Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    NICOLE DONATO PINTO MACHADO (UFS)

Minicurrículo

    Formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Sergipe. Pesquisando o ritual no coreocinema de Maya Deren, no mestrado interdisciplinar em Cinema do PPGCINE/UFS. Diretora dos videoclipes “Tudo”, de Alex Sant’anna, e “Preciso Ir Embora”, de Taia. Montadora dos videoclipes “A.Lago”, “Ser” e “Dose de Amor”, de Taia.

Ficha do Trabalho

Título

    Ritual no Coreocinema de Maya Deren

Formato

    Presencial

Resumo

    Esta pesquisa propõe uma categorização de fases da obra de Maya Deren, para investigar de que maneiras a sua noção de ritual informou (e se transformou ao longo de) seu coreocinema. Seja na defesa de uma forma de arte ritualística, nas viagens ao Haiti e filmagens das cerimônias de vodu, e na consequente afetação dos seus últimos filmes por essa cosmologia, busca-se compreender sua teoria de cinema e filmes de uma perspectiva total atada pelo elo do ritual.

Resumo expandido

    Coreocinema, neologismo cunhado pelo crítico John Martin em relação à abordagem singularmente imbricada de filme e dança na obra de Maya Deren, diz respeito, em termos gerais, a uma obra de arte cinematográfica em que o aspecto coreográfico é central, e as coreografias dos corpos fílmicos que dançam (ou não-dançantes mobilizados a uma coreografia pelo filme), a coreografia da câmera em relação aos corpos e a coreografia única construída pela montagem são equivalentes em importância. No caso de Maya Deren, que chegou a chamar suas obras de filmes de dança, essa equivalência é palpável, bem como a sua insistência em firmar que esse tipo de obra de arte só é possibilitado pelas características inerentes ao meio cinematográfico.

    O corpo em movimento tem papel de destaque através de toda a sua obra, desde Meshes of the Afternoon (1943) a The Very Eye of Night (1958). É estruturando a coreografia corpo-câmera-montagem que Maya Deren dá forma ao seu cinema. Por meio dos corpos em cena, Deren realiza o “acidente controlado” de manipulação da realidade apropriada pelo espaço-tempo fílmico (DEREN, 2012). Nos termos de sua própria teoria, é assim que ela mobiliza o construto poético de seus filmes, que se inserem na lógica de emoções do cinema vertical.

    Deren preocupa-se, então, em propor a forma de arte ritualística, tendo por método uma manipulação consciente da realidade imediata para criar uma realidade nova, inventada, que tem no cinema a sua potência máxima. Para ela, somente através do filme pode-se manipular espaço e tempo, por meio da câmera e da edição, sem desconsiderar os elementos da natureza, da realidade, de outras artes, mas criando uma realidade própria à obra cinematográfica, independente do contexto original de que foi abstraída (DEREN, 1946).

    A maneira como Maya Deren foi capaz de articular cinema e dança, sem incorrer na subserviência de uma arte à outra, mas se apropriando fundamentalmente de elementos próprios a cada uma, logrando uma abordagem singular dos corpos no filme, irrompeu como a “virtualmente nova arte” do coreocinema. Seja na defesa de uma forma de arte ritualística e na influência da dança moderna afro-americana, nas viagens ao Haiti e filmagens das cerimônias do vodu haitiano, e na consequente afetação dos seus últimos filmes por essa cosmologia, o coreocinema dereniano teve, em todos os seus momentos, o ritual como mobilizador.

    Pode-se, então, propor uma categorização de fases da sua obra, com o objetivo geral de investigar de que maneiras a noção de ritual de Maya Deren informou (e se transformou ao longo de) seu coreocinema: a fase pré-haitiana, que compreende os filmes Meshes of the Afternoon, At Land, A Study in Choreography for Camera e Ritual in Transfigured Time, e o livro An Anagram of Ideas on Art, Form and Film; os arquivos do Haiti, onde o coreocinema informou esteticamente a visão etnográfica sobre os rituais do vodu haitiano; e a fase pós-haitiana, em que as influências da mitologia do vodu haitiano se refletem na iconografia de seus filmes, em particular nos finalizados Meditation on Violence e The Very Eye of Night.

    A partir da análise cuidadosa das etapas, poderemos evocar a estrutura anagramática que Maya Deren empreendeu no seu livro An Anagram of Ideas on Art, Form and Film, e buscar compreender o coreocinema dereniano de uma perspectiva total em que as partes são atadas pelo elo do ritual.

Bibliografia

    CLEGHORN, Elinor. ‘One must at least begin with the body feeling’: Dance as filmmaking in Maya Deren’s choreocinema. Cinema Comparat/ive Cinema, v. 4, n. 8, p. 36-42, 2016.

    DEREN, Maya. An anagram of ideas on art, form and film. New York: The Alicat Book Shop Press, 1946.

    ______. Cinema: o uso criativo da realidade, Devires, Belo Horizonte, v.9, n.1, p. 128-149, jan./jun. de 2012.

    ______. Divine horsemen: the living gods of Haiti. [s.l.]: Edições Oséètùrá, 2022.

    ROUCH, Jean. On the Vicissitudes of the Self: The Possessed Dancer, the Magician, the Sorcerer, the Filmmaker, and the Ethnographer. Studies in visual communication, v. 5, n. 1, p. 2-8, 1978.

    SULLIVAN, Moira. Maya Deren’s Ethnographic Representation of Ritual and Myth in Haiti. In: NICHOLS, Bill (ed). Maya Deren and the american avant-garde. Los Angeles: University of California Press, p. 207-234, 2001.

    TURNER, Victor. Floresta de símbolos: aspectos do ritual Ndembu. Niterói: EdUFF, 2005.