Ficha do Proponente
Proponente
- João Paulo Pinto Wandscheer (UFRGS)
Minicurrículo
- Doutorando em Comunicação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Durante o mestrado, foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e integrante do grupo de pesquisa Kinepoliticom. Pesquisa sobre cinema queer brasileiro e tem interesse em áreas como política, sexualidade e artes.
Ficha do Trabalho
Título
- Não-lugar e cinema queer brasileiro: uma análise do filme Tinta Bruta
Formato
- Presencial
Resumo
- Resultado de uma dissertação que estuda homossexualidade e cinema queer brasileiro, este trabalho consiste em uma análise de aproximações entre atitudes dos protagonistas de Tinta Bruta (2018) e o termo queer nas cenas em que ocorrem festas. É possível perceber nas noites de festa do longa-metragem não apenas tensionamentos em relação a preconceitos que os protagonistas sofrem, mas também que o termo queer se distancia do conceito de assimilação e pode ser associado a uma sensação de não-lugar.
Resumo expandido
- Resultado de uma dissertação publicada em abril de 2022 através do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUCRS, este trabalho consiste em uma análise das cenas de festa do filme Tinta Bruta (2018), dirigido por Marcio Reolon e Filipe Matzembacher. Serão analisadas aproximações entre atitudes dos protagonistas Pedro e Leo com o termo queer nas cenas em que ocorrem festas durante o longa-metragem.
As noites de festa em Tinta Bruta evidenciam não apenas a estranheza com a qual as pessoas olham para Pedro, como também a perseguição que ele sofre devido ao preconceito relacionado a sua sexualidade. Podemos perceber, nos momentos de festa, a maneira como os protagonistas enfrentam atos preconceituosos e também encontrar aproximações de suas atitudes com o conceito de queer.
O termo queer consiste em um vocábulo da língua inglesa que está associado à ideia de algo estranho e foi historicamente utilizado para ofender pessoas que não fossem heterossexuais. Louro (2018) entretanto aponta que a expressão passou a ser adotada por teóricos e militantes com o objetivo de se afirmarem politicamente e se referirem a gays, lésbicas, bissexuais e pessoas trans que se distanciam do que podemos compreender como assimilação.
O conceito de assimilação referente à homossexualidade pode ser entendido através de duas perspectivas políticas que vêm orientando, ao longo das últimas décadas, movimentos sociais que combatem a homofobia e lutam pelos direitos de indivíduos homossexuais: o assimilacionismo e o liberacionismo. De acordo com Lacerda Júnior (2015), o primeiro consiste na reivindicação de homossexuais por tolerância e igualdade entre indivíduos homo e heterossexuais, tendo como objetivo a inserção de homossexuais à sociedade predominantemente heterossexual.
Já a perspectiva política liberacionista, segundo aponta Lacerda Júnior (2015), não somente sublinha diferenças entre pessoas homo e heterossexuais, como também reivindica a legitimidade de viver tais diferenças. O liberacionismo ainda orientou, conforme relata Lacerda (2015), movimentos sociais estadunidenses que utilizavam o termo queer durante o fim da década de 80 e que não apenas combatiam a negligência do governo em relação ao avanço de casos de HIV/Aids, mas também rejeitavam estratégias assimilacionistas.
É possível percebermos portanto – ao longo da história das lutas políticas – um distanciamento entre o termo queer e o assimilacionismo, bem como uma conexão com o liberacionismo. Em Tinta Bruta, Pedro e Leo não frequentam festas voltadas exclusivamente ao público gay, nem rejeitam estar com pessoas heterossexuais. O distanciamento entre os personagens e o assimilacionismo pode ser percebido através da ausência de preocupação em anular a maneira como desejam agir para se sentirem inseridos em ambientes frequentados por indivíduos heterossexuais.
Pedro é um personagem que tem dificuldade em interagir com outras pessoas e o apartamento onde mora está com o aluguel atrasado. Ele ainda sofria perseguição na faculdade onde estudava e, após atingir um estado de esgotamento, dá um soco em um ex-colega durante uma festa da faculdade e acaba deixando-o cego. Pedro passa a responder um processo na Justiça e o caso viraliza na internet, intensificando o isolamento do personagem.
Em meio a audiências judiciais e problemas financeiros, Pedro se apaixona e constrói um vínculo com o dançarino Leo, com quem realiza performances em frente a uma webcam passando tintas pelo corpo. Os dois ainda compartilham o sentimento de desconforto em relação à estranheza com a qual as pessoas lhes olham pelas ruas de Porto Alegre.
A sensação de deslocamento que Pedro e Leo sofrem se torna evidente nas cenas de festa do longa-metragem Tinta Bruta, momentos que nos possibilitam perceber que os personagens tensionam preconceitos que persistem na sociedade. O desajuste que os protagonistas sentem ainda os aproxima de um contexto que Louro (2018) associa ao conceito de queer: o não-lugar.
Bibliografia
- HALBERSTAM, Jack. A arte queer do fracasso. Recife: Cepe, 2020.
LACERDA, Chico. Chico Lacerda: New Queer Cinema e o cinema brasileiro. In: MURANI, Lucas; NAGIME, Mateus (org). New Queer Cinema: cinema, sexualidade e política. Caixa Cultural, 2015. p. 120 – 125.
LACERDA JÚNIOR, Luiz Francisco Buarque de. Cinema gay: políticas de representação e além. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015.
LOPES, Denilson. Afetos, relações e encontros com filmes brasileiros contemporâneos. São Paulo: Hucitect, 2016.
LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
MARCONI, Dieison. Ensaios sobre autorias queer no cinema brasileiro contemporâneo. Tese (Doutorado em Comunicação) – Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2020.
NAGIME, Mateus. Em busca das origens de um cinema queer no Brasil. Dissertação (Mestrado em Imagem e Som) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2016.