Ficha do Proponente
Proponente
- Marcelo Dídimo Souza Vieira (UFC)
Minicurrículo
- Marcelo Dídimo possui Mestrado (2001) e Doutorado (2007) em Multimeios/Cinema pela UNICAMP, onde pesquisou O Cangaço no Cinema Brasileiro, livro que foi publicado em 2010. Entre 2013 e 2014, realizou Estágio Pós-Doutoral na Columbia University, New York, quando pesquisou as influências e aproximações entre o Western e o Cangaço. Atualmente é Professor Associado IV do Curso de Graduação em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação do Instituto de Cultura e Arte da UFC.
Ficha do Trabalho
Título
- WESTERN HORROR: QUANDO O INSÓLITO ENCONTRA O VELHO OESTE
Seminário
- Estudos do insólito e do horror no audiovisual
Formato
- Presencial
Resumo
- O Western e o Horror são gêneros cinematográficos que foram criados com a história do cinema. Ambos tiveram forte influência da literatura: as dime novels para o western e a gótica para o horror. O Western Horror é um híbrido (ou subgênero) que acompanhou a consolidação desses gêneros cânones, surgiu no início do século XX e se consolidou a partir dos anos 1930, influenciado pelas narrativas do weird west. A produção se fortaleceu e continua com histórias horríveis no velho oeste até hoje.
Resumo expandido
- O Western e o Horror são gêneros cinematográficos que foram criados juntamente com a história do cinema. Ambos tiveram forte influência da literatura: as dime novels para o western e a gótica para o horror. O Western Horror – quando o insólito encontra o velho oeste – é um híbrido (ou subgênero) que acompanhou a consolidação desses gêneros cânones e surgiu no início do século XX. É possível encontrar alguns rastros no filme The Hanted Hotel (J. S. Blackton, 1907), que mostra um hotel/saloon ser assombrado por figuras fantasmagóricas.
Nas décadas seguintes, outros filmes retornam ao tema: Haunted Range (Paul Hurst, 1926), The Phantom City (Albert S. Rogel, 1928), Haunted Gold (Mack V. Wright, 1932), The Rawhide Terror (Bruce Mitchell e Jack Nelson, 1934). Durante esse período, uma vertente obscura das dime novels se desenhava – mesmo que de forma tímida – através das pulp fictons de Robert E. Howard, batizada de Weird West. O autor – que ficou mais conhecido por Conan, o Bárbaro – faleceu ainda jovem, e ninguém deu continuidade à sua produção, relegando-a ao esquecimento.
No entanto, em outro país (Itália, será coincidência?), Gian Luigi Bonelli se apropriou da temática e publicou HQs que fizeram bastante sucesso na década de 1940 com o personagem Tex, um forasteiro inspirado nos cowboys americanos que combatia diversos inimigos e, eventualmente, enfrentava monstros e demônios. Bonelli deixou um legado que foi seguido por seu filho, Sergio, ao ter criado na década de 1960 o personagem Zagor, um aventureiro que lutava frenquetemente com criaturas bizarras, como vampiros, bruxas, lobisomens e aliens, abrindo espaço para o diálogo com a ficção científica.
O Western Horror começou a assombrar a indústria cinematográfica com maior vigor a partir dos anos 1950, ajudando a abrir as portas para o western spaghetti, que renovou o gênero na década seguinte. O México, que tem tradição de fazer seus próprios westerns, deu a sua contribuição: El Pantano de las Ánimas (Rafael Baledón, 1956), El Grito de la Muerte (Fernando Méndez, 1959) e El Pueblo Fantasma (Alfredo Crevenna, 1965).
Obviamente, Hollywood não ficou de fora e também produziu suas pérolas, resgatando personagens históricos do velho oeste e colocando-os em confronto com figuras lendárias do horror: Billy the Kid vs. Drácula (William Baudine, 1966) e Jesse James meets Frankenstein’s Daughter (William Baudine, 1966).
Posteriormente, com o sucesso de outros gêneros, a produção de Western Horrors enfraqueceu, e apesar de alguns poucos títulos, manteve a continuidade de sua produção: Billy the Kid and the Green Baize Vampire (Alan Clarke, 1987); Near Dark (Kathryn Bigelow, 1987); Devil Rider (Victor Alexander, 1989); From Dusk Till Down (Robert Rodriguez, 1996), que teve duas continuações; e Vampires (John Carpenter, 1998); esses últimos são releituras de um western contemporâneo. Até o clássico do gênero ganhou sua terrível versão, Stagecoach (John Ford, 1939) virou Stageghost (Stephen Hurst, 2001).
Dead in Tombstone (Roel Reiné, 2013) reascendeu a chama do Western Horror e escancarou as portas para o subgênero (ou híbrido), trazendo Danny Trejo (Machete) em seu elenco e merecendo continuações. Nesse intervalo, vários filmes foram realizados, rememorando figuras lendárias, personagens conhecidos e filmes clássicos: Dead Noon (Andrew West, 2007), Fisful of Brains (Christine Parker, 2008), The Dead and the Damned (Rene Perez, 2013), From Hell to the Wild West (Rene Perez, 2016) e Ghosts of the Ozarks (Jordan Wayne Long e Matt Glass, 2022).
A produção continua, em maior ou menor escala. É possível caracterizar o Western Horror com algumas particularidades: em sua maioria, são filmes de baixo orçamento; e o western é o gênero “matriz”, abraçando o horror dentro da sua iconografia. As histórias acontecem no velho oeste, onde vampiros, demônios e criaturas sobrenaturais assombram pacatas cidades e seus habitantes; cowboys não visitam a Transilvânia, por exemplo. Pelo menos ainda não…
Bibliografia
- ALTMAN, Rick. Film/Genre. London: British Film Institute, 1999.
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