Ficha do Proponente
Proponente
- Ludmila Moreira Macedo de Carvalho (UFRB)
Minicurrículo
- Ludmila Moreira Macedo de Carvalho é professora do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Coordena desde 2018 o projeto CineCecult – Laboratório de Apreciação e Análise do Audiovisual, onde desenvolve ações de ensino, pesquisa e extensão em cinema e educação. Em 2022 realizou pós-doutorado em Cinema e Educação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação da professora Adriana Mabel Fresquet.
Coautor
- Charles Morais de Souza (UFRB)
Ficha do Trabalho
Título
- Reflexões sobre os marcos regulatórios do cinema infantil no Brasil
Seminário
- Políticas, economias e culturas do cinema e do audiovisual no Brasil.
Formato
- Presencial
Resumo
- Pensando nas diversas instituições que regulam o cinema feito para e sobre crianças, interessa-nos investigar os marcos regulatórios do cinema infantil no Brasil, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e a classificação indicativa, em diálogo com a Lei 13.006/2014, que institui a obrigatoriedade da exibição de filmes nacionais nas escolas. Questionamos a visão de infância que orienta esses marcos legais e como eles podem contemplar as diversidades que permeiam as culturas das infâncias.
Resumo expandido
- Segundo Benjamin (2009), tanto a infância quanto o cinema são invenções da modernidade: o conceito de infância como um período importante de formação do sujeito nasce de forma inseparável das tecnologias de produção e reprodução da imagem que nos dão a ver as crianças de uma forma inédita, primeiro na fotografia e depois no cinema.
Quando pensamos neste cruzamento entre cinema, visualidades e infância, dois grandes caminhos logo se apresentam: o dos filmes que nos dizem algo sobre a infância, e o dos filmes feitos para crianças. Estes caminhos muitas vezes se cruzam, e algumas vezes ainda encontram uma terceira via, que é a dos filmes feitos por crianças, trilha certamente menos percorrida pelos estudos tradicionais de cinema mas que ganha força no campo das práticas pedagógicas de cinema e educação, por exemplo.
Neste trabalho, interessa-nos pensar justamente nesta encruzilhada entre o que significa dar a ver uma infância no cinema e tê-la como público-alvo, uma vez que as crianças talvez sejam o grupo de recepção mais atravessado por instituições – sejam as que produzem os filmes, as que os regulam, analisam, por vezes censuram, e as que mediam a sua distribuição e recepção, principalmente a família e a escola.
No Brasil, o Ministério da Cultura desempenha um papel importante na regulamentação do cinema infantil, tanto na produção quanto na exibição. Isso é possível graças a programas de incentivo, como o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), que oferece incentivos fiscais para projetos culturais, incluindo a produção de filmes. No país, o cinema destinado ao público infantil e infanto-juvenil é regulado por várias leis e normas que visam proteger as crianças e os adolescentes que assistem aos filmes. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tornou obrigatória a classificação indicativa de todos os filmes exibidos no país, que é realizada pelo Ministério da Justiça. O conteúdo dos filmes é avaliado e recebe uma classificação etária, que varia de “Livre” até “impróprio para menores de 16 anos”, de acordo com critérios próprios.
Os marcos regulatórios do cinema brasileiro foram estabelecidos com o objetivo de garantir que os filmes destinados ao público infantil e infanto-juvenil estejam adequados à faixa etária a que se destinam. A classificação indicativa é uma das ferramentas mais importantes nesse sentido, pois orienta os pais e responsáveis sobre o conteúdo dos filmes e ajuda a evitar que crianças e adolescentes sejam expostos a temas inapropriados para sua idade. No entanto, é importante perguntar: de que infância estamos falando?
Partimos, a princípio, de uma investigação a respeito da visão de infância que tende a balizar os marcos regulatórios do cinema infantil brasileiro, para em seguida trazer uma reflexão sobre as relações entre estes marcos e o papel formativo das obras diante do público infantil, especialmente em contexto escolar. Propomos um diálogo entre estes marcos regulatórios e a Lei 13.006/2014, que institui a obrigatoriedade da exibição de duas horas mensais de filmes nacionais nas escolas de Educação Básica. Ao mesmo tempo em que estabelece uma política de formação de público para o cinema nacional, a Lei reconhece que os filmes voltados para o público infantil lidam com importantes questões de formação subjetiva e identitária.
Partindo destes pressupostos, formulamos uma série de questões que irão nortear o trabalho: de que maneira os marcos regulatórios compreendem, por exemplo, os modos como as diferentes crianças se apropriam das imagens? De que modo seria possível contemplar as diversidades culturais, étnicas, sociais e regionais que permeiam o universo infantil e suas culturas e mediações? Como é possível fomentar produções que trazem temáticas e abordagens mais complexas e desafiadoras, que visam contribuir para a formação crítica e criativa das crianças, como é o objetivo da escola?
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. Infância e história: destruição da experiência e origem da história. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
ARIÈS, Philippe. Centuries of childhood. A Social History of Family Life. New York; Alfred A. Knopf, 1962.
BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades, 2009.
BRASIL. Lei Nº 13.006, de 26 de junho de 2014. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2014.
FANTIM, Monica. Crianças, cinema e educação: além do arco-íris. São Paulo: Annablume, 2011.
FRESQUET, Adriana. (Org.). Filmes brasileiros na escola? Coleção Cinemas e Educações. Rio de Janeiro: Multifoco, 2022.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA (Brasil). Secretaria Nacional de Justiça. Classificação Indicativa: guia prático de audiovisual. 4. ed. Brasília: [s. n.], 2021. 80 p.
MELO, João Batista. Lanterna Mágica: infância e cinema infantil. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
PARRY, Becky. Children, film and literacy. Springer, 2013.