Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Guilherme Fumeo Almeida (UFF)

Minicurrículo

    Doutor pelo PPGCOM-UFRGS. Realiza pós-doutorado no PPGMC/UFF. Integra o LACCOPS – Laboratório de Comunicação Comunitária e Publicidade Social – e o ARTIS – Grupo de Pesquisa em Estética e Processos Audiovisuais. Bolsista FAPERJ. Este estudo foi financiado pela FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, Processo SEI-260003/019696/2022. E-mail: almeidaguif@gmail.com.

Ficha do Trabalho

Título

    A crítica política humorística em Porta dos Fundos e Sinta-se em casa

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho pretende analisar, de forma complementar, a crítica política humorística de Porta dos Fundos e Sinta-se em Casa. Estruturado em dois eixos, o marco teórico parte das interfaces entre público e privado na formação sociopolítica brasileira e mundial, com base em Arendt (2002), Holanda (1995), Sennett (2014) e Fechine e Demuru (2022), e das reflexões de Bergson (1983), Jost (2012), Aumont (1995) e Jaguaribe (2010) sobre as relações entre humor, efeito de real/realidade e mise-en-scène.

Resumo expandido

    Lançado em 2012 e vendido em 2017 para a Viacom, grupo internacional de Comunicação, o coletivo audiovisual humorístico Porta dos Fundos tem como um dos principais temas dos seus esquetes a política: seus agentes, organizações, instituições e acontecimentos midiatizados são tomados como fonte de inspiração para roteiros transformados em produtos audiovisuais. Nos esquetes curtos exibidos no canal do coletivo no YouTube, que conta com mais de 17 milhões de usuários inscritos, o mundo vivido se entrelaça às narrativas cômicas do coletivo por meio de marcas discursivas identificadas por Jost (2012) como dispersão e persistência, incorporando elementos nas narrativas para causar sentidos de real e realidade (AUMONT, 1995).

    Os esquetes do programa Sinta-se em casa, por sua vez, foram originalmente exibidos de segunda a sexta-feira pela Rede Globo nos programas Encontro com Fátima Bernardes e É de Casa, ao longo de 2020, sendo disponibilizados no serviço de streaming Globo Play a partir de 2021. Os esquetes, também postados no YouTube com acesso livre desde 2020, têm entre dois minutos e meio e sete minutos de duração. Eles foram roteirizados e interpretados por Marcelo Adnet em sua residência, durante o isolamento social no contexto da pandemia de COVID-19, dentro de uma busca do humorista por incorporar elementos de figurino, trejeitos caricatos, imitação de voz e ambientações improvisadas para constituir as situações parodiadas. Predominantemente, os assuntos mais abordados nos esquetes foram metalinguagem (produtos, acontecimentos e personagens do universo midiático) e a política nacional.

    Considerando as especificidades estético-narrativas e de modos de produção de exibição dos esquetes do coletivo e do programa, este trabalho tem por objetivo realizar um diálogo entre o estudo complementar da crítica política humorística de Porta dos Fundos e Sinta-se em Casa e um marco teórico estruturado em dois eixos. O marco teórico parte das interfaces entre público e privado na formação sociopolítica brasileira e mundial, a partir de Arendt (2002) Holanda (1995), Sennett (2014) e Fechine e Demuru (2022), e das reflexões de Bergson (1983), Jost (2012), Aumont (1995) e Jaguaribe (2010) acerca das relações entre humor, efeito de real/realidade e mise-en-scène.

    Em um primeiro momento, é possível destacar movimentos de ambiguidade e multiplicidade na crítica política construída pelos dois objetos. Ao mesmo tempo em que assume midiaticamente o papel de enfrentamento ao poder constituído, por vezes com críticas ácidas e contundentes, revelando e compilando verdades travestidas de humor, Porta dos Fundos não defende de forma concreta qual deve ser o papel do cidadão diante dos absurdos encenados e discursos ironizados, sem abrir margens à ação individual ou coletiva para a transformação social. Sinta-se em Casa, por sua vez, apresenta uma forte crítica à política governamental de Bolsonaro por meio da imitação que causa familiaridade e reconhecimento e pelo exagero, pela distorção ou pelo simples registro (em meio ao universo distópico e ficcional dos esquetes) de uma realidade absurda e, portanto, risível. Os esquetes do programa também exacerbam a presença da esfera privada tanto no ambiente cenográfico (roupas, objetos de cena, locações) quanto na forma de tratar a política e o interesse público por parte dos representantes do governo federal.

Bibliografia

    ARENDT, Hannah. O que é política? Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

    AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas: Papirus, 1995.

    BERGSON, H. O riso: ensaio sobre o significado do cômico. Rio de Janeiro: Zahar,
    1983.

    FECHINE, Yvana; DEMURU, Paolo. Um bufão no poder: ensaios sociossemióticos. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2022.

    HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

    JAGUARIBE, Beatriz. Ficções do real: notas sobre as estéticas do realismo e pedagogias do olhar na América Latina contemporânea. Revista Ciberlegenda, nov. 2010, p. 06-14.

    JOST, François. Do que as séries americanas são sintoma? Porto Alegre: Sulina, 2012.

    SENNETT, Richard. O declínio do homem público. Rio de Janeiro: Record, 2014.