Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Tiago Bravo Pinheiro de Freitas Quintes (UFF)

Minicurrículo

    Técnico em Audiovisual (Instituto Federal Fluminense) e Pesquisador. Possui graduação em Cinema (Universidade Estácio de Sá – RJ) e especialização em Artes Visuais: Cultura e Criação (Senac – RJ). É Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCine – UFF), onde atualmente cursa o Doutorado.

Ficha do Trabalho

Título

    A noção de “empresa” nos primórdios da exibição: caso Rockert & Mayo

Formato

    Presencial

Resumo

    O presente trabalho discute a definição de “empresa” e sua forma de compreensão na historiografia do cinema brasileiro, especificamente sobre os primórdios da exibição cinematográfica. A proposta é feita a partir da análise das atividades que envolveram a chamada Empresa Rockert, de Campos dos Goytacazes (RJ) e de empreendimentos no ramo da exibição cinematográfica de Vitor Di Maio, italiano radicado no Brasil.

Resumo expandido

    Empresa Rockert é um termo que engloba os negócios da família Rockert, da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ). A Empresa Rockert se envolveu no ramo da exibição adotando diferentes nomenclaturas e estratégias. Foi denominada de diferentes formas em períodos variados: como W. Rochert ou W. Rockert e C.; Arthur Rockert & Comp.; ou Sebastião Rockert & C. (QUINTES, 2022). Além disso, os Rockert tinham como costume criar sociedade com outros trabalhadores do ramo para a implementação de empreendimentos cinematográficos pontuais, como a Empresa Rockert & Mayo, uma iniciativa de Arthur Rockert e Vitor Di Maio. Em 1906 a empresa Rockert & Mayo proporcionou exibições cinematográficas no Circo Salvini, em Campos dos Goytacazes. Vale ressaltar que naquele período a família Rockert era proprietária do Moulin Rouge, em Campos dos Goytacazes, onde proporcionava noites de espetáculos e exibições de cinematógrafo desde 1905. (QUINTES, 2022). Já em 1908, Arthur Rockert se uniu a outras pessoas para instalar um “biographo” no auditório do Caçadores Carnavalesco Club, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim (sul do ES). Foi publicado na imprensa local que estava na cidade o sr. Braz dos Santos, com objetivo de montar no clube um “biographo filial ao do Moulin Rouge que em Campos tem conseguido grande successo” (O Cachoeirano, 20/02/1908 p.2). Fica nítido que Rockert participou da empreitada quando é noticiado que o cinematógrafo estava sendo instalado pela empresa “Rockert, Ressiguier & Santos”. Em determinado momento, o jornal cachoeirano noticiou a saída de Braz dos Santos da “empresa” e revelou que ele havia retornado para Campos, ficando o estabelecimento sob gerência do Sr. Sarvulo Ressiguier. Portanto, Rockert, que aparentemente não se deslocou à Cachoeiro de Itapemirim, aparentava ser um financiador, um facilitador da instalação do cinema, deixando a parte técnica sob responsabilidade de Braz dos Santos e a administração de Sarvulo Ressiguier. Os Rockert, como visto, não se estagnaram no ramo da exibição ao abrir um espaço com exibições fixas em sua cidade de origem, pelo contrário, buscaram novas maneiras de explorar o negócio em variados locais.

    Crítica à noção de “empresa” adotada na historiografia:

    Por conta, talvez, da impregnação da ideia contemporânea de que o cinema acontece em um espaço fixo, a noção de “empresa” muitas vezes é compreendida pelos historiadores que analisam os primórdios do cinema como uma empresa sólida, afixada em um endereço. Na verdade, a palavra “empresa”, no período estudado, aponta mais para o significado de empreender – pôr em prática – do que a ideia de criação de uma firma sólida.
    Essa noção errônea acontece, por exemplo, em Barro (2000), quando o autor aborda os empreendimentos de Vitor Di Maio. O exibidor, após trabalhar no circo em Campos, em 1906, com a já citada empresa “Rockert & Mayo”, esteve, em janeiro de 1907 envolvido com a instalação do Cine Eden em Vitória (ES) sob a empresa Camões & Di Maio (MALVERDES, 2011) e continuou atuando em empreendimentos no ramo da exibição em cidades do Ceará, sozinho ou em associações (BARRO, 2000). Ao notar que a “empresa” Camões e Di Maio ficou por quatro meses à frente do Theatro João Caetano, em Fortaleza (CE), e depois foi substituída por Oliveira Coelho & Cia., Barro (2000) crê que os negócios não deram certo. A palavra “empresa” para o autor carrega um significado sólido, de uma instituição duradoura, e não de um empreendimento volátil, ou uma iniciativa inovadora feita em sociedade, como era a realidade do meio da exibição cinematográfica na primeira década do século XX.
    Daí a compreensão equivocada de alguns pesquisadores dos primórdios da exibição de que, se uma empresa não perdurou mais de alguns meses no negócio, isso se deve ao fracasso daquele empreendimento. Quando, na verdade, muitas iniciativas associadas podem ter sido feitas para realizações pontuais, como demonstram os exemplos citados acima sobre a Empresa Rockert e Vitor Di Maio.

Bibliografia

    BARRO, Maximo. Na trilha dos ambulantes. São Paulo: Editora Maturidade, 2000.

    O CACHOEIRANO. Cachoeiro de Itapemirim, 20 fev. 1908, Ano XXXI, n.8, p.2.

    _______. Cachoeiro de Itapemirim, 27 fev. 1908, Ano XXXI, n.9, p.2.

    MALVERDES, André. Memórias fotográficas: A história das salas de cinema de
    Vitória. Vitória: Projeto CINEMAES, 2011.

    QUINTES, Tiago Bravo Pinheiro de Freitas. Atrações visuais e os primórdios do cinema
    em Campos dos Goytacazes. Dissertação de mestrado. Niterói: Universidade Federal
    Fluminense, 2022.