Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Cíntia Langie Araujo (UFPel)

Minicurrículo

    Cineasta, pesquisadora e professora de Cinema. Docente da área de roteiro no curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) desde 2007. Atualmente coordena o projeto Circuito, para realização de roteiros em parceria com a comunidade. Mestre em Comunicação Social (2006) e Doutora em Educação (2020), com tese premiada pela CAPES. Atua na pesquisa acadêmica com ênfase nas questões relativas a cinema brasileiro, experiência estética e roteiro audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    A criação de histórias condicionada pela realização universitária

Seminário

    Estudos de Roteiro e Escrita Audiovisual

Formato

    Presencial

Resumo

    A proposta desta pesquisa é compartilhar peculiaridades do circuito de aprendizagem de roteiro no curso de Cinema e Audiovisual da UFPel, a partir de uma limitação e um foco: escrever dentro de um limite estabelecido de páginas, com a condição de ser algo possível de ser filmado de forma artesanal. O objetivo é investigar como alguns dispositivos pedagógicos de um curso superior de cinema direcionam a criação de histórias para audiovisual.

Resumo expandido

    Diante do fato de que a criação de histórias para cinema normalmente pressupõe um dimensionamento da produção, nesta pesquisa buscaremos compartilhar a experiência de um circuito de aprendizagem de roteiro em duas disciplinas do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A proposta é pensar a escrita a partir das limitações impostas pelo perfil formativo do curso, a fim de compartilhar experiências sobre o ensino de roteiro audiovisual na contemporaneidade. A pergunta de pesquisa é: como alguns dispositivos pedagógicos de um curso superior de cinema podem direcionar a criação de histórias para audiovisual?
    No curso da UFPel, existem três disciplinas obrigatórias de roteiro: Introdução ao Roteiro; Roteiro I e Roteiro II. Como professora responsável pelas duas primeiras, escrevo a partir de uma observação participante, refletindo sobre uma experiência de mais de 15 anos dando aulas de roteiro. A peculiaridade da trajetória de formação na UFPel é que em cada semestre os estudantes devem realizar um produto específico: um mini-curta de 1 minuto no primeiro semestre; um curta experimental de até 5 minutos no segundo; um curta-metragem de ficção de até 10 minutos no terceiro e outras variações ao longo do curso.
    As diferentes disciplinas de cada semestre centralizam suas avaliações nesse mesmo produto, de acordo com a especificidade de cada área. E toda essa dança inicia nas aulas de roteiro. Neste sentido, iremos pensar sobre o ensino de roteiro orientado a partir de algumas limitações: a definição de um número máximo de páginas dentro da formatação master scenes e a condição de escrever a partir de escolhas que viabilizem a produção de forma artesanal.
    Como diz Ikeda (2012), as decisões na feitura de uma obra audiovisual não são apenas estéticas, mas também estão atreladas a condições de produção. A condição de escrever pensando em algo que deverá ser realizado no âmbito universitário, com zero ou baixo orçamento e com equipes amadoras, acaba direcionando escolhas narrativas. Desse modo, o maior desafio nas aulas de roteiro é determinar balizas e, ainda assim, estimular a criação de histórias com densidade de personagem e conflitos singulares.
    Nesta pesquisa, nossa metodologia consiste em, inicialmente, compartilhar algumas práticas pedagógicas utilizadas em aula, como a exibição e análise de filmes curtos e a prática de solicitar que os alunos escrevam as etapas anteriores ao roteiro – principalmente a “lista de eventos”, um exercício prévio à escaleta (CAMPOS, 2007).
    Além disso, iremos apresentar alguns exemplos de roteiros escritos por estudantes, cujas identidades serão preservadas. Um destes chama-se “Uma dança”, roteiro de uma página, escrito em 2022, sobre um idoso que está numa cozinha, com o corpo e mãos sujos de sangue, e uma idosa, sua companheira, que o auxilia a limpar a sujeira. Na impossibilidade de trabalhar a profundidade das personagens através de diálogos e ações, o estudante criou uma situação que por si só já apresenta conflito e profundidade, isto é, escreveu em uma página uma ação de “tempo forte” (CHION, 1989), com a emoção elevada a um alto nível já na largada. As personagens são como circunstâncias. O conflito é posto de forma metafórica e não há uso de diálogos.
    Além disso, toda a história se passa em uma única locação – uma cozinha, o que facilita e possibilita a realização no primeiro semestre do curso. Nesse caso, a orientação pedagógica subverte e extrapola a estrutura em três atos (FIELD, 1995) para investir na provocação de inventar um “motor da história”, estimulando os alunos a desenvolverem uma engrenagem simples entre personagem, desejo e problema. Este e outros roteiros serão analisados para refletir sobre algumas dificuldades e outros aprendizados em torno das relações entre dispositivo e criação narrativa.

Bibliografia

    CAMPOS, Flavio de. Roteiro de cinema e televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

    CHION, Michel. O roteiro de cinema. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

    FIELD, Syd. Manual do roteiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

    IKEDA, Marcelo. Cinema e literatura: um exemplo de como os modos de produção fílmica podem influenciar as questões da adaptação. In: Revista Fronteiras – estudos midiáticos, Unisinos, janeiro/abril 2012.

    MÁRQUEZ, Gabriel García. Como contar um conto. Niterói, RJ: Casa Jorge Editorial, 2004.

    XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico: a opacidade e a transparência. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2012.