Ficha do Proponente
Proponente
- Libia alejandra castañeda lopez (UFPE PPGCOM)
Minicurrículo
- Doutoranda do programa de Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Bolsista Facepe (Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco). Possui graduação em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (2017) e mestrado em Literatura Comparada pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (2020). Tem experiência na área de Cinema, atuando principalmente nos temas: gótico tropical, literatura comparada, decolonialidade
Ficha do Trabalho
Título
- Uma leitura Macabra de Eami (2022) e La Llorona (2019)
Seminário
- Estudos do insólito e do horror no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho propõe realizar uma leitura sobre os elementos macabros presente nas obras fílmicas de Eami (Encina, 2022) e La llorona (Bustamante, 2019). O objetivo é responder como essas obras abordam a alteridade que se configura como artefato do medo, tendo em vista como estos filmes se situam enquanto encruzilhadas entre gêneros cinematográficos. Da mesma forma, as narrativas apresentam a diferença colonial históricamente sustentada pela violência contra as minorías políticas.
Resumo expandido
- Os repertórios imagéticos da América Latina têm sido compostos principalmente desde uma perspectiva eurocêntrica (PRATT, 2010). A partir do reconhecimento dos canibais por Colombo, a alteridade passou a ser um conceito chave para entender a bestialização do sujeito latino-americano, cuja origem remonta a invasão da América e a posterior colonização do território (QUIJANO, 2000; MIGNOLO, 2003). Para Joaquín Barriendos (2011), o canibalismo na América funciona como imagem-arquivo onde oscila a “redistribuição entre o ‘fora’ ontológico e o ‘dentro’ etnográfico das cartografias imperiais” (2011, p. 19, tradução própria). Essas cartografias traçam não somente os territórios e seus recursos, mas os sujeitos que os habitam.
Nelson Maldonado Torres (2007) cunhou o termo “Colonialidade do ser” para articular “os efeitos da colonialidade na experiência vivida, e não apenas nas mentes dos sujeitos subalternos” (2007, p. 130, tradução própria). A colonialidade do ser então questiona a essência da diferença colonial, segundo o autor, o termo distingue o limite entre o ser e a alteridade que fica presa no limite do não ser, e que pode ser trasladado ao corpo-território femenino das comunidades originárias (SEGATO,2014), onde toda a sorte de violências foram cometidas e que simultaneamente contempla “a produção de sentido estabelecido [que] ultrapassa a justiça” (2007, p.151, tradução própria). No caso, imagens que destacam a alteridade do espaço e dos corpos subalternos são reinterpretados criticamente a partir da cinematografia contemporânea de nossa região.
Eami (2022), quarta e última produção da cineasta paraguaia Paz Encina, está filmada completamente em língua Ayoreo. O filme retrata as violências as quais os Ayoreo-Totobiegosode, povo originário da região do Chaco entre o Paraguai e a Bolívia, têm sofrido devido ao deslocamento forçado e a relação com os menonitas colonos instalados na região. O filme procura retratar a dor do exílio que a comunidade sofre ao se encontrarem “fora de seu próprio lugar”. A maneira como o tema e a forma do filme foram construídos nos convidam a realizar uma leitura interseccional da obra. As relações interseccionais de poder se entrelaçam em questões de raça, gênero e classe em uma relato sobre desapropriação na região do Chaco Paraguaio, o que Patricia Hill Collins define como: “uma forma de entender e explicar a complexidade do mundo, das pessoas e das experiências humanas” (2021. p.17).
Enquanto La Llorona (2019), de Jayro Bustamante, usa uma lenda popular compartilhada por diferentes países latino-americanos para recriar o genocídio dos povos originários entre 1981 e 1983 na Guatemala a partir do uso do personagem monstruoso. Bustamante coloca na “encruzilhada” a “dor” para tecer duas sociedades que não se relacionam habitualmente, a elite guatemaltenha e os povos originários. Nesta interferência e descorporização da dor, pois afinal, a família burguesa é maltratada e perseguida nos sonhos, o autor gera um estranhamento. Este recurso convida a audiência a se debruçar sobre a memória coletiva guatemalteca e extende, simultaneamente, a reflexão do genocídio dos povos originários para toda a região, assim como a perseguição das populações periféricas.
No seminário proponho identificar aspectos do gênero terror ou horror que funcionam como ferramentas para a reflexão sobre a problemática relação entre a paisagem e o sujeito latino-americano nos filmes supracitados a partir de uma perspectiva do sul global. Proponho a realização de uma análise comparativa através da metodologia de constelação fílmica (SOUTO, 2020). Dessa forma, as análises comparativas intertextuais possibilitam compreender as motivações visuais da construção do medo à luz da história, da literatura e do cinema.
Bibliografia
- BARRIENDOS, J. La colonialidad del ver: hacia un nuevo diálogo visual interepistémico. Nómadas, 2011, no 35, p. 13-29.
MALDONADO-TORRES, Nelson. Sobre la colonialidad del ser: contribuciones al desarrollo de un concepto. El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global, 2007, p. 127-167.
MIGNOLO, Walter D. Historias locales/diseños globales: colonialidad, conocimientos subalternos y pensamiento fronterizo. Ediciones Akal, 2003.
QUIJANO, Anibal, et al. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. 2000.
PRATT, Mary. Ojos imperiales. Lecturas de viajes y transculturación. 2010.
SEGATO, Rita Laura. Las nuevas formas de la guerra y el cuerpo de las mujeres. Sociedade e estado, 2014, vol. 29, p. 341-371.
SOUTO, Mariana. Constelações fílmicas : um método comparatista no cinema. Galáxia no 45, set-dez, 2020, p. 153-165.