Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Felipe Davson Pereira da Silva (UFF)

Minicurrículo

    Graduado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Doutorando em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente, desenvolve pesquisas sobre a História do Cinema no período silencioso, com ênfase na formação de um circuito exibidor em Recife nos anos 1910 e no combate nacional aos estabelecimentos cinematográficos que eram pejorativamente denominados cinemas “livres/alegres”.

Ficha do Trabalho

Título

    Combate às “fitas imorais”: moralização do cinema da França ao Brasil?

Formato

    Presencial

Resumo

    Partindo de dois congressos ocorridos em Paris, entre os anos 1908 e 1910, este trabalho busca analisar as dinâmicas internacionais de combate à pornografia, e quais sinais delas podemos observar no Brasil, especificamente nos estabelecimentos cinematográficos. Através de jornais e documentos da época, seguiremos os rastros de como esse debate estrangeiro se inseriu no país e como foi incorporado nas discussões sobre a moralidade em nossas salas de cinemas nos anos de 1910.

Resumo expandido

    Em 1908, ocorreu, em Paris, o Congrés International contre la pornographie. Com a participação de vários países, esse encontro tinha como objetivo debater e estabelecer um projeto de combate à publicação e comercialização de imagens e textos então considerados pornográficos. Duas associações que rechaçavam a literatura e a iconografia pornográficas desde o final do século XIX, como a Associação Suíça Contra a Literatura Imoral ou a Liga pela Recuperação da Moralidade Pública (França), perceberam que, devido à extensão do “problema”, seria necessário organizar um programa de repressão à pornografia em parceria com outros países, visto que essa não era uma “praga” exclusiva de um ou outro território. Segundo os membros desse congresso, novos métodos de distribuição e vendas desses produtos, mesmo com as leis que já tentavam exercer algum tipo de controle sobre eles, careciam de maior regulação para o controle de tais obras. Afinal, potencialmente, milhões de pessoas poderiam ter acesso a elas, inclusive dentro de estabelecimentos cinematográficos. Ao todo participaram oitenta e seis associações antipornografia, sendo quarenta e quatro delas estrangeiras. O Brasil, que naquele momento não combatia a pornografia através de associações, não enviou representantes. Contudo, em 1910, um advogado e um agente diplomático brasileiros foram para Deuxième Conférence Internationale Pour La Répression de La Traite Des Blanches, também realizada em Paris. Dentre os vários pontos debatidos, o da repressão à circulação de publicações obscenas, bem como de “filmes imorais”, foi percebido como uma necessidade universal. Em tal congresso, buscou-se analisar as legislações nacionais, inclusive a brasileira, buscando formas de alterá-las para que pudessem ser úteis no combate à pornografia. Este trabalho analisa indícios da influência dessa movimentação internacional nos argumentos nacionais da luta para conseguir “conter a desmoralização do cinema no Brasil”. Com a formação dos circuitos exibidores pelo país, a demanda por filmes só aumentava e diversas sucursais instalaram seus escritórios em vários estados buscando uma melhor distribuição. Ao mesmo tempo, frações da sociedade procuravam formas de controlar e influenciar o que era exibido, tendo como alvo prioritário a criação de legislação específica. Podemos citar como exemplo a formação da Liga Antipornográfica, fundada em 1912 pelo Círculo Católico. Sediada no Rio de Janeiro, tinha como proposta “combater a pornografia sob todos os aspectos e com todos os meios lícitos ao seu alcance” (Francisco Ferreira de Almeida, 1912, p. 1-2). Segundo seus membros, sua função seria tirar a sociedade do “lamaçal de vícios e de imoralidade” (A Cruz, Mato Grosso, 09 jun 1912, p.1-2) que se encontrava. Constituiremos como fontes jornais e documentos da época, nos quais constam indícios que permitem observar a circulação de textos contra os espaços fílmicos que eram taxados como “alegres/livres” no período posterior aos encontros internacionais, que coincidiu com o início do desenvolvimento de ligas antipornográficas pelo país, as quais condiziam em parte de seus argumentos e propostas com o que havia sido debatido, alguns anos antes, em Paris.

Bibliografia

    Arquivo Nacional, fundo GIFI – Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
    CARDOSO, Erika Natasha. “E como não ser pornográfico?”: usos, sentidos e diálogos transnacionais em torno da pornografia no Brasil (1880-1924). Tese (Doutorado em História) Programa de Pós-graduação em História. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
    LAPERA, Pedro Vinicius Asterito. Entre “alegres” e “livres”! Prazer e repressão à pornografia nos cinemas do Rio de Janeiro (1907-1916). E-compós (Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação), v. 22, jan–dez, publicação contínua, 2019, p. 1–24.
    Liga Anti-pornographica do Rio de Janeiro. A Cruz, Mato Grosso, 09 jun 1912, p.1-2.
    PEREIRA, Cristina Schettin. Um gênero alegre: imprensa e pornografia no Rio de Janeiro (1896-1916). Dissertação (Mestrado em História) Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Estadual de Campinas, 1997.