Ficha do Proponente
Proponente
- Lígia Villaron Pires (UNICAMP)
Minicurrículo
- Mestranda em Artes Visuais pela UNICAMP, sob orientação do Prof. Dr. Cesar Baio, e bacharela em Midialogia pela mesma instituição. Tem experiência na área de Artes e Comunicação Visual. Sua atual pesquisa explora a queda enquanto movimento simbólico e caminho poético para criar propostas de vídeo-dança-instalação. Participa dos grupos de pesquisa ACTlab – arte, ciência e tecnologias desviantes (UNICAMP) e eXtremidades: redes audiovisuais, cinema, performance e arte contemporânea (PUC-SP).
Ficha do Trabalho
Título
- Modos de ver e ser corpo: a montagem como ampliadora de possibilidades
Formato
- Presencial
Resumo
- Partindo do trabalho seminal de Maya Deren, “A Study in Choreography for Camera”, de 1945, o presente artigo pretende abordar a relação entre imagem em movimento e dança e discorrer sobre como essa relação cria novas formas de ver e ser corpo: o corpo do bailarino, o corpo na tela, o corpo que dança. Serão analisados trechos de algumas obras audiovisuais, atentando-se para as técnicas de montagem e em como elas contribuem para criação de presença.
Resumo expandido
- Quando Maya Deren fez Talley Beatty flutuar em um grand-jeté em “A Study in Choreography for Camera” (1945), através da montagem rápida com enquadramentos ligeiramente distintos do mesmo salto, foi como se o tempo se alargasse e a gravidade se tornasse maleável.
A noção de “filme-dança”, proposta pela cineasta experimental, implica em “uma dança tão relacionada com a câmera e o corte que não pode ser “performada” como uma unidade em nenhum outro lugar” (DEREN, 1945, p. 1, tradução nossa) que não no espaço fílmico. Em seus filmes, Maya opera a linguagem cinematográfica de tal forma que acaba por oferecer ao corpo, de maneira precursora, novos caminhos poéticos e estéticos.
São muitos os elementos que podem contribuir na construção dessa linguagem híbrida que é hoje mais comumente denominada “videodança”. Nessa investigação, focaremos no elemento da montagem, de forma a examinar como sua utilização alarga as possibilidades da dança, modificando nossa própria percepção do corpo que dança e tornando possível “dançar o impossível” (KRAUS, apud CALDAS, 2012).
Partindo do exemplo seminal de Deren, o texto irá analisar trechos e aspectos de algumas obras audiovisuais que se relacionam com a noção de “filme-dança” de Deren. Cada qual associado a um contexto artístico e a um projeto de Cinema específico. São eles: “Thèmes et variations” (1928), de Germaine Dulac, “Dance in the sun” (1953), de Shirley Clarke (1953) e “Nine Variations on a Dance Theme” (1967), de Hillary Harris. Analisaremos a utilização da montagem paralela em “Thèmes e variations”, e em como isso contribui para a construção de um “corpo-máquina”; como também como o conceito de “geografia criativa” de Lev Kuleshov é utilizado e subertivo em “A Study in Choreography for Camera” e “Dance in the Sun”. Finalmente, nos atentaremos para a construção da montagem em “Nine Variations on Dance Theme”, que utiliza múltiplos pontos de vista da mesma sequência de dança, o que também foi experimentado por Lev Kuleshov em 1921.
Trabalhando com a noção de “recorporalização”, de Douglas Rosemberg (2012), que é a ideia de reconstrução do corpo que dança através de “técnicas das telas”, e de “efeitos de presença”, de Hans Ulrich Gumbretch (2010), o presente trabalho busca entender como é dada a construção visual e estética do corpo que dança e da própria dança em tais filmes e como elas contribuem para o desenvolvimento de um outro tipo de atenção e presença, que se distingue da presença cênica.
Bibliografia
- CALDAS, Paulo. Poéticas do Movimento: Interfaces. In: CALDAS, Paulo et al (Org.). Dança em foco: ensaios contemporâneos de videodança. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2012, p. 239-254.
CARROL, Noël. Toward a definition of moving-picture dance. Dance research journal, n. 33, 2001, p. 46-61.
DEREN, Maya. Choreography for the Camera. Dance Magazine, vol. 19, n. 10, outubro de 1945.
DEREN, Maya. Creative cutting. In: Essential Deren: collected writings on film. Kingston: Documentext, 2005.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: O que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, 2010.
ROSENBERG, Douglas. Recorporealization and the Mediated Body. In: Screendance: inscribing the ephemeral image. Nova Iorque: Oxford University Press, 2012.
OLENINA, Ana. Moto-Bio-Cine-Event: Constructions of Expressive Movement in Soviet Avant-Garde Film. In: ROSENBERG, Douglas (Org.). The Oxford Handbook of Screendance Studies. [s. l.]: Oxford University Press, 2016, p. 79-104.