Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    TAÍS DE BARROS (PUCRS)

Minicurrículo

    Mestranda em Comunicação Social (PPGCOM/PUCRS) na linha “Cultura e tecnologias das imagens e dos imaginários” (2022-). Possui graduação em Produção Audiovisual pela PUCRS (2021). Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Audiovisual, atuando principalmente nos seguintes temas: cinema, produção audiovisual.

Coautor

    Roberto Tietzmann (PUCRS)

Ficha do Trabalho

Título

    Não indicado para menores: os vestígios da pornochanchada na animação

Formato

    Presencial

Resumo

    No contexto brasileiro, há uma lacuna na pesquisa acadêmica voltada para as animações para o público adulto. Neste estudo, utilizamos a classificação indicativa como ponto de referência, para identificar filmes para maiores de 16 e 18 anos que compartilham características similares com as pornochanchadas dos anos 70. Portanto, nossa pesquisa concentrou-se em compreender de que forma as características das pornochanchadas influenciam as animações brasileiras destinadas ao público adulto.

Resumo expandido

    O cinema de animação é, em essência, multifacetado. Suas técnicas são capazes de se adaptar a diferentes gêneros narrativos (DENIS, 2010), da fantasia à ficção científica, do documentário ao terror, da comédia ao erotismo, apelos a plateias não-infantis. Esta comunicação faz parte de uma pesquisa de mestrado em andamento que analisa a trajetória e características da animação adulta brasileira, a fim de conceituá-la dentro de uma indústria emergente que difere de mercados consolidados internacionalmente. Podemos identificar animação para o público adulto pela classificação indicativa, responsável por arbitrar o que é recomendado ou não para que menores de idade assistam. A Secretaria Nacional de Justiça, responsável pela elaboração dos critérios, estabelece três eixos temáticos – “violência”, “sexo e nudez” e “drogas”. Dentro desses temas, existem ainda subtemas que indicam a restrição de idade para determinado público (BRASIL, 2021). buscamos identificar o que há de explicitamente adulto e não recomendado para menores de idade dentro da animação brasileira. As narrativas com erotismo estão presentes em obras fundadoras do cinema nacional, a partir de cineastas como Humberto Mauro e Luiz de Barros. Tem seu ápice na década de 70 com a ascensão das pornochanchadas, comédias eróticas com narrativas simples, onde o sexo representava o eixo temático e apelo comercial (GERBASE e TIETZMANN, 2013). As pornochanchadas foram responsáveis por uma crescente demanda do mercado exibidor (RAMOS e MIRANDA, 2004), com isso, se fez necessário a criação de seus subgêneros, tais como: filmes policiais com Amadas e Violentadas, aventura com 19 mulheres e 1 homem, terror com Belas e Corrompidas, entre outros (RAMOS e SCHVARZMAN, 2018). Em uma busca entre as animações brasileiras com classificação indicativa para maiores de 16 e 18 anos, encontramos filmes que dialogam com as temáticas das pornochanchadas, ainda que tenham sido produzidos em anos posteriores ao fim desse período. Filmes como: Amassa que elas gostam (1998) de Fernando Coster e El Macho (1993) de Ennio Torresan. Dessa forma, a presente pesquisa questiona: quais características da pornochanchada influenciaram o erotismo nas animações brasileiras?. Em Amassa que elas gostam, animação e cenas gravadas com atores reais se misturam. Esse híbrido cinematográfico está presente desde o princípio da animação em séries como Out Of The Inkwell de Max e Dave Fleischer. No filme, a protagonista Ana, uma mulher solitária, vai ao cinema e, por engano, entra em uma sessão de filme pornográfico. O choque entre sua realidade e as imagens que assiste lhe causam interesse e paixão pelo ator pornô Valdisnei – dublado pelo ator Nuno Leal Maia, que atuou em filmes de pornochanhada como O bom marido de 1978 e O príncipe do prazer de 1979 – ainda que, Valdisnei seja um boneco de modelar em miniatura. Em El Macho temos uma característica típica das pornochanchadas (ainda que não seja exclusivo do gênero): a estereotipização e sexualização da mulher, que ocorre quando há o chamado Male Gaze na narrativa, o olhar masculino na hora de representar o feminino, estudado pela pesquisadora Laura Mulvey (1989). Assim como nas pornochanchadas, identificamos subgêneros nessas comédias eróticas animadas, como o romance em Amassa que elas gostam e o suspense em El Macho. Ainda, as relações corrompidas, tão tradicionais as obras rodriguianas, estão presentes seja na personagem casta que busca o ato sexual com um boneco de massinha ou no detetive que sente atração pela mulher de seu contratante, que por sua vez, desconfia da fidelidade da mulher. As pornochanchadas, deixaram rastros na animação para público adulto brasileiro, ainda que esse não seja o único gênero possível dentro das animações para esse público. Podemos identificar referências, caricaturas e vícios criativos que transgridem tempo, censura e permitem que histórias e gêneros sejam transmutados através das técnicas animadas.

Bibliografia

    AMASSA QUE ELAS GOSTAM. Direção: Fernando Coster. Brasil: Casa de Produção, 1998.
    BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional de Justiça. Departamento de Promoção de Políticas de Justiça. Guia prático de audiovisual. 4. ed. Brasília: Secretaria Nacional de Justiça, 2021.
    DENIS, Sébastien. O cinema de animação. Lisboa: Texto & Grafia, 2010.
    EL MACHO. Direção: Ennio Torresan. Brasil, 1993.
    GERBASE, Carlos; TIETZMANN, Roberto. Se eu fosse um rato febril: representações do sexo no cinema brasileiro contemporâneo. In: GERBASE, Carlos; Gutfreind, Cristiane Freitas. Cinema em choque: diálogos e rupturas. 1ª ed. Porto Alegre: Sulina, 2013.
    MULVEY, Laura. Visual and other pleasures. New York: Palgrave, 1989.
    RAMOS, Fernão Pessoa; SCHVARZMAN, Sheila. Nova História do Cinema Brasileiro: Volume 2. 1ª ed. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2018.
    RAMOS, Fernão Pessoa; MIRANDA, Luiz Felipe. Enciclopédia do Cinema Brasileiro. 2ª ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004.