Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Cleide Mara Vilela do Carmo (PPGSOL/UnB | IFB)

Minicurrículo

    Professora de Produção Cultural no Curso Técnico de Produção em Áudio e Vídeo do Instituto Federal de Brasília (IFB). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de Brasília (PPGSOL/UnB), mestre em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional pela UnB. Tem experiência em pesquisa sobre financiamento à cultura e, atualmente, pesquisa o(s) cinema(s) brasileiro(s) em festivais internacionais de cinema no continente europeu.

Ficha do Trabalho

Título

    Festivais de cinema: o(s) cinema(s) brasileiro(s) em circulação

Formato

    Presencial

Resumo

    Este artigo tem o objetivo de discutir significados de cinema(s) brasileiro(s) no século XXI a partir da circulação dos filmes e realizadores/as brasileiros/as em festivais internacionais de cinema, especialmente, aqueles localizados no continente europeu. Portanto, descrevo o contexto de circulação em diálogo com políticas de diversidade cultural, seus efeitos no contexto nacional e considerações sobre as disputas por significados no(s) cinema(s) nacional.

Resumo expandido

    Esse artigo é parte da argumentação que estou desenvolvendo em minha tese de doutorado. A partir da abordagem teórica da virada da mobilidade na sociologia, discuto o espaço dos festivais de cinema como espaços em permanente construção e atualização que também constroem outros espaços por meio de relações em rede de seus/suas participantes (Sheller e Urry, 2006). A circulação de obras fílmicas e de realizadores/as audiovisuais em festivais internacionais de cinema, produz espaços e, ao se movimentarem modificam e constituem realidades sociais e materiais que se transformam em produtos ou uma rede de possíveis parcerias de mão-de-obra, reforço de políticas e trocas (Büscher e Urry, 2009) e, também, produzem significados sobre o que nós compreendemos sobre cinema. Desse modo, a mobilidade desses/as realizadores/as ajuda a pensar o lugar do movimento no funcionamento de instituições e práticas sociais e suas atualizações e construção a partir do movimento, isto é, não é apenas o modo como os/as realizadores/as tomam conhecimento do mundo, mas também, como elas fazem o mundo material e socialmente por meio das maneiras como se movem e são movidos (Buscher e Urry, 2009).
    Por outro lado, a literatura sobre o(s) cinema(s) brasileiro(s) no século XXI aponta para mudanças na composição do setor cinematográfico brasileiro ao considerar a ampliação do acesso a equipamentos e tecnologias de produção e distribuição de filme em digital, os modelos de produção coletiva e a circulação em mostras e festivais como uma forma de ganhar reconhecimento pela crítica e curadorias (Ikeda, 2021; Migliorin, 2011; Oliveira, 2014). Nesse artigo, gostaria de acrescentar a essas considerações as políticas desdobradas da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (2005), tentando discutir de que maneira festivais internacionais de cinema também ampliaram suas mostras, espaços de formação e financiamento de modo a agregar outros tipos de fazer cinematográfico.
    Meu argumento segue o de Renato Ortiz (2015) ao discutir a diversidade cultural como um tipo de universalismo que pode coadunar com uma estratégia de ampliação de mercados nas sociedades globalizadas e não, necessariamente, com a de um movimento de mudança social em que diferentes sociedades possam conviver com diferenças culturais. No entanto, a possibilidade de criar movimentos de ampliação de mercados, no caso do fazer cinematográfico, também abre espaços de circulação de outros tipos de fazer cinema que tensionam, inclusive, os cinemas nacionais e o pluralizam, caso dos cinemas negros, feministas e LGBTQIP+. Nesse sentido, discuto a possibilidade de cinema(s) brasileiro(s) no plural e os desdobramentos de disputas que podem ser complementares e/ou antagônicas a depender dos espaços, mas que geram também novas possibilidades e mudanças em instituições e políticas.

Bibliografia

    Buscher, M.; Urry, John. 2009. Mobile Methods and the Empirical. In: Sage Journals, V 12 I 1. Disponível em: https://doi.org/10.1177/1368431008099642
    Ikeda, Marcelo. 2021. Das garagens para o mundo: movimento de legitimação no cinema brasileiro nos anos 2000. Tese (Doutorado em Comunicação). Universidade Federal de Pernambuco.
    Migliorin, Cezar. Por um cinema pós-industrial: Notas para um debate. Cinética, fev 2011. Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/cinemaposindustrial.htm. Acessado em: 17 abr 2023.
    Oliveira, Maria Carolina Vasconcelos. 2014. “Novíssimo” cinema brasileiro: práticas, representações e circuitos de independência. Tese (Doutorado em Sociologia) Universidade de São Paulo, São Paulo.
    Ortiz, Renato. 2015. Universalismo e diversidade: contradições da modernidade-mundo. São Paulo: Boitempo.
    Sheller e Urry.Environment and Planning A, volume 38 2006.