Ficha do Proponente
Proponente
- Luciano Dantas Bugarin (UFRJ)
Minicurrículo
- Doutorando em Educação pela UFRJ, mestre em Cinema e Audiovisual pela UFF (2022), especialista em Bullying, Violência, Preconceito e Discriminação na Escola pela UNIFESP (2021), graduado em licenciatura em Educação Artística com habilitação em Desenho pela UFRJ (2006) e graduado em Cinema e Audiovisual pela UNESA (2008). Atualmente é professor de Artes Plásticas da SME-RJ.
Ficha do Trabalho
Título
- A criação fílmica sob a perspectiva da prática artística escolar
Mesa
- Cinema na educação: conhecer/narrar o mundo desde outras perspectivas
Formato
- Presencial
Resumo
- A criação fílmica pode ser utilizada de forma significativa como prática artística no ensino de arte. Estimular a atividade cinematográfica em diálogo com a fruição de filmes promove um aprendizado artístico mais envolvente e significativo. A relevância da criação fílmica escolar reside no processo sensível da materialização da criação mental do aluno, que se concretizará na exibição do filme. A criação fílmica contém um aspecto lúdico que conduz o aprendizado de maneira sensível e emancipadora.
Resumo expandido
- A prática artística constitui-se como fundamental no desenvolvimento sensível de percepções artístico-criativas no ensino de arte. Nesta etapa, a criação fílmica possibilita que o aluno possa externar as sensações assimiladas a partir da experiência estética da apreciação artística.
Em outras palavras, a criação cinematográfica escolar estaria diretamente ligada a uma sensibilidade gerada pela experiência estética da fruição de filmes em aula. Como se o ato de um aluno “ver um filme (…) para além do gosto ou da compreensão, tivesse em si mesmo alguma força motriz em direção à criação” (FRESQUET, 2013, p. 175).
Em atividades com pintura, estimula-se que os alunos pensem em como pintar tal sentimento, representar um ponto de vista, ou se retratar. Na prática do cinema, durante o processo de inspiração, eles passam a imaginar diferentes formas de enquadramento, de movimentos de câmera ou até de rumos narrativos. Seja nos filmes que eles viram (ou não viram por completo), seja em suas imaginações. “É uma forma de transmissão um pouco inusitada na escola, pois não passa pela palavra, pela racionalidade” (BERGALA, 2008, p. 180).
O cinema viabiliza uma intensificação dos modos de leitura e fruição de uma obra de arte e proporciona uma facilitação de reinterpretações e exteriorizações pelo aluno, durante o processo. A criação fílmica como prática artística promove um vínculo entre os conteúdos da disciplina de arte, aspectos estéticos da obra de arte e aspectos sociais e culturais inerentes ao universo do aluno.
Ou seja, o contato com recriações e referências pictóricas por meio da linguagem audiovisual influencia a experiência de criação fílmica do aluno. A expressão artística pode ser incentivada nos alunos por meio de filmes, de forma pessoal e menos comedida. Desse modo, oportuniza-se “que eles possam renovar o significado de expressões artísticas a partir de um novo suporte” (BUGARIN 2022 p. 332).
Como exemplo das possibilidades pedagógicas, aponta-se a sensibilidade da montagem no filme “Arabescos Pirosmani” (1985), que apresenta obras do pintor georgiano Niko Pirosmani de modo dinâmico, a partir de associações entre sons, blocos temáticos e imagens de pinturas. A combinação de elementos plasticamente representados resulta no surgimento de um novo conceito da imagem da obra. Eisenstein (2002) atribui esse tipo de construção narrativa ao “pictorialismo” – a representação pictórica em um filme deve ser elucidada pelos elementos cinematográficos dentro de um padrão de montagem de uma determinada cena.
A partir desta referência, os alunos puderam assimilar o conceito de montagem para transformá-lo e proporcionar-lhe um sentido com base em uma apropriação estética. “É na montagem que se cria um sentido para o filme e (…) a não materialidade vai possibilitar que a partir dele múltiplas experiências possam ser produzidas a partir desse filme” (MARTINS, 2017, p. 70).
Já, em “Bajado” (2015), as obras do pintor brasileiro Bajado são recriadas por meio da cenografia, como se as pinturas estivessem vivas, convidando o espectador a entrar naquele universo. Diante disso, os alunos realizaram performances para representar manifestações culturais de seus entornos, tal qual as alegorias dos temas da obra do artista estudado, por meio de uma experimentação artística da montagem,
Por fim, aponta-se, também, o filme “Visita a Picasso” (1949), que apresenta aspectos sensíveis sobre o processo de criação artística por meio do desenrolar da imaginação e da percepção estética. Os alunos, então, criaram filmes cujas narrativas expõe a subjetividade da percepção sensível na criação artística por meio de uma metalinguagem audiovisual.
Conclui-se que a relevância da criação fílmica escolar reside no processo sensível da materialização da criação mental do aluno, que se concretizará na exibição do filme. Nesse momento é possível perceber o desenrolar da capacidade criativa, intuitiva e inovadora do aluno.
Bibliografia
- BERGALA, A. A hipótese-cinema – Pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink/CINEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.
BUGARIN, L. D. O uso de filmes de animação no ensino de arte. In: CASTRO, P. A.. MELO, R. B. F. (orgs.). Tecnologias e educação. Campina Grande: Realize Editora, 2022.
EISENSTEIN, S. A forma do filme. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
FRESQUET, A. Infância por infância: autorretratos de setembro. Inspirações em JLG/JLG: Autorretrato de dezembro. In: COUTINHO, M. A.; MAYOR, A. L. S. Godard e a educação. São Paulo: Autêntica Editora, 2013.
MARTINS, K. J. Oficinas de cinema: olhares e participação de crianças e jovens na escola. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.