Ficha do Proponente
Proponente
- Aline Vaz (UTP)
Minicurrículo
- Doutora com estágio pós-doutoral pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná (PPGCom/UTP); docente no PPGCom/UTP; coordenadora da Linha de Pesquisa Estudos de Cinema e Audiovisual (PPGCom/UTP); líder do Grupo de Pesquisa TELAS: cinema, televisão, streaming, experiência estética (PPGCom/UTP-CNPq); alinevaz900@gmail.com
Coautores
- Sandra Fischer (UTP)
Anna Claudia Soares (UTP)
Ficha do Trabalho
Título
- PALOMA E CORAÇÃO DE NEON: ambiguidades estéticas e lugares ocupados
Formato
- Presencial
Resumo
- O estudo analisa configurações concernentes à topicalização da figura feminina como sintoma e potência a partir de ambiguidades observáveis na composição estética de cenas dos filmes brasileiros Paloma (Marcelo Gomes, 2022) e Coração de neon (Lucas E. Soares, 2023). Emblemáticas, as cenas recortadas instalam, em ambas as obras, brechas constitutivas de fraturas e escapatórias passíveis de desestabilizar estereótipos e viabilizar, por identificação ou contágio, experiências sensíveis germinais.
Resumo expandido
- Integrado aos estudos contemporâneos de cinema e desenvolvido na esfera de um projeto de pesquisa que investiga em composições fílmicas a construção e instalação de topologias que se apresentam como sintoma e potência, o presente trabalho dedica-se a identificar e analisar, nos filmes Paloma (Marcelo Gomes; Brasil, 2022) e Coração de neon (Lucas Estevan Soares; Brasil, 2023), configurações e efeitos de sentido concernentes à topicalização da figura feminina como sintoma e potência a partir de ambiguidades e labilidades observáveis na composição estética das cenas derradeiras de ambas as obras. Interessa-nos no primeiro filme a protagonista Paloma, mulher trans que vive no sertão de Pernambuco. A personagem vê seu cotidiano virar do avesso quando realiza o sonho, há muito acalentado, de se casar na igreja, de véu e grinalda, com o homem com quem mantém um assumido e aparentemente estável relacionamento amoroso. No segundo filme, ambientado em um bairro de periferia na capital do Paraná, nosso foco recai sobre a jovem Naiara, personagem vítima de abuso e violência doméstica recorrentes, a qual tem a vida completamente modificada por uma homenagem rejeitada. As duas obras ganham vida em um tempo no qual o Brasil sofre as consequências resultantes de um governo – eleito – marcado pelo autoritarismo, pelo conservadorismo e pela misoginia, calcado em uma política armamentista e nutrido pela reiteração dos discursos de ódio. Quanto ao embasamento teórico que sustenta o trabalho, note-se que o sintoma, para Jacques Lacan – entendido como invenção, criação –, define-se como “o significante de um significado recalcado” (Lacan, 2007, p. 282), um sem-sentido, uma hesitação discursiva, uma opacidade imagética, em se tratando do cinema, que apresentaria algo do Real. No que tange às imagens, aqui descolam-se de seus sentidos meramente representativos para serem abordadas, na perspectiva da filosofia deleuziana, também e principalmente em suas plurais potencialidades e na transversalidade de múltiplas relações criativas, nômades, oscilantes, em devir. Emblemáticas, as composições estéticas das imagens contidas nas cenas selecionadas ressemantizam, a partir do plano da expressão, planos do conteúdo que ficaram para trás – como se questionassem a própria trama do filme em que se alojam. Assim iluminam, do fim para o começo, seus respectivos universos fílmicos, instalando (ou revelando?) na diegese, retrospectivamente, brechas constitutivas de fraturas e escapatórias – aqui tomadas no sentido dos estudos de Algirdas J. Greimas (2002), como construções sensíveis que desautomatizam o cotidiano – passíveis de desestabilizar estereótipos e viabilizar ao público espectador, seja por identificação ou contágio, experiências sensíveis germinais. Nos termos de Jacques Rancière (2009, p. 16), as partilhas do sensível acionam o lugar e o que se coloca em jogo como forma de experiência; e a “questão da ficção é, antes tudo, uma questão de distribuição de lugares”. Nas cenas que têm lugar nos momentos finais de Paloma e de Coração de neon, as duas personagens femininas mencionadas parecem colocar-se, cada qual em suas diversas peculiaridades e composições, como sujeitos políticos emancipados. Fisgam a plateia e revelam-se, assim – essa é nossa hipótese – donas da ação.
Bibliografia
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