Ficha do Proponente
Proponente
- Juliano José de Araújo (UNIR)
Minicurrículo
- Professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Rondônia. Autor de “Documentário em Rondônia: realizadores, filmes e contextos de produção” (Motriz Edições, 2022) e “Cineastas indígenas, documentário e autoetnografia: um estudo do projeto Vídeo nas Aldeias” (Margem da Palavra, 2019). Doutor em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas com estágio na Université Paris X-Nanterre, mestre em Comunicação pela Universidade Estadual Paulista, onde se graduou em Jornalismo.
Ficha do Trabalho
Título
- Conflitos ambientais em Rondônia no cinema brasileiro dos anos 1980
Formato
- Presencial
Resumo
- Procuro traçar um panorama histórico sobre o cinema brasileiro e os conflitos ambientais na Amazônia, especificamente em Rondônia na década de 1980, período marcado por profundas transformações no estado decorrentes dos projetos de ocupação da ditadura militar. Discuto, em uma perspectiva comparada, os filmes Fronteira das almas (Hermano Penna, 1987), Mamazônia, a última floresta (Brasília Mascarenhas e Celso Luccas, 1996), e Rondônia, viagem à terra prometida (Sílvio Tendler, 1986).
Resumo expandido
- O povoamento da Amazônia tem sido realizado em ciclos devassadores, todos vinculados à expansão capitalista mundial, tais como a busca pelas drogas do sertão no século XVI ou os ciclos da borracha no final do século XIX e início do século XX. Entretanto, a partir da década de 1970, coube ao Estado brasileiro a realização de um novo devassamento da Amazônia: sua ocupação tornou-se prioridade máxima para a ditadura militar após o golpe de 1964. A região passou a ser considerada uma espécie de solução para os problemas de tensão social no Nordeste e para a continuidade do crescimento do Sudeste.
Um conjunto de estratégias para a ocupação da Amazônia foi adotado pelos governos militares: a implantação de redes de integração espacial (rodoviária, telecomunicações, urbana e hidrelétrica); a superposição de territórios federais sobre os estaduais (Amazônia Legal); e os subsídios aos fluxos de capital do Sudeste e do exterior para a região e a indução dos fluxos migratórios.
No caso específico de Rondônia, foco do recorte de minha pesquisa, destacam-se os projetos de colonização, lançados a partir de 1970. Com os slogans “Integrar para não entregar” e “Terras sem homens para homens sem terras”, divulgados pela propaganda governamental, a proposta do Estado era ocupar um espaço considerado como um suposto “vazio demográfico”, ignorando totalmente as populações tradicionais.
Como resultado, a região se tornou o cenário de inúmeros conflitos ambientais envolvendo, de um lado, os povos indígenas, os seringueiros e os ribeirinhos, que ali já habitavam e, de outro, uma multidão de migrantes do Nordeste e Sul do Brasil, em conjunto com grandes empreendimentos capitalistas. Para se ter uma ideia do cenário, nos anos 1960, Rondônia tinha uma população de 60 mil pessoas, número que saltou para mais de 500 mil moradores na década de 1980.
Tendo em vista esse contexto, questiono: Quais cineastas brasileiros voltaram suas lentes para essa problemática, que deixou profundas marcas em Rondônia sentidas ainda hoje? De que forma o assunto foi abordado nos filmes? Que gêneros cinematográficos foram privilegiados nessa tarefa? E os procedimentos de criação, os métodos de trabalho e as opções estéticas dos diretores? Quais as condições de produção dessas obras audiovisuais?
Discuto, em uma perspectiva comparada, os filmes Fronteira das almas (Hermano Penna, 1987), Mamazônia, a última floresta (Brasília Mascarenhas e Celso Luccas, 1996), e Rondônia, viagem à terra prometida (Sílvio Tendler, 1986), todos filmados em Rondônia na década de 1980.
O primeiro deles, Fronteira das almas, é, nas palavras de Hermano Penna, uma ficção herdeira do Cinema Novo que narra a história de dois irmãos, Cassiano, em Rondônia, e Tião, no Pará. Dispersos pelo Norte do país, o filme retrata a luta pela terra no contexto dos projetos de colonização implantados pelos governos militares e que não ofereciam nenhuma estrutura para os migrantes que chegavam diariamente a região.
Já o segundo, Mamazônia, a última floresta, é uma espécie de road movie amazônico documental, em que o casal de diretores percorre mais de 700 quilômetros da BR 364, rodovia que corta Rondônia, de Vilhena, município no interior, até a capital, Porto Velho, mostrando, de forma crítica e irônica, o processo de colonização desordenado no estado.
A última obra, o documentário Rondônia, viagem à Terra Prometida, foi originalmente exibido pela extinta TV Manchete no âmbito da série Os caminhos da sobrevivência, dirigida pelo jornalista Washington Novaes, um dos precursores na cobertura ambiental no Brasil. O documentário mostra as dificuldades e desilusões dos migrantes, pessoas simples que foram para Rondônia, em sua maioria pequenos agricultores.
Pretendo nesta comunicação traçar um panorama histórico sobre o cinema brasileiro e os conflitos ambientais na Amazônia, especificamente em Rondônia na década de 1980, um período marcado por profundas transformações jamais experienciadas na história do estado.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques e MARIE, Michel. A análise do filme. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2009.
BECKER, Bertha. As amazônias de Bertha K. Becker: ensaios sobre geografia e sociedade na região amazônica. Volume 2. Rio de Janeiro: Garamond, 2015.
CASTRO, Edna Ramos de; CAMPOS, Índio (Orgs). Formação socioeconômica da Amazônia. Belém: NAEA – Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, 2015.
KITAMURA, Elisabeth Kimie. Cinema e educação: o conflito socioambiental na representação fílmica de Adrian Cowell. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2017.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Trad. Mônica Martins. 6ª ed. Campinas: Papirus, 2016.
PERDIGÃO, Francinete; BASSEGIO, Luiz. Migrantes amazônicos – Rondônia: a trajetória da ilusão. São Paulo: Loyola: 1992.
RAMOS, Fernão; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs.). Enciclopédia do cinema brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Senac/Sesc, 2012.
SOUZA, Márcio. História da Amazônia. Manaus: Valer, 2009.