Ficha do Proponente
Proponente
- Marina Mapurunga de Miranda Ferreira (UFRB)
Minicurrículo
- Professora de Som do curso de Cinema e Audiovisual da UFRB, onde coordena o projeto de extensão SONatório – Laboratório de Pesquisa, Prática e Experimentação Sonora. Tutora do Programa de Educação Tutorial PET Cinema da UFRB e professora vinculada ao PPGCOM-UFRB. Doutora em Artes (Música – Sonologia) pela USP. Mestra em Comunicação pela UFF, especialista em Audiovisual em Meios Eletrônicos pela UFC e realizadora audiovisual pela Escola Pública de Audiovisual de Fortaleza Vila das Artes.
Ficha do Trabalho
Título
- Pedagogia de Reativação da Escuta na formação audiovisual
Seminário
- Estilo e som no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- Este trabalho propõe uma pedagogia de Reativação da Escuta por meio de práticas sonoras experimentais como estratégias pedagógicas para o ensino de som em cursos de Cinema e Audiovisual. A partir de uma discussão teórica sobre a escuta, propomos duas estratégias de Reativação da Escuta: a Cartografia Aural e a Orquestra de Improvisação Audiovisual. Ao final da apresentação, trazemos o resultado das aplicações de tais estratégias no contexto do curso de Cinema e Audiovisual da UFRB.
Resumo expandido
- Este trabalho apresenta os resultados de minha pesquisa de doutorado intitulada “Reativação da Escuta: práticas sonoras experimentais como estratégias para o ensino de som em cursos de Cinema e Audiovisual”. Esta pesquisa se dedica ao contexto dos cursos de graduação em Cinema e Audiovisual, contexto em que estou inserida como professora de som desde 2013, especificamente no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), localizado na cidade de Cachoeira. Esta investigação é um desdobramento do trabalho que venho desenvolvendo junto das(os) estudantes de Cinema e Audiovisual da UFRB, resultando também em uma reflexão sobre meu trabalho como educadora. Partindo das práticas sonoras experimentais realizadas junto das(os) estudantes, e levando em consideração seus relatos e retornos em relação a estas práticas, sugiro uma pedagogia de Reativação da Escuta. Nesta pedagogia, buscamos explorar outras possibilidades de práticas sonoras diferentes das práticas sonoras tradicionais do cinema (como captação de som direto, edição de som, mixagem). Com estas outras práticas sonoras, que chamaremos de experimentais, buscamos dar atenção não a uma escuta técnica e criativa que visa um produto final, mas a uma escuta processual, coletiva e criativa, uma escuta que experimenta, que (re)inventa, e que favorece a emergência de modos de conviver. Enxergamos as estratégias de Reativação da Escuta como insurgências micropolíticas que podem intervir na vida social das(os) estudantes e professoras(es) e instaurar espaços para processos de experimentação, potencializando a vida. É importante frisar aqui que a proposta de uma pedagogia de Reativação da Escuta não visa substituir a pedagogia do som no cinema que foi se construindo no decorrer do desenvolvimento dos cursos de cinema e audiovisual, mas somar-se a ela. É fundamental que a(o) estudante de cinema e audiovisual saiba fazer a captação de som direto e a edição de som, criar com os sons, entender como funciona a equipe de som de um filme, conhecer a linguagem sonora no cinema. Mas é importante também dar ouvidos à própria escuta. E isso não somente para a(o) estudante que almeja trabalhar como profissional do som no cinema e audiovisual, mas para qualquer estudante de cinema e audiovisual. Lembremos que o documentarista Eduardo Coutinho (1997) já nos chamou atenção a uma escuta sensível. Escutar é um exercício de alteridade. Entendemos a escuta não apenas como ouvir fisiologicamente, mas como um ato de envolvimento com o mundo. A escuta também é multissensorial: escutamos não só com os ouvidos, mas com todos os sentidos, com todo o corpo. Nesta apresentação, trazemos uma discussão teórica sobre a escuta, a escuta no cinema, a escuta no ensino de som em cursos de cinema e audiovisual e, em seguida, contribuições para a construção de estratégias de reativação da escuta. Depois apresentamos duas Estratégias de Reativação da Escuta que, apesar de terem sido elaboradas para um contexto voltado aos cursos de graduação em cinema e audiovisual, podem ser utilizadas em cursos livres de audiovisual ou mesmo por realizadoras(es) audiovisuais que desejam experimentar a escuta. As estratégias são: a Cartografia Aural e a Orquestra de Improvisação Audiovisual (OIA). Não pretendemos fazer com que essas estratégias sejam métodos fechados, queremos que as estratégias sejam reconfiguradas, transformadas, a partir do lugar de cada um(a) que quiser fazer uso delas. Elas são processos abertos, são uma chamada para criarmos outras possibilidades de escuta partindo delas. Na última parte da apresentação, trago o resultado da aplicação destas estratégias na UFRB. Confirmamos ser possível a aplicação da pedagogia da Reativação da Escuta, assim como necessário experimentarmos mais a escuta, como um ato de engajamento com o mundo, dentro da universidade e dos cursos de Cinema e Audiovisual.
Bibliografia
- BÓRQUEZ, Gustavo Celedón. El field recording como ensayo. In: FREYCHET, A.; REYNA, A.; SOLOMOS, M. (ed.). Escuchando lugares: El field recording como práctica artística y activismo ecológico. Santa Fe: Ed. UNL, 2021.
COUTINHO, Eduardo. O cinema documentário e a escuta sensível da alteridade. Projeto História. v.15, jul./dez. Ética e História Oral, 1997.
FERREIRA, Marina Mapurunga de Miranda. Reativação da escuta: práticas sonoras experimentais como estratégias para o ensino de som em cursos de cinema e audiovisual. 2022. Tese (Doutorado) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2019.
HOOKS, bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. Trad. Marcelo Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2017.
STERNE, Jonathan. Afterword: Sound Pedagogy. In: BULL, M.; BACK, L. (ed.). The Auditory Culture Reader. NY: Routledge, 2016.