Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Carolina Bento Ribeiro (N/A)

Minicurrículo

    Ana Ribeiro é doutora em cinema pela Université Paris-Nanterre e já programou ou coordenou diversos festivais, mostras e eventos de cinema no Brasil e na França. Após ensinar economia do cinema e do audiovisual e análise fílmica nas universidades Paris 8 e Evry, Ana dirigiu por 4 anos o cinema Lapérouse, sala de arte em Albi, França. Hoje continua trabalhando em festivais, atuando como mediadora, pesquisadora e instrutora em cinema e é consultora em mercados culturais.

Ficha do Trabalho

Título

    Renovar o insólito e o público: a cena de filmes de gênero de Toulouse

Seminário

    Estudos do insólito e do horror no audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    Neste trabalho, exploraremos como o cenário cinéfilo de Toulouse abriu as portas para o festival Grindhouse Paradise e como este se situa em relação a outros eventos voltados aos cinemas do insólito. Partindo de debates em torno da cinefilia, da economia do cinema e das evoluções do insólito cinematográfico, nosso objetivo é esclarecer de que forma eventos e produção alimentam-se mutuamente promovendo a renovação dos códigos dos cinemas do insólito e de seu público.

Resumo expandido

    De acordo com Brigid Cherry (2009), os gêneros cinematográficos são categorias móveis, que, embora associadas – tanto na produção quanto na recepção – com estruturas identificáveis, evoluem com o tempo seguindo tendências socioculturais e industriais mais amplas. Para Cherry, o cinema de horror é particularmente sensível à estas evoluções, transformando-se ao longo dos anos em vez de esgotar-se, devido à sua relação direta com as preocupações sociais mais urgentes e aos baixos orçamentos tipicamente empregados.
    Rompendo com a negligência histórica por parte das instâncias de legitimação do cinema dito de arte, os anos 2010 recolocaram o que chamamos horror de autor no mapa, suscitando não apenas a atenção da crítica, mas expandindo o público dos cinemas do insólito. A década trouxe ao público cinéfilo uma nova vaga de filmes em que os códigos do insólito são renovados, partindo de olhares e temáticas mais diversos e urgentes, como por exemplo, Titane, de Julia Ducournau, vencedor da Palma de Ouro em 2021.
    Sem esquecer que se trata de um fenômeno que marca inúmeras cinematografias (inter)nacionais este trabalho focará no caso francês. Considerado o mais maduro terreno mundial no que toca o cinema dito de autor, com políticas públicas de fomento ao setor historicamente fortes, a França utiliza ainda hoje sua reputação como instrumento de soft power e inspira, por sua vez, práticas de produção e promoção de filmes ao redor do mundo.
    Se políticas públicas recentes e interesses privados alimentados pelas tendências mundiais têm um papel-chave na aceleração deste tipo de produção no contexto francês, o papel de iniciativas locais na construção do público para os cinemas do insólito não deve ser negligenciado. As ações de festivais e salas de cinema em torno de filmes de gênero não apenas são parte integral da formação do olhar de espectadores, mas também sustentam economicamente um ambiente que favorece a continuidade e evolução da produção cinematográfica.
    Neste contexto, tomaremos como exemplo alguns eventos localizados na cidade de Toulouse. A cidade acolhe festivais e eventos que, se não se limitam a filmes de horror, possuem linhas editoriais que facilitam sua presença na programação. Do festival Fifigrot, com uma ideia ampla de filmes estranhos e origens televisivas, em sua 11a edição, ao Extrême cinéma – há 24 anos promovendo o patrimônio dos cinemas extremos na Cinemateca de Toulouse, passando pelas sessões mensais La dernière Zéance, na principal sala de arte da cidade, Toulouse acolhe há quatro anos, o Festival Grindhouse Paradise. Este irmão mais novo tem sua programação claramente focada nos cinemas contemporâneos de gênero com tintas insólitas e distingue-se por atrair um público mais jovem, lotando sessões mesmo durante a pandemia.
    Neste trabalho, exploraremos como o cenário cinéfilo de Toulouse abriu as portas para um novo festival e como este se situa em relação a outros festivais e iniciativas, na França e no exterior, em termos de programação e cooperação. Através de entrevistas qualitativas com os programadores, coordenadores e frequentadores dos eventos citados acima, bem como da análise de dados de programação e frequentação, apoiaremos uma discussão em torno dos novos códigos dos cinemas do insólito, suas formas de circulação e difusão internacionais.
    Partindo de debates teóricos em torno da cinefilia (De Baecque, 2003), da economia do cinema, em particular de festivais (Turan 2002, Porton 2009), e das evoluções dos cinemas do insólito (Cherry 2009, Neale 2002, Carrol 1999), nosso objetivo é esclarecer de que forma eventos e produção alimentam-se mutuamente formando um círculo virtuoso que promove a renovação de gêneros cinematográficos e de seu público.

Bibliografia

    ALTMAN, Rick. Film/Genre. Londres, BFI Publishing, 1999.
    AUSTIN, Bruce A., Immediate Seating: a Look at Film Audiences. Belmont, Wadsworth, 1989.
    CARROL, Noel. The Philosophy of Horror, or Paradoxes of the Heart, New York, Routledge, 1990.
    CHERRY, Brigid. Horror. Routledge Film Guidebooks. Londres, Routledge, 2009.
    CLOVER, C. J. Men, Women and Chainsaws: Gender in the Modern Horror Film. Londres, BFI, 1992.
    DE BAECQUE, Antoine. La Cinéphilie: Invention d’un regard, histoire d’une culture. Paris, Fayard, 2003.
    ELSAESSER, Thomas. & HAGENER Mette. Film theory: An Introduction through the senses. New York, Routledge, 2010
    MOINE, Raphaelle. Les Genres du Cinema. Paris, Nathan, 2002.
    NEALE, Stephen (org.). Genre and Contemporary Hollywood. Londres, BFI, 2002.
    PORTON, Richard (org.). Dekalog 3: On Film Festivals. Londres, Wallflower Press, 2009.
    TURAN, Kenneth. Sundance to Sarajevo: Film Festivals and the World they Made. Berkeley, University of California Press, 2002.