Ficha do Proponente
Proponente
- NICOLE DONATO PINTO MACHADO (UFS)
Minicurrículo
- Formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe. Pesquisando o ritual no coreocinema de Maya Deren, no mestrado interdisciplinar em Cinema do PPGCINE/UFS. Diretora dos videoclipes “Tudo”, de Alex Sant’anna, e “Preciso Ir Embora”, de Taia. Montadora dos videoclipes “A.Lago”, “Ser” e “Dose de Amor”, de Taia.
Ficha do Trabalho
Título
- Ritual no Coreocinema de Maya Deren
Formato
- Presencial
Resumo
- Esta pesquisa propõe uma categorização de fases da obra de Maya Deren, para investigar de que maneiras a sua noção de ritual informou (e se transformou ao longo de) seu coreocinema. Seja na defesa de uma forma de arte ritualística, nas viagens ao Haiti e filmagens das cerimônias de vodu, e na consequente afetação dos seus últimos filmes por essa cosmologia, busca-se compreender sua teoria de cinema e filmes de uma perspectiva total atada pelo elo do ritual.
Resumo expandido
- Coreocinema, neologismo cunhado pelo crítico John Martin em relação à abordagem singularmente imbricada de filme e dança na obra de Maya Deren, diz respeito, em termos gerais, a uma obra de arte cinematográfica em que o aspecto coreográfico é central, e as coreografias dos corpos fílmicos que dançam (ou não-dançantes mobilizados a uma coreografia pelo filme), a coreografia da câmera em relação aos corpos e a coreografia única construída pela montagem são equivalentes em importância. No caso de Maya Deren, que chegou a chamar suas obras de filmes de dança, essa equivalência é palpável, bem como a sua insistência em firmar que esse tipo de obra de arte só é possibilitado pelas características inerentes ao meio cinematográfico.
O corpo em movimento tem papel de destaque através de toda a sua obra, desde Meshes of the Afternoon (1943) a The Very Eye of Night (1958). É estruturando a coreografia corpo-câmera-montagem que Maya Deren dá forma ao seu cinema. Por meio dos corpos em cena, Deren realiza o “acidente controlado” de manipulação da realidade apropriada pelo espaço-tempo fílmico (DEREN, 2012). Nos termos de sua própria teoria, é assim que ela mobiliza o construto poético de seus filmes, que se inserem na lógica de emoções do cinema vertical.
Deren preocupa-se, então, em propor a forma de arte ritualística, tendo por método uma manipulação consciente da realidade imediata para criar uma realidade nova, inventada, que tem no cinema a sua potência máxima. Para ela, somente através do filme pode-se manipular espaço e tempo, por meio da câmera e da edição, sem desconsiderar os elementos da natureza, da realidade, de outras artes, mas criando uma realidade própria à obra cinematográfica, independente do contexto original de que foi abstraída (DEREN, 1946).
A maneira como Maya Deren foi capaz de articular cinema e dança, sem incorrer na subserviência de uma arte à outra, mas se apropriando fundamentalmente de elementos próprios a cada uma, logrando uma abordagem singular dos corpos no filme, irrompeu como a “virtualmente nova arte” do coreocinema. Seja na defesa de uma forma de arte ritualística e na influência da dança moderna afro-americana, nas viagens ao Haiti e filmagens das cerimônias do vodu haitiano, e na consequente afetação dos seus últimos filmes por essa cosmologia, o coreocinema dereniano teve, em todos os seus momentos, o ritual como mobilizador.
Pode-se, então, propor uma categorização de fases da sua obra, com o objetivo geral de investigar de que maneiras a noção de ritual de Maya Deren informou (e se transformou ao longo de) seu coreocinema: a fase pré-haitiana, que compreende os filmes Meshes of the Afternoon, At Land, A Study in Choreography for Camera e Ritual in Transfigured Time, e o livro An Anagram of Ideas on Art, Form and Film; os arquivos do Haiti, onde o coreocinema informou esteticamente a visão etnográfica sobre os rituais do vodu haitiano; e a fase pós-haitiana, em que as influências da mitologia do vodu haitiano se refletem na iconografia de seus filmes, em particular nos finalizados Meditation on Violence e The Very Eye of Night.
A partir da análise cuidadosa das etapas, poderemos evocar a estrutura anagramática que Maya Deren empreendeu no seu livro An Anagram of Ideas on Art, Form and Film, e buscar compreender o coreocinema dereniano de uma perspectiva total em que as partes são atadas pelo elo do ritual.
Bibliografia
- CLEGHORN, Elinor. ‘One must at least begin with the body feeling’: Dance as filmmaking in Maya Deren’s choreocinema. Cinema Comparat/ive Cinema, v. 4, n. 8, p. 36-42, 2016.
DEREN, Maya. An anagram of ideas on art, form and film. New York: The Alicat Book Shop Press, 1946.
______. Cinema: o uso criativo da realidade, Devires, Belo Horizonte, v.9, n.1, p. 128-149, jan./jun. de 2012.
______. Divine horsemen: the living gods of Haiti. [s.l.]: Edições Oséètùrá, 2022.
ROUCH, Jean. On the Vicissitudes of the Self: The Possessed Dancer, the Magician, the Sorcerer, the Filmmaker, and the Ethnographer. Studies in visual communication, v. 5, n. 1, p. 2-8, 1978.
SULLIVAN, Moira. Maya Deren’s Ethnographic Representation of Ritual and Myth in Haiti. In: NICHOLS, Bill (ed). Maya Deren and the american avant-garde. Los Angeles: University of California Press, p. 207-234, 2001.
TURNER, Victor. Floresta de símbolos: aspectos do ritual Ndembu. Niterói: EdUFF, 2005.