Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Marco Antônio Bonatelli Torres (UFF)

Minicurrículo

    Integrou durante três anos o Laboratório de Estudos do Horror e da Violência na Cultura (LEHViC), da UFMS, onde desenvolveu pesquisas sob orientação do professor Doutor Ramiro Giroldo. Também foi curador do cineclube “Sob a Terra”, que teve como objetivo apresentar obras pouco conhecidas do gênero horror para o público de Campo Grande. Atualmente trabalha em sua dissertação, cujo objeto de estudo é o conceito de pós-horror, cunhado já envolto a polêmicas e com extensas produções dedicadas a ele.

Ficha do Trabalho

Título

    Análise comparada de “A Inocente Face do Terror”: entre livro e filme

Formato

    Presencial

Resumo

    A apresentação discute de que maneira o romance “A Inocente Face do Terror” (“The Other”, 1971), de Thomas Tryon, e sua adaptação homônima para o cinema, de Robert Mulligan (1972), conjugam os elementos “Mal” e “inocência” no cerne de suas narrativas – através de representações do Diabo e da criança, respetivamente. Para tanto, fundamenta-se em uma leitura comparada entre obras (livro e filme), aliada à estudos historiográficos que se detêm sobre o fenômeno sociocultural que ambas construíram.

Resumo expandido

    A apresentação discute através de que meios o romance “A inocente face do terror” (“The Other”, 1971), de Thomas Tryon, e sua adaptação homônima em longa-metragem, de Robert Mulligan (1972), conjugam os elementos “Mal” e “inocência” no cerne de suas narrativas, que se tornaram influentes tanto no campo da literatura quanto no do cinema (HENDRIX, 2017, p. 22 e 23). Levando em conta as representações do Diabo e da criança feitas por cada autor, a construção da fala primeiro se volta para como tais elementos podem ser observados no caso dessas obras em específico, e depois cuida de demonstrar de que maneira esses tipos se diferenciam de outros produzidos no mesmo período histórico, visto que a abordagem foi recorrente em outros marcos do gênero: “A Profecia” (“The Omen”), filme de Richard Donner e romance de David Seltzer (ambos de 1976); “O Bebê de Rosemary” (“Rosemary’s Baby”), filme de Roman Polanski (1968) e romance de Ira Levin (1967); e “O Exorcista” (“The Exorcist”), filme de William Friedkin (1973) e romance de Willian Peter Blatty (1971), por exemplo. Metodologicamente, além da leitura comparada entre livro e filme, estudos historiográficos são considerados e debatidos, como “Paperbacks from Hell: the twisted history of the ’70 and ’80s horror fiction” (2017), de Grady Hendrix, pois a área auxilia na compreensão geral do poder disruptivo de “A inocente face do terror”. E esse exercício se faz relevante porque, já nos livros, Seltzer, Levin e Blatty apresentam seus demônios como seres que, embora paranormais, existem objetivamente nos cosmos em que suas narrativas se passam e, portanto, se caracterizam como seres extraordinários em um mundo ordinário. O Mal, levando-se em conta as particularidades de cada obra, passa a ser canalizado, portanto, por uma figura central: a do monstro. Já nos objetos de análise em pauta, a noção de Mal surge como resultado de uma disfunção psicológica de seu protagonista, Niles. Ainda menino, ele perde seu gêmeo em um acidente trágico e, sendo muito solitário, dá vida a uma cópia mimética de Holland (seu irmão) para suprimir sua dor. Contudo, como a cópia se trata de uma idealização falseada, por mais que seja inspirada em memórias que possui, acaba por representar apenas fragmentos do real – e se prova mais um extravaso diante do medo e em negação ao fato concreto da morte. Niles, dessa forma e incentivado por sua família, aceita esse outro imagético como parte objetiva de seu mundo. Deve-se destacar que o garoto, sempre que não tem esse ser por perto, se porta como uma criança boa e gentil e assim é visto e tratado por todos, mas enlouquece com o tempo e se torna um homicida por conta de sua presença. Um exemplo da qualidade dessa adaptação, que tomou suas liberdades para traduzir texto escrito em obra audiovisual, é que, no livro, há uma passagem na qual Niles invade uma tenda de atrações macabras influenciado por Holland; Mulligan, porém, dá toda uma significância diferente para essa cena, que acontece em um parque de diversões. O garoto, em sua versão, está segurando um algodão doce nesse momento e, imageticamente, o diretor traduz a virada do personagem da inocência para o Mal a partir do abandono do signo de inocência em questão: para que possa se aventurar dentro da barraca, ele precisa se agachar e encosta de forma involuntária o alimento no chão, jogando-o fora. Com isso, traduz um elemento intrapessoal do livro (descrito em primeira pessoa) para extra pessoal, ou seja: a partir da relação direta entre os personagens Niles e Holland, inocência e Mal, evoca-se o tema principal do longa. Quando a historiografia propõe que a “A inocente face do terror” se tronara ponto virada para o gênero a que pertence, constituindo, assim, o início de uma duradoura tradição no horror (HENDRIX, 2017, p. 19 e 20), esta análise evidencia um dos motivos para isso: o trabalho de adaptação que não buscou mimetizar de maneira simplista o romance, mas deu um passo além e trouxe a visão artística do diretor.

Bibliografia

    A INOCENTE Face do Terror. Direção de Robert Mulligan. Produção de Robert Mulligan. Estados Unidos: Benchmark, Rem e Twentieth Century Fox, 1972. 1 DVD (108min.).
    AUMONT, Jacques. A Imagem. Tradução: Estela dos Santos Abreu e Cláudio Cesar Santoro. Edição: 16ª edição. Campinas, Brasil: Papirus Editora, 2020.
    BAZIN, André. O que é o cinema? Tradução: Eloisa Araújo Ribeiro. Edição: 1ª edição. São Paulo, Brasil: Ubu Editora, 2018.
    CARROLL, Nöel. The Philosophy of Horror, or Paradoxes of the Heart. Edição: 1ª edição. Nova Iorque, Estados Unidos: Routledge, 1990.
    HENDRIX, Grady. Paperbacks from Hell: The Twisted History of ’70s and ’80s Horror Fiction. Edição: 1ª edição ilustrada. Filadélfia, Estados Unidos: Quirk Books, 2017.
    TRYON, Thomas. A Inocente Face do Terror. Tradução: Giu Alonso. Edição: edição especial da Escotilha. São Paulo, Brasil: Editora Escotilha, 2019.