Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Felipe Corrêa Bomfim (UFMS)

Minicurrículo

    Professor na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Doutor e mestre em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Concluiu doutorado sanduíche na Universidade de Leeds, na Inglaterra. Gradou-se em Cinema pela Universidade de Bolonha, na Itália. Realizou um intercâmbio na Universidade de Colônia, na Alemanha e estagiou na Cinemateca de Viena, na Áustria.

Ficha do Trabalho

Título

    A plasticidade e o sensível em ‘Serras de desordem’ (2005)

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    Este estudo apresenta os desdobramentos do uso da encenação na direção de fotografia do documentário Serras da desordem (2005), de Andrea Tonacci. Acionamos os aspectos plásticos da obra, em constante diálogo com as práticas de encenação, a fim de notarmos o impacto da exploração do sensível na tela, que materializa a construção das camadas do tempo e da memória na subjetividade de Carapiru e o ambiente ao seu redor.

Resumo expandido

    Este estudo apresenta os desdobramentos do uso da encenação na direção de fotografia do documentário Serras da desordem (2005), de Andrea Tonacci. Neste sentido, nos atentamos aos impulsos e às recorrências mais arejadas do cinema verdade nesta obra a fim de discutirmos o papel da fotografia, as possíveis ressignificações das práticas operantes no documentário moderno repercutidas do documentário contemporâneo e assim de oferecer subsídios para futuros estudos mais aprofundados sobre essa temática.
    Em Serras da desordem (2005) notamos o impacto da exploração do sensível, em que a dimensão das sensações adquire primazia em detrimento ao discurso verbal, este último tão presente na historiografia do documentário brasileiro. Deste modo, vemos uma aproximação as práticas de encenação – presentes no documentário verdade e clássico –, em que tais práticas e suas ressignificações proporcionam um olhar atento da fotografia do filme, acionando aspectos plásticos na tela, de modo a mobilizar as camadas do tempo e da memória para repercutir as oscilações e nuances na densa relação entre o indígena Carapiru e o ambiente ao seu redor.
    Podemos observar um conjunto de características que mobilizam uma tendência do documentário contemporâneo na valorização de parâmetros da imagem, associada as práticas de encenação, como forma potencializadora de possibilidades criativas. Tais discussões foram alvo do encontro sobre a direção de fotografia no documentário, realizado durante a Mostra Fotógrafos do documentário brasileiro, no Forum Doc BH em 2005 (MESQUITA; RIBEIRO, 2005). Dentre as linhas de força debatidas neste encontro sobre o papel da fotografia nas produções documentais cabe destacarmos a importante menção sobre a dramaturgia e os aspectos dramáticos no documentário que remetem ao documentário clássico griersioniano, assim como as discussões sobre a construção de personagens, que já tomavam corpo nitidamente nas práticas documentais de Jean Rouch, no contexto do documentário moderno.
    Vemos o uso da encenação na fotografia do documentário Serras da desordem como detonadora de um conjunto de práticas adotadas no filme. A intersecção entre os usos do monocromático e o colorido no filme estão mais imbricadas com o campo dos afetos, em seus impactantes efeitos durante o desdobramento da narrativa do filme, do que necessariamente a tentativas mais verborrágicas e explicativas de outras correntes documentais anteriores. Em Serras da desordem (2005) vemos o uso do monocromático em diversos segmentos do filme com carga emocional ou mnemônica, como nos momentos iniciais do filme – com a profusão de imagens como a analogia ao sonho e ao pensamento -, ou ainda no momento da entrada dos homens brancos armados que, no instante que pisam no terreno indígena, temos o retorno ao monocromático.
    Acreditamos que as oscilações entre o uso do monocromático e cores são ditadas por meio do impacto visual e sonoro, que ora cede ao colorido, ora ao monocromático. Neste sentido, sentimos que os gestos e as ações, registrados nas tomadas do cinema direto, ao interagirem com certas circunstâncias, evocam a lembrança carregada de opacidade, como se evocasse pensamentos da mente de Carapiru. O monocromático surge de maneira abrupta, como a faísca de uma memória.
    Deste modo, sentimos que a valorização de parâmetros da imagem configura outras possibilidades criativas, pois mobiliza outros aspectos pertinentes à encenação, que agora, associados as potencialidades plásticas da direção de fotografia, assumem uma forma detonadora de uma possível experiência, ou ainda, assumem a possibilidade de revivenciá-la. Assim, temos um engajamento que transpassa a ordem do discurso e do argumento para alcançar uma dimensão sensível – desde elementos plásticos na tela, assim como o impacto dos corpos, olhares e gestos sutis diante da câmera – onde repousa os afetos e suas marcas nas imagens.

Bibliografia

    COOPER, Adrian. ForumDoc BH 2005. Mostra fotógrafos do documentário brasileiro. Belo Horizonte: Forum Doc BH, 2005.

    FORUMDOC BH 2005. Mostra fotógrafos do documentário brasileiro. Belo Horizonte: Forum Doc BH, 2005.

    MESQUITA, Claudia; RIBEIRO, Daniel. A fotografia no documentário: uma entrevista com cinco fotógrafos brasileiros. Belo Horizonte: ForumDoc BH, 2005. p. 145 – 160

    RAULINO. Aloysio. ForumDoc BH 2005. Mostra fotógrafos do documentário brasileiro. Belo Horizonte: Forum Doc BH, 2005.