Ficha do Proponente
Proponente
- Felipe Davson Pereira da Silva (UFF)
Minicurrículo
- Graduado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Doutorando em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Atualmente, desenvolve pesquisas sobre a História do Cinema no período silencioso, com ênfase na formação de um circuito exibidor em Recife nos anos 1910 e no combate nacional aos estabelecimentos cinematográficos que eram pejorativamente denominados cinemas “livres/alegres”.
Ficha do Trabalho
Título
- Combate às “fitas imorais”: moralização do cinema da França ao Brasil?
Formato
- Presencial
Resumo
- Partindo de dois congressos ocorridos em Paris, entre os anos 1908 e 1910, este trabalho busca analisar as dinâmicas internacionais de combate à pornografia, e quais sinais delas podemos observar no Brasil, especificamente nos estabelecimentos cinematográficos. Através de jornais e documentos da época, seguiremos os rastros de como esse debate estrangeiro se inseriu no país e como foi incorporado nas discussões sobre a moralidade em nossas salas de cinemas nos anos de 1910.
Resumo expandido
- Em 1908, ocorreu, em Paris, o Congrés International contre la pornographie. Com a participação de vários países, esse encontro tinha como objetivo debater e estabelecer um projeto de combate à publicação e comercialização de imagens e textos então considerados pornográficos. Duas associações que rechaçavam a literatura e a iconografia pornográficas desde o final do século XIX, como a Associação Suíça Contra a Literatura Imoral ou a Liga pela Recuperação da Moralidade Pública (França), perceberam que, devido à extensão do “problema”, seria necessário organizar um programa de repressão à pornografia em parceria com outros países, visto que essa não era uma “praga” exclusiva de um ou outro território. Segundo os membros desse congresso, novos métodos de distribuição e vendas desses produtos, mesmo com as leis que já tentavam exercer algum tipo de controle sobre eles, careciam de maior regulação para o controle de tais obras. Afinal, potencialmente, milhões de pessoas poderiam ter acesso a elas, inclusive dentro de estabelecimentos cinematográficos. Ao todo participaram oitenta e seis associações antipornografia, sendo quarenta e quatro delas estrangeiras. O Brasil, que naquele momento não combatia a pornografia através de associações, não enviou representantes. Contudo, em 1910, um advogado e um agente diplomático brasileiros foram para Deuxième Conférence Internationale Pour La Répression de La Traite Des Blanches, também realizada em Paris. Dentre os vários pontos debatidos, o da repressão à circulação de publicações obscenas, bem como de “filmes imorais”, foi percebido como uma necessidade universal. Em tal congresso, buscou-se analisar as legislações nacionais, inclusive a brasileira, buscando formas de alterá-las para que pudessem ser úteis no combate à pornografia. Este trabalho analisa indícios da influência dessa movimentação internacional nos argumentos nacionais da luta para conseguir “conter a desmoralização do cinema no Brasil”. Com a formação dos circuitos exibidores pelo país, a demanda por filmes só aumentava e diversas sucursais instalaram seus escritórios em vários estados buscando uma melhor distribuição. Ao mesmo tempo, frações da sociedade procuravam formas de controlar e influenciar o que era exibido, tendo como alvo prioritário a criação de legislação específica. Podemos citar como exemplo a formação da Liga Antipornográfica, fundada em 1912 pelo Círculo Católico. Sediada no Rio de Janeiro, tinha como proposta “combater a pornografia sob todos os aspectos e com todos os meios lícitos ao seu alcance” (Francisco Ferreira de Almeida, 1912, p. 1-2). Segundo seus membros, sua função seria tirar a sociedade do “lamaçal de vícios e de imoralidade” (A Cruz, Mato Grosso, 09 jun 1912, p.1-2) que se encontrava. Constituiremos como fontes jornais e documentos da época, nos quais constam indícios que permitem observar a circulação de textos contra os espaços fílmicos que eram taxados como “alegres/livres” no período posterior aos encontros internacionais, que coincidiu com o início do desenvolvimento de ligas antipornográficas pelo país, as quais condiziam em parte de seus argumentos e propostas com o que havia sido debatido, alguns anos antes, em Paris.
Bibliografia
- Arquivo Nacional, fundo GIFI – Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
CARDOSO, Erika Natasha. “E como não ser pornográfico?”: usos, sentidos e diálogos transnacionais em torno da pornografia no Brasil (1880-1924). Tese (Doutorado em História) Programa de Pós-graduação em História. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2019.
LAPERA, Pedro Vinicius Asterito. Entre “alegres” e “livres”! Prazer e repressão à pornografia nos cinemas do Rio de Janeiro (1907-1916). E-compós (Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação), v. 22, jan–dez, publicação contínua, 2019, p. 1–24.
Liga Anti-pornographica do Rio de Janeiro. A Cruz, Mato Grosso, 09 jun 1912, p.1-2.
PEREIRA, Cristina Schettin. Um gênero alegre: imprensa e pornografia no Rio de Janeiro (1896-1916). Dissertação (Mestrado em História) Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Estadual de Campinas, 1997.