Ficha do Proponente
Proponente
- Rafael Garcia Madalen Eiras (UFF)
Minicurrículo
- Rafael Garcia Madalen Eiras é Doutorando em Cinema pelo PPGCine/UFF-RJ, Mestre em Humanidades, culturas e Artes (PPGHCA- UNIGRANRIO (2020). Graduado em História pela Universidade Cândido Mendes (2015) e Graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2007). Além de uma especialização em Fotografia e Imagem pela Universidade Cândido Mendes (2009). Rafael tem uma larga experiência como freelance no mercado audiovisual e no momento ele é professor do município do Rio de Janeiro.
Ficha do Trabalho
Título
- O discurso da mídia brasileira do filme Quilombo em Cannes.
Formato
- Presencial
Resumo
- O trabalho analisa a repercussão nos periódicos liberais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Globo, da estreia em Cannes do filme Quilombo (1984), de Carlos Diegues. A obra é pensada como reflexo estético da realidade social, do contexto cultural e político do período de reabertura democrática.
Resumo expandido
- A comunicação analisa a repercussão em Cannes (21 de Maio de 1984) de Quilombo (1984), de Carlos Diegues, percebendo o contexto cultural e político do período de reabertura democrática. O filme é pensado como propôs Reinaldo Cardenuto (2020) em um viés analítico “a partir da qual a obra artística será estudada como uma experiência estética relacionada com a realidade social que a cerca.” (CARDENUTO, 2020,p.28). Como metodologia será analisado quatro mídias jornalísticas relevantes no período (Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Globo).
O processo de abertura política se deu de forma autoritária e elitista, mas o imaginário oposicionista produzido pelas demandas sociais foi o fator que pressionou a realização da redemocratização(MENDONÇA, 2004). A obra é produzida e lançada no período em que a reivindicação popular por eleições diretas agita o meio político e cultural brasileiro. Sua estreia em Cannes está cronologicamente dentro desse discurso democrático. No entanto, as propostas de um Quilombo feliz, alegre, carnavalesco, não são bem vistas por parte da imprensa ditas liberais do período. De um lado se traduz a exibição do filme como um estrondoso sucesso. Por outro, ela é descrita com frieza e indiferença.
Neste contexto, Carlos Diegues relata que somente um dos críticos brasileiros realmente estava na sessão de gala, quando o filme foi ovacionado. Ele diz para o jornal O Globo: “Então, os correspondentes brasileiros enviaram para o Brasil metade da verdade.” (DIEGUES apud SALEM, 1984, p.23)
A crítica de Rubens Ewald Filho (FILHO, 1984a) para o Estado de S. Paulo do dia 22 de Maio, relata que houve “poucos aplausos, muita gente saindo no meio da sessão, nenhuma vaia.(…) Uma recepção fria e desinteressada, que decepcionou a delegação brasileira presente.” O critico sugere que a utopia e a democracia racial seriam os temas da narrativa, mas para ele “ nada disso está no filme, apenas uma confusa colagem de discursos exaltados e cenografia elaborada, que fica a um passo do desfile de escola de samba.”(FILHO, p.23, 1984a)
No mesmo dia em que Rubens Ewald Filho escrevia sua primeira impressão de Quilombo, José Carlos Avellar, o único crítico brasileiro que esteve na exibição de gala, escrevia palavras opostas para o Jornal do Brasil. Ele ressaltou a potencialidade carnavalesca do filme, propondo um ponto de vista através de um olhar colonial em que: “A alegria, no entanto, pareceu estranha, especialmente porque vem de uma sociedade tão cheia de problemas quanto a nossa.” (AVELLAR, p.41. 1984)
Rubens Ewald Filho, já no dia 23 de Maio, escreveu outro artigo intitulado “Quilombo”, repercussão variada, conforme o relato, tentando moderar o tom, mas mantendo a sua opinião desfavorável ao filme através de uma lista de críticas ao redor do mundo. Como se o ele tivesse que se justificar pelo texto anterior, mantendo sua narrativa de fracasso.
Dias depois, (26 de Maio) Ruy Castro repercute essa narrativa de fracasso em um artigo para a Folha de S. Paulo (CASTRO, 1984). Ele dá voz ao diretor, que apresenta em sua fala uma lista de jornais franceses favoráveis ao filme. Deste modo, o jornalista da Folha promove a imagem de um diretor desesperado e acuado. Diegues diz: “Há um ódio assassino, não apenas contra mim, mas contra todo o cinema brasileiro, por parte dos críticos”. (DIEGUES apud CASTRO, p.33, 1984)
Assim, a recepção do filme em sua maioria foi negativa. Uma obra que propunha um ponto de vista popular, negro, descolonizado, mas que não foi bem visto pela imprensa cultural. Interessante entender que as demandas populares do período produziram um imaginário opositor ao regime autoritário que impulsionava a redemocratização. No entanto, quando essas demandas oposicionistas se tornam particularidades, como a representação da cultura negra, são rechaçadas por uma sociedade ainda autoritária, A comunicação pretende refazer esses discurso midiático, analisando e problematizando as fontes jornalísticas.
Bibliografia
- AVELLAR, José Carlos. As imagens de Diegues e a música de Gil na alegoria de Quilombo. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 22 de Maio de 1984. pg.41. Caderno B. Disponível em .
CARDENUTO, Reinaldo. Por um cinema popular: Leon Hirszmsman, política e resistência. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2020
CASTRO, Ruy. Quilombo: um anúncio de felicidade e liberdade. Folha de São Paulo. São Paulo, 26 de Maio, p.33, 1984. Ilustrada.
MENDONÇA, Daniel Tancredo Neves: da distensão à nova república. EDUNISC, Santa Cruz do Sul, 2004.
FILHO. Rubens Ewald .“Quilombo” uma recepção fria. Estado de São Paulo. São Paulo 22 de Maio, p.23, 1984a. Caderno 2.
FILHO. Rubens Ewald .“Quilombo” , repercussão variada, conforme o relato. Estado de São Paulo. São Paulo 23 de Maio, p.14, 1984b. Caderno 2.
SALEM, Helena. Cacá Diegues: “só o fato de ter sido selecionado já é uma forma de destaque”. O Globo, Rio de Janeiro, 02 de Junho, p.23, 1984. Segundo Caderno.