Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Reinaldo Cardenuto Filho (UFF)

Minicurrículo

    Reinaldo Cardenuto é Professor Adjunto do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense e possui doutorado em Meios e Processos Audiovisuais (ECA-USP). Dentre suas publicações, encontra-se o livro “Por um cinema popular: Leon Hirszman, política e resistência” (Ateliê Editorial, 2020). Em 2016, dirigiu o documentário “Entre imagens (intervalos)” e organizou o livro “Antonio Benetazzo, permanências do sensível”. Atualmente, dedica-se a estudos sobre história, cinema e teatro.

Ficha do Trabalho

Título

    Vianinha, roteirista de cinema

Seminário

    Cinema no Brasil: a história, a escrita da história e as estratégias de sobrevivência

Formato

    Presencial

Resumo

    Para além de escritor teatral e televisivo, Vianinha também atuou como roteirista de cinema. Entre 1971 e 1975, seus roteiros originaram filmes como Em família e O casal. Em comum entre eles, a tentativa de Vianinha em adaptar textos que escreveu para outros meios artísticos. A descoberta de um roteiro inédito do autor, em torno de sua peça Corpo a corpo, é mais um item desta história não contada: o deslocamento de dramaturgos comunistas para o campo cinematográfico no decorrer dos anos 1970.

Resumo expandido

    Nos últimos anos de sua vida, sobretudo entre 1971 e 1974, Oduvaldo Vianna Filho viveu a necessidade de ampliar seus processos de criação para além do teatro. Diante das crises vividas naquele momento pelo setor teatral, a exemplo da perseguição da censura às peças e aos autores engajados, Vianinha optou pela ampliação de seu trabalho como roteirista televisivo, algo que lhe garantiria estabilidade salarial e a possibilidade de prosseguir com sua trajetória como dramaturgo. Por cerca de três anos, no ápice da violência praticada pela ditadura, o autor atuou como escritor contratado pela Rede Globo de Televisão, desenvolvendo uma comédia palatável, mas crítica às contradições presentes no projeto modernizante do regime militar. De certo modo, o papel desempenhado por Vianinha na Rede Globo é relativamente conhecido. A partir de pesquisas feitas por Sandra Pelegrini (2001), Giordano Bruno dos Santos (2011) e Roberta Alves Silva (2015), atualmente existe uma série de reflexões acerca do período no qual o dramaturgo escreveu roteiros para a emissora.

    Em tempos recentes, verifica-se um esforço das pesquisas históricas no sentido de estudar a trajetória de Vianinha não somente no campo do teatro ou em sua atuação como militante do Partido Comunista Brasileiro. A abertura que ocorreu em relação à sua escrita televisiva, no entanto, ainda não parece suficiente para uma análise mais completa do múltiplo percurso realizado pelo artista. Até o momento, permanece ignorado, e até mesmo desconhecido, o trabalho que ele realizou como roteirista dentro do campo cinematográfico.

    Apesar de os textos panorâmicos sobre Vianinha abordarem rapidamente o seu percurso como ator de filmes (cf. 1997; 2000), são raras as linhas dedicadas à tentativa do dramaturgo em atuar profissionalmente no campo do roteiro cinematográfico. Do mesmo modo que encontrou na televisão um caminho para a sua sobrevivência econômica e criativa, Vianinha também enxergou no cinema possibilidades ampliadas de seguir adiante em seu papel como autor ficcional. Entre 1970 e 1971, por meio de dois trabalhos, tal projeto teria efetivamente início. Além do argumento para o episódio “O torneio”, parte do longa-metragem O doce esporte do sexo, Vianinha também escreveria o roteiro de Em família, um filme que surgia como adaptação de sua peça Nossa vida em família.

    O projeto do autor em tornar-se roteirista de cinema, porém, durou pouco. Falecido em 1974, Vianinha teria participação criativa em apenas dois outros filmes: ao lado de Armando Costa, escreveria o roteiro de Ainda agarro esta vizinha (1974), inspirado em sua peça Allegro desbum; assim como deixaria pronto o material para o longa-metragem O casal (1975), adaptação de um programa que escrevera para a Rede Globo.

    Uma visada rápida naquilo que o dramaturgo redigiu para cinema evidencia um aspecto. À exceção do episódio presente em O doce esporte do sexo, nos demais casos Vianinha voltou-se para adaptações fílmicas de suas próprias peças ou obras televisivas. Não espanta, portanto, a descoberta feita recentemente a partir de pesquisas: a versão inicial, com 38 páginas, de um roteiro cinematográfico escrito pelo autor em 1972 com o intuito de levar para as telas uma de suas obras-primas teatrais, Corpo a corpo. Em tal documento, inédito, evidencia-se não apenas o esforço dramatúrgico de Vianinha em ajustar a sua peça para o formato de filme, mas principalmente a tentativa do artista em deslocar para o cinema um de seus textos políticos mais densos e sufocantes, no qual se discute o terrível preço a ser pago por uma classe intelectual de esquerda que se sujeita aos prazeres e ditames da Indústria Cultural. Concentrando-se na análise deste documento, sem deixar de tratar de aspectos gerais sobre a relação de Vianinha com o cinema, a comunicação pretende colocar em questão algo aparentemente não estudado: uma tendência verificada nos anos 1970, de deslocamento de dramaturgos teatrais comunistas para a atividade cinematográfica.

Bibliografia

    BETTI, Maria Sílvia. Oduvaldo Vianna Filho. Coleção Artistas Brasileiros. São Paulo: Edusp/FAPESP, 1997.

    NAPOLITANO, Marcos. Coração civil: a vida cultural brasileira sob o regime militar (1964-1985). São Paulo: Intermeios, 2017.

    MORAES, Denis de. Vianinha, cúmplice da paixão. Uma biografia de Oduvaldo Vianna Filho. Rio de Janeiro: Record, 2000.

    PELEGRINI, Sandra. “Televisão, política e história: dimensões da problemática social na teledramaturgia de Vianinha”. Revista de História Regional, n.6, v.2, 2001, p. 127-148.

    SILVA, Roberta Alves. A grande família: intelectuais de esquerda, Rede Globo e censura durante a ditadura militar (1973-1975). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2015.

    SANTOS, Giordano Bruno Reis dos. Vianinha e a Grande família: intelectuais de esquerda no Brasil dos anos 1970. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal Fluminense, 2011.