Ficha do Proponente
Proponente
- Vanessa Vieira dos Santos (UNICAMP)
Minicurrículo
- Graduada em História – Universidade Estadual de Maringá/UEM e graduada em Cinema pela Unespar. Mestranda em Cinema pelo programa de Multimeios /UNICAMP.
Produtora Cultural, educadora, atriz e diretora de audiovisual, atua em múltiplas funções e tem como foco de seu trabalho/pesquisa a criação e difusão de novas narrativas.
Aluna de mestrado com a pesquisa “ ÔRÍ – CAMINHOS DA ANCESTRALIDADE: Um estudo sobre a presença e o discurso de Beatriz Nascimento na construção de narrativas negras”.
Ficha do Trabalho
Título
- ÔRÍ: A DIÁSPORA E SUAS IMAGENS REFLETIDAS NO ESPELHO CORPO
Seminário
- Cinemas negros: estéticas, narrativas e políticas audiovisuais na África e nas afrodiásporas.
Formato
- Presencial
Resumo
- O presente trabalho propõe uma análise discursiva do documentário Ôrí, (1989) direção de Raquel Gerber, roteiro e narração da historiadora, poeta e ativista Beatriz Nascimento. A partir do levantamento de conceitos, ideologias e caminhos subscritos no documentário sobre a história, a representação e a presença negra na sociedade brasileira, pretendemos pensar os corpos negros e suas representações, tendo como base a diáspora africana, suas travessias e seus múltiplos e possíveis significados.
Resumo expandido
- Esta comunicação propõe uma análise discursiva do documentário Ôrí, de Raquel Gerber (1989), que tem como protagonista a historiadora, professora, poeta e ativista Beatriz Nascimento. Ôrí é resultado de pesquisas feitas por Beatriz, que assina o roteiro, texto e a narração do documentário. A partir do levantamento de conceitos, ideologias e caminhos subscritos no documentário sobre a história, a representação e a presença negra na sociedade brasileira, pretendemos pensar os corpos negros e suas representações, tendo como base a diáspora africana, suas travessias e seus múltiplos e possíveis significados, tomando como recorte a memória coletiva ancorada no corpo negro e o quilombo como território corporal. Aqui nos lançamos em um tatear sobre saberes incompletos no desejo de pensar o corpo, seus gestos, seus modos e sua linguagem como materialidade para a produção de memória e identidade.
Podemos dizer que o documentário Ôrí, através do roteiro de Beatriz Nascimento, traça um panorama potente da reconstrução da identidade negra no Brasil. O filme percorre uma linha atemporal que transita entre os movimentos negros brasileiros sucedidos entre 1977 e 1988, imagens do arquivo pessoal de Beatriz, escolas de samba, os bailes black, os movimentos negros e os terreiros de candomblé, buscando a relação entre Brasil e África e traçando um cenário social, político e cultural do país, onde a população negra ocupa lugar fundamental como agente tranformador e histórico, mostrando, assim, a importância dos quilombos na formação da nacionalidade.
O trabalho realizado por Beatriz Nascimento ao recuperar um ethos, uma forma de viver própria de uma sociedade transatlântica, propõe rupturas nesses imaginários já cristalizados pelo tempo. Em resposta a esse processo de colonização, escravização e inferiorização dos africanos e, posteriormente, dos seus descendentes em diáspora que foram então nomeados como negros, surge, em meados do século XX, um movimento de ressignificação positiva das identidades raciais negras, nomeadas como negritude. Esse conceito é aqui entendido tal como propõe o pensador Kabenguele Munanga (2009), ou seja, como fundamento da identidade negra, “a história comum que liga de uma maneira ou de outra todos os grupos humanos que o olhar do mundo ocidental ‘branco’ reuniu sob o nome de negros” (MUNANGA, 2009, p. 20). E neste contexto, apresentamos Ôrí como mais uma ferramenta proposta de construção de negritude.
O conceito de “Ôrí” é apresentado no documentário como uma forma de produção identitária para os negros em diáspora – uma relação entre intelecto e memória, entre cabeça e corpo, entre pessoa e terra. A encarnação do “Ôrí” não é um regresso ao passado em África, já que para a autora esta é uma terra que não mais representaria o sentimento de pertença. A história dos negros escravizados é a história de uma presença em terras de outros, portanto o corpo negro é o próprio território de pertença.
Como propõe Beatriz Nascimento no documentário Ôrí, o corpo seria o grande guardião da memória e o indivíduo seria sujeito e objeto de si mesmo. Os corpos dos negros se espelhariam entre si e se reconheceriam pelo contraste e pelo seu movimento ou deslocamento, desse corpo que carrega consigo um território abstrato, uma terra firme no “continente da memória”. O “eu” seguido de um recorte geográfico mostra já a potência do corpo que sustenta um oceano e dois hemis
No plano das subjetividades, da alma/soul, o canto, o choro e a energia de numerosos corpos negros que atravessaram esse mar criaram, nos fala Beatriz Nascimento, uma sociedade transatlântica. Uma sociedade negra que atravessa mares e o oceano e que se mantém conectada a partir das experiências. Quais sentidos carregam esses corpos? Que histórias foram escritas nestes documentos? Quem as lê? Até onde iremos, desconstruindo resíduos insolúveis que os impedem de ocupar seu território corpo? Na dança do grande mar, resistência é presença e papel é pele.
Bibliografia
- CARNEIRO, Aparecida Sueli. Construção do outro como não-ser como fundamento do ser. 2005.
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MOL, Annemarie. Políticas Ontológicas: Algumas Idéias e Várias Perguntas. Porto: Edições 70.
MUNANGA, Kabenguele. Negritude: usos e sentidos. Belo Horizonte:2009.
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