Ficha do Proponente
Proponente
- Theo Costa Duarte (Unicamp)
Minicurrículo
- Esteve em estágio pós-doutoral no PPG Multimeios da Unicamp de 2019 a 2022. Doutor em Meios e Processos Audiovisuais na ECA-USP (2017) e Mestre em Comunicação pela UFF (2012) com pesquisas sobre as relações entre cinema experimental e artes visuais no cinema brasileiro e norte-americano. Foi programador do Cine Humberto Mauro (Belo Horizonte / 2010-2011) e co-curador das mostras Cinema Estrutural (Caixa Cultural – RJ/2015) e Visões da Vanguarda (CCBB – SP/2016), dentre outras.
Ficha do Trabalho
Título
- Cinemas experimentais na América Latina: constelações
Seminário
- Cinema experimental: histórias, teorias e poéticas
Formato
- Presencial
Resumo
- Pretende-se apresentar e discutir dois conjuntos de filmes experimentais latino-americanos realizados em um mesmo período, duas “constelações” de filmes ligados à movimentações neovanguardistas ainda não consideradas ou abordadas de modo aprofundado em recentes estudos comparativos.
Resumo expandido
- Em anos recentes um número expressivo de filmes experimentais latino-americanos antes desconhecidos ou inacessíveis aos interessados têm vindo à tona seja a partir de projetos curatoriais-historiográficos de maior fôlego (LERNER; PIAZZA, 2017), seja por intermédio de iniciativas de restauração e digitalização localizadas ou mesmo graças à maior facilidade de acesso na Internet a filmes anteriormente disponibilizados em formatos domésticos. Esse movimento tem sido acompanhado, quando não motivado, por pesquisas focadas nas obras de cineastas e em experiências conjuntas regionais e nacionais que se somam àquelas pesquisas anteriormente realizadas (como as de MANTECÓN, 2012, DENEGRI; MARÍN, 2011, MACHADO Jr., 2001, GONZÁLES; LERNER, 1998, e etc.). Diante dessa multiplicidade de “novos” filmes e de investigações aprofundadas sobre alguns deles, agregaram-se estudos comparativos entre filmes realizados em diferentes países do subcontinente em um mesmo período histórico (cf. RUIZ, 2022, CAMPOS, 2020, FAJARDO-HILL; GIUNTA, 2018, LERNER; PIAZZA, 2017, RODRÍGUEZ, 2016). Essas recentes pesquisas comparativas se justificam por inúmeras razões, a começar pela pouca visibilidade da maior parte das produções analisadas e quase completa ausência de estudos que visavam comparar as distintas vertentes do cinema experimental na América Latina, mesmo aquelas surgidas em um mesmo contexto histórico e mobilizadas por interesses compartilhados em todo o subcontinente. Também se justificam dado o potencial hermenêutico da comparação entre produções experimentais de diferentes países latino-americanos, que pode demonstrar sem muita dificuldade afinidades significativas (e, por consequência, singularidades reveladoras) determinadas ou não pela relação com movimentações artísticas transnacionais ou por vínculos sócio-históricos comuns.
Pelo reconhecimento de padrões, recorrências e afinidades formais e temáticas entre obras realizadas em diferentes países em um mesmo período pôde-se constituir algumas “constelações fílmicas” (SOUTO, 2020) ainda não formuladas ou somente esboçadas nos estudos citados. Pode-se observar preliminarmente como cada uma dessas constelações se contrastam em certos pontos de modo uniforme em relação a movimentações de cinema experimental aparentemente similares nos Estados Unidos e Europa, o que, dentre outras coisas, evidencia a particularidade do conjunto das movimentações latino-americanas e mais uma vez justifica o esforço comparativo.
Dentre as constelações que buscamos apresentar e discutir nessa comunicação estão dois conjuntos de filmes que se inserem em movimentações neovanguardistas que se constituíram mais decisivamente em outros campos artísticos, principalmente no das artes visuais. A primeira delas se refere a um conjunto de filmes realizados ao fim dos anos 1950 e nos anos 1960 na Argentina, Cuba, Colômbia e Brasil associados a movimentos artísticos de matriz construtivista como os diversos concretismos e a arte cinética. Filmes que se constituem em experiências de depuração plástica, desenvolvidas na articulação racional de unidades mínimas da visualidade – e que foram criticados pelo distanciamento em relação às questões políticas e sociais de seu tempo.
A segunda constelação seria constituída por filmes ligados ao conceitualismo latino-americano realizados nos anos 1970, frequentemente fora dos países natais de suas realizadoras e realizadores – dado de extrema importância para análise e comparação. Esses filmes de artista, assim como os trabalhos dos diversos conceitualismos latino-americanos, dariam maior importância às ideias, à linguagem e aos modos de inserção na vida social em sobreposição aos elementos da visualidade, buscando estimular a reflexão do espectador sobre os próprios mecanismos envolvidos na produção do sentido e transmissão da informação. Em contraste com a arte conceitual anglo-saxônica esses filmes frequentemente seriam também veículos de expressão política.
Bibliografia
- DENEGRI, A.; MARÍN, P. Dialéctica en suspenso: Argentine Experimental Film & Video. Nova York: Antennae, 2011.
FAJARDO-HILL, C.; GIUNTA, A. Mulheres Radicais: arte latino-americana, 1960-1985. São Paulo: Pinacoteca de São Paulo, 2018.
GONZÁLES, R.; LERNER, J. (org.). Cine Mexperimental: 60 años de medios de vanguardia en México. Santa Mônica: Smart Art Press, 1998.
LERNER, J.; PIAZZA, L. (org.). Ismo ismo ismo – Cine Experimental en América Latina. Los Angeles: University of California Press, 2017.
MACHADO Jr., R. Marginália 70: o experimentalismo no Super-8 brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural, 2001.
MANTECÓN, Á. El Cine súper-8 em México. 1970-1989. México D.F.: UNAM, 2012.
RODRÍGUEZ, P. A. S. Latin American Cinema: a Comparative History. Oakland: University of California Press, 2016.
RUIZ, Á. L. Poéticas del cine experimental en el Cono Sur. Montevideo: 2AM, 2022.
SOUTO, M. Constelações fílmicas: um método comparatista no cinema. Galáxia. São Paulo, n. 45, set-dez, 2020, p. 153-165