Ficha do Proponente
Proponente
- Angelita Maria Bogado (UFRB)
Minicurrículo
- Docente do Curso de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFRB/PPGCOM. Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (UFBA). Coordena o Grupo de Estudos em Experiência Estética: Comunicação e Artes (GEEECA)-UFRB/CNPq. Atualmente se dedica aos estudos dos cinemas periféricos com a pesquisa intitulada “Recôncavo da Bahia em imagens umbigadas: corpos da cena/em cena afeto e futuro”.
Coautor
- Scheilla Franca de Souza (PPGCOM/UFRB/CAPES)
Ficha do Trabalho
Título
- Corpos da cena/em cena: o audiovisual nas naturezas do comunitário
Seminário
- Cinemas decoloniais, periféricos e das naturezas
Formato
- Presencial
Resumo
- Para pensar as inter-relações entre natureza, afeto, território e ancestralidade plantamos nosso olhar na fabulação audiovisual Pretos ganhando dinheiro incomoda demais (Criolo, 2023). Imaginada por estudantes do Projeto Soma+, o clipe se enraíza no saber ancestral. O fruto da coletividade é cultivado na encruzilhada entre as violências da matriz colonial e os saberes dissidentes. Para colher imagens de inversão, vamos investir na sensibilidade analítica das naturezas dos corpos em cena/da cena.
Resumo expandido
- Das relações de afeto entre os estudantes do Projeto Soma+ nasce Pretos Ganhando dinheiro incomoda demais (Criolo, 2023), uma fábula audiovisual que, na sua proposição, semeia elementos estético/políticos de naturezas históricas e de saberes dissidentes que remetem a herança afrodiaspórica nas Américas.
Para colher imagens contra hegemônicas, vamos investir na sensibilidade analítica das naturezas dos corpos em cena/da cena (BOGADO e SOUZA, 2022). Nesse sentido, nos parece interessante pontuar nossa concepção de corpo da cena/corpo em cena. O conceito foi construído a partir da ideia de mise-en-scène (COMOLLI, 2008), contudo, trouxemos as relações de vida/arte, próprio/comum, território/espaço-fílmico, incorporando ao pensamento de Comolli, as dinâmicas de vida responsáveis por parir as corporalidades audiovisuais, em suas performances da cena (ou seja, o corpo audiovisual em diálogo com o vivido) e nas performances em cena (corpos filmados que emanam vivências e desaguam no engajamento da espectatorialidade).
Nossa investigação sobre os corpos da cena/em cena do videoclipe, nos permite observar, por meio da sensibilidade analítica interseccional, essa oferenda ancestral (AKOTIRENE, 2019) em diálogo com os cruzos (RUFINO, 2019), e as performances do tempo espiralar (MARTINS, 2022).
A interseccionalidade, enquanto conceito da teoria crítica do feminismo negro, instrumentaliza e aponta o pensamento para a questão da inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo, sexismo, opressão de classe e patriarcado – responsáveis pelo extrativismo histórico brasileiro. As imagens do clipe de Criolo enfrentam esta encruzilhada teórica e propõe uma outra cartografia do saber, reconectando natureza e humanidade e tantos outros modelos dicotômicos produzidos pelo capital global.
Esta ecologia da imagem, ancorada na inseparabilidade das coisas, compõe o ebó metodológico de natureza decolonial que ofertamos. Ao mirarmos esta fábula audiovisual, nosso olhar espectatorial analítico/fabulatório encontra os olhos mareados da protagonista – carregados de afeto e luta – um cruzamento que nos alimenta e nos dá sombra e encantamento para trazer-nos e encontrar-nos nesta escrita, imaginada por nós e entre nós.
A fábula começa com uma criança negra em um território periférico, com sua família, vendo pela televisão imagens hegemônicas sobre as populações daquela morada. Por meio de uma moeda, guardada em um porta-joias, com a inscrição ano de 1835 e uma árvore no verso, são acionadas lutas históricas e forças ancestrais. Os corpos da cena – aspectos estéticos – são arvorados, como o movimento de crescimento da árvore, do chão à copa, e dão a ver a Anastácia sem a máscara, liberta para falar. Vemos também a criança com a frontalidade do rosto, o rodar das moedas nas mãos, uma árvore genealógica em forma de fotografias. A ancestralidade e os corpos em cena/da cena a ela relacionados aparecem ligados à natureza do cotidiano. Estes elementos vão mostrar o ancestral em seu caráter vivo e coletivo, mobilizando-o para as lutas históricas que seguem necessárias.
A criança, a realeza ancestral, a pipa são elementos que apareceram em nossos estudos anteriores (BOGADO e SOUZA, 2022) nos audiovisuais periféricos, que aqui se unem à natureza (a madeira dos objetos de culto, o metal da moeda, a árvore de Ouro, o mar dos olhos, a terra). Estes corpos em cena, acionados pelos aspectos estéticos dos corpos da cena, rompem com o sistema de poder e lógica da branquitude, com o brotar das árvores de Ouro em outros territórios periféricos, nutrindo a relação entre natureza e coletividade.
Bibliografia
- AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
BOGADO, Angelita. SOUZA, Scheilla F. de. A origem é o alvo: imagens que tocam o futuro do lado de cá. In. Caderno de Resumos – XXV Encontro SOCINE, 2022 p. 199. Disponível em: https://sites.usp.br/socine25/caderno-de-resumos/ Acesso em 03/abr./2023
BOGADO, Angelita Maria; SOUZA, Scheilla Franca de; ALVES JUNIOR, Francisco. Sob a Constelação da Umbigada no Samba de Roda: Imagens Decoloniais, o Cruzar de Pontes Entre Nós. Ação Midiática – Estudos em Comunicação, Sociedade e Cultura., [S.l.], jan. 2023. ISSN 2238-0701.
GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988, p. 69-82.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Cobogó, Rio de Janeiro, 2022.
RUFINO, Luiz. Pedagogia das encruzilhadas. Mórula, Rio de Janeiro, 2019.