Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Filipa Raposo do Amaral Ribeiro do Rosário (CEComp-FLUL)

Minicurrículo

    Filipa Rosário é investigadora no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa, Portugal, onde ensina Cinema Português. É a autora de O Trabalho do Actor no Cinema de John Cassavetes (Sistema Solar, 2017) e co-editou New Approaches to Cinematic Spaces (Routledge, 2019), ReFocus: The Films of João Pedro Rodrigues and João Rui Guerra da Mata (EUP, 2022) e O Quarto Perdido do MotelX. Os Filmes do Terror Português (1911-2006) (MoteLX, 2022).

Ficha do Trabalho

Título

    Migração e natureza latino-americana no documentário transnacional con

Seminário

    Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas

Formato

    Presencial

Resumo

    O trabalho analisa as paisagens “naturais” de Territorio (Cuesta, 2016), El mar la mar (JSniadecki e Bonnetta, 2017) e ELDORADO XXI (Lamas, 2016), para compreender de que forma o documentário contemporâneo transnacional codifica a atual estrutura de sentimento apocalíptica gerada pelo tardo capitalismo e globalização. Fá-lo, examinado a experiência sublime da paisagem “natural” latino-americana, contribuindo, assim, para a conceptualização do sublime enquanto categoria estética não-eurocêntrica.

Resumo expandido

    O zeitgeist contemporâneo corresponde à experiência global de “precariedade, sobre-exploração, solidão extrema e humilhação disseminada (Berardi, 2023), dando origem a uma sensação generalizada do fim dos tempos, em última análise gerada pela desarticulação das relações coletivas devido a políticas e mentalidades neoliberais.

    Migração e capitalismo entrelaçam-se numa relação dialética de formação e transformação recíproca. Os movimentos transatlânticos de pessoas foram as premissas das primeiras formações capitalistas que, no séc. XIX, geraram regimes de colonialismo, deslocação, e recolocação de populações – escravizadas, precárias ou proletárias (Lem & Barber 2013: 357-8). A migração enquanto fenómeno social sempre foi efeito da expropriação de terras, que, na era contemporânea, se liga à acumulação capitalista da propriedade privada (Nail 2015: 6). Hoje, o migrante é considerado uma figura-chave do século XXI (UN’s Global Trends Report 2021).

    Em Territorio (Alexandra Cuesta, Equador, 2016, 65’), a câmara atravessa o Equador, viajando no oceano, pelas montanhas, acabando na selva, retratando paisagens e a população. El mar la mar (J.P. Sniadecki e Joshua Bonnetta, EUA, 2017, 94’) filma o Deserto de Sonora, na fronteira entre o México e os Estados Unidos da América, onde se localiza um dos trilhos mais fatais percorridos pelos imigrantes ilegais daquela parte do mundo. ELDORADO XXI (Salomé Lamas, Portugal, 2016, 125’) retrata a comunidade de mineiros que vive, em pobreza extrema, nos Andes peruanos. Foram viver para La Rinconada Y Cerro Lunar, a 5500 metros de altitude, na demanda do ouro que poderá trazer condições básicas de vida. Todos estes filmes tematizam a ideia de movimento, de migração, em territórios não-ocidentais através de experiências com a natureza.

    Este trabalho parte da análise formal das paisagens “naturais” ocidentais retratados nos movimentos destes três filmes, para compreender de que forma o cinema contemporâneo transnacional codifica a atual estrutura de sentimento (Williams, 1980) apocalíptica, gerada pelo tardo capitalismo e pela globalização.Será considerada a representação do mundo natural em articulação com o sublime, pois esta é a categoria estética que mais ajustadamente alberga narrativas apocalípticas (Germana & Mousoutzanis 2014). Assim, este trabalho aborda o sublime enquanto conceito fílmico, provocado por uma experiência psicofisiológica, isto é, implicando a fusão ambígua entre medo e prazer gerada por uma vivência ou espetáculo avassalador (Burke, 1757). Desta forma, o trabalho apresenta, também, um quadro teórico e analítico no âmbito da investigação do sublime contemporâneo enquanto conceito não-eurocêntrico.

Bibliografia

    Bayraktar, N. (2016) Mobility and Migration in Film and Moving-Image Art: Cinema Beyond Europe. Taylor & Francis.
    Burke, E. & Phillips, A. (2008) A Philosophical Enquiry into the Origin of Our Ideas of the Sublime and Beautiful. Oxford Univ. Press.
    Demos, TJ. (2013) The Migrant Image: The Art and Politics of Documentary during Global Crisis. Duke Univ. Press.
    Ezra, E. & Rowden, T. (2006) Transnational Cinema: The Film Reader. Routledge.
    Kazecki, J., Ritzenhoff, K. A. and Miller, C. J. (2013) Border Visions: Identity and Diaspora in Film. The Scarecrow Press.
    O’Brien, Adam. (2017) Film and the Natural Environment: Elements and Atmospheres. Columbia Univ. Press.
    Naficy, H. (2001) An Accented Cinema: Exilic and Diasporic Filmmaking. Princeton Univ. Press.
    Trifonova, T. (Ed) (2019) Contemporary visual culture and the sublime. Routledge.