Ficha do Proponente
Proponente
- Juliana Joaquim Gomes (UFF)
Minicurrículo
- Bacharelado em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), habilitação em Cinema (2007). Bacharelado em Ciências da Computação (2003) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Extensão em Roteiro para Cinema, TV e novas mídias (2011) pelo CCE/PUC-RJ. Servidora da Universidade Federal Fluminense, atuando no Cine Arte UFF do Centro de Artes desde 2006. Principais temas de interesse: teoria cinematográfica, estudos de gênero, film noir, língua inglesa.
Ficha do Trabalho
Título
- A representação feminina no cinema noir norte-americano
Formato
- Presencial
Resumo
- O cinema noir norte-americano é analisado através da representação das personagens femininas: o contexto histórico em que surgiu, suas influências, características e teorias feministas. Evidencia-se que, se por um lado, esses filmes conseguiram subverter valores da época, por outro, reforçaram padrões patriarcais: as personagens femininas deviam se submeter aos homens, ou ser punidas no final. Busca-se também dar visibilidade a Ida Lupino (1918-1995), a primeira mulher a dirigir um filme noir.
Resumo expandido
- A expressão film noir foi cunhada por críticos franceses após Segunda Guerra Mundial para “designar um grupo de filmes criminais americanos, produzidos a partir dos anos 40, com certas particularidades temáticas e visuais que os distinguiam daqueles feitos antes da guerra” (MATTOS, 2001, p.11). Pode-se dizer que o cinema noir surgiu a partir da literatura policial hard-boiled: histórias detetivescas de autores majoritariamente norte-americanos que foram publicadas nas pulp magazines, revistas baratas que alcançaram popularidade entre 1920 e 1945. Muitos filmes noirs possuem elementos presentes nesse tipo de literatura: tramas complexas, uso de flashbacks e narração em primeira pessoa. A singularidade estética hoje facilmente reconhecível do cinema noir se deve à influência de movimentos como o Expressionismo alemão, com filmes sombrios e pessimistas, que usavam cenários extravagantes, perspectivas deformantes, fortes contrastes de luz e sombras, e uma representação da realidade que expressava os conflitos interiores dos personagens, através da abstração, deformação, estilização e simbolismo.
A conjuntura socioeconômica pela qual passavam os Estados Unidos após o fim da Segunda Guerra – recessão econômica, inflação e desemprego – criou o momento propício para o surgimento do cinema noir, principalmente pela mudança na organização tradicional familiar, traduzida pelos homens que voltavam do front e a mão-de-obra feminina treinada para substituí-los durante o conflito, que havia deixado de se devotar exclusivamente ao lar e à família. Assim, com tom deprimente e pessimista, a temática mais comum no cinema noir era a de um protagonista envolvido em um crime pelas artimanhas de uma mulher fatal, a quem o Destino o apresentou, tornando-o incapaz de controlar seu infortúnio. O cenário principal é a grande cidade americana de ruas e becos pouco iluminados, e uma rica iconografia que ajuda a envolver o espectador no clima noir.
Este foi um dos períodos da História do Cinema onde as mulheres foram apresentadas de maneira nunca vista antes: mulheres ambíguas, carregadas de fatalismo e sedução, eternizadas pelas estrelas Rita Hayworth e Barbara Stanwyck, entre outras. A publicação da coleção editada por Ann Kaplan, “Women in film noir”, em 1978, foi o ponto de partida para estabelecer o noir como um espaço para a pesquisa acadêmica feminista, destacando a duplicidade e a ambivalência da representação da mulher no cinema de Hollywood. Assim, a emblemática femme fatale (mulher fatal) e seu contraponto, a nurturing woman (a “boazinha”, cuidadora, redentora) passaram a ser tema de diversos artigos e livros nos EUA. Se por um lado, estes filmes conseguiram subverter valores da época, por outro, reforçaram os padrões patriarcais da sociedade norte-americana, segundo os quais as personagens femininas deviam se submeter aos homens (nurturing women) ou ser punidas no final (femmes fatales).
Com o intuito de reavaliar o problema da representação e da participação feminina nesse cinema, o trabalho busca dar visibilidade à primeira mulher a dirigir um filme noir, a inglesa Ida Lupino (1918-1995).
Ida Lupino começou sua carreira como atriz, mas foi como autora e cineasta pioneira, com interesse permanente em retratar as dificuldades das mulheres americanas no pós-guerra, que ela fundiu elementos clássicos do filme noir com crítica social, criando um estilo de direção único. Ao trazer para o cenário atual sua relevância na História do Cinema, busca-se resgatar a participação de uma mulher que, na Hollywood do pós-guerra, dominada por homens e sujeita ao restritivo Código Hays, obteve pouco apoio, mas seguiu escrevendo e dirigindo filmes com temas polêmicos, que expunham o lado sombrio da sociedade americana.
Bibliografia
- BORDE, Raymonde, CHAUMETON, Etienne. Panorama du film noir américain. Paris: Flammarion, 1955.
COWIE, Elizabeth. Film noir and women. In: COPJEC, Joan (Ed.) Shades of Noir. London, New York: Verso, 1993.
KAPLAN, E. Ann (ed.). Women in Film Noir. New Edition. London: British Film Institute, 1998.
GRISHAM Therese, GROSSMAN Julie. Ida Lupino, Director: Her Art and Resilience in Times of Transition. New Brunswick, N.J.: Rutgers University Press, 2017.
HANSON, Helen. Hollywood Heroines: Women in film noir and the female gothic film. London, New York: IB Tauris, 2007.
MATTOS, A. C. Gomes de. O outro lado da noite: filme noir. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
SCHRADER, Paul. Notes on Film Noir, Film Comment 8, no.1 (1972). In: Film Noir Reader [1], ed. Alain Silver and James Ursini. Pompton Plains, N.J.: Limelight Editions, 1996.