme brasileiro, e de como esse conceito vai sofrer variações ao longo da experiência histórica. Esses ensaios apresentam, à luz de distintas propostas discursivas, formas de compreender o processo histórico e avaliar seu impacto na valorização e significação dos filmes, demonstrando como em diferentes cenários políticos, estéticos ou ideológicos os filmes podem ser revistos e ressignificados.
Este trabalho se propõe a analisar os filmes selecionados para a retrospectiva, identificando e discutindo os critérios balizadores dessa seleção, vis-à-vis às reflexões sobre o conceito de nacional no cinema brasileiro apresentadas naquele momento pelos dois ensaístas.
Bibliografia
- BERNARDET, Jean-Claude. Méandres de l’identité. In: PARANAGUÁ, Paulo Antonio (org.). Le Cinéma Brésilien. Tradução do português de Alice Raillard Paris: Editions du Centre Pompidou, 1987. p. 231-243. (Cinéma/Pluriel)
PARANAGUÁ, Paulo Antonio (org.). Le Cinéma Brésilien. Paris: Editions du Centre Pompidou, 1987. (Cinéma/Pluriel)
SOUZA, Carlos Roberto de. A Cinemateca Brasileira e a preservação de filmes no Brasil. São Paulo, 2009. Tese (Doutorado em Ciência da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
XAVIER, Ismail Norberto. Critique, idéologies, manifestes. In: PARANAGUÁ, Paulo Antonio (org.). Le Cinéma Brésilien. Tradução do português de Alice Raillard. Paris: Editions du Centre Pompidou, 1987. p. 221-230 (Cinéma/Pluriel)