Trabalhos aprovados 2023

Ficha do Proponente

Proponente

    Julianna Nascimento Torezani (UESC)

Minicurrículo

    Professora de Fotografia e Iluminação do Curso de Rádio, TV e Internet da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, Bahia. Doutora em Comunicação pela UFPE (2018) e Mestra em Cultura e Turismo (2007) e Bacharela em Comunicação Social (2003) pela UESC. Autora do livro “As selfies do Instagram: os autorretratos na contemporaneidade” (Editus, 2022). Pesquisadora de fotografia, direção de fotografia, redes sociais, jornalismo, direito autoral e direito à imagem. E-mail: jntorezani@uesc.br

Ficha do Trabalho

Título

    A plasticidade fotográfica de Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades

Seminário

    Estética e plasticidade da direção de fotografia

Formato

    Presencial

Resumo

    O filme Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades, dirigido por Alejandro González Iñárritu (2022), apresenta Silverio Gacho, documentarista mexicano, que mora nos Estados Unidos, mas retorna ao México por conta de uma premiação. O trabalho busca analisar os elementos da cinematografia utilizados para narrar de forma visual a jornada do protagonista. A análise das imagens indica que a direção de fotografia foi elaborada para acentuar as emoções, os medos, a intimidade e a identidade de Silverio.

Resumo expandido

    Contar a história de forma visual é a função da cinematografia, em que o trabalho de câmera e luz nos leva a entrar em outra dimensão de tempo e espaço. Como objeto de análise desta criação está o filme Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades (2022), dirigido por Alejandro González Iñárritu, que assina o roteiro com Nicolás Giacobone, para narrar a história de um jornalista e documentarista mexicano chamado Silverio Gacho. Para este longa metragem, Iñárritu volta ao México (seu país de origem) para apresentar o personagem que mora dos Estados Unidos e ao retornar ao seu país, para receber uma importante premiação, rememora momentos da sua vida. Desse modo, questiona-se: Como os aspectos da cinematografia apresentam os dramas vividos por Silverio ao entrelaçar com suas memórias e reflexões?
    Este trabalho objetiva analisar a cinematografia que o diretor de fotografia iraniano Darius Khondji utiliza para narrar a jornada pessoal do protagonista. A relevância deste estudo se dar em considerar que um dos aspectos que formam a obra fílmica ocorre pela construção das imagens, através do conhecimento técnico, estético e cultural da equipe, já que pelos enquadramentos, angulações, movimentos, cores, luzes e sombras a narrativa nos afeta e nos sensibiliza.
    O estudo fundamenta-se a partir da ideia de Oliveira (2018, p. 943-944) sobre o encontro do ator-câmera, visto que Silveiro aparece em quase todas as cenas: “a combinação ator-câmera parece compor, nesse sentido, uma harmonizadora combinação entre ações simples, expressivas e, ao mesmo tempo, dotada de conteúdo interior”. Para isso, destaca-se o movimento de câmera, Bordwell e Thompson (2013, p. 280) abordam que “para realçar efeitos expressivos, os cineastas podem mudar a velocidade do movimento no decorrer de um plano”, o que ocorre em várias cenas, e também a luz, em que “muito do impacto de uma imagem vem do uso da iluminação” (BORDWELL; THOMPSON, 2013, p. 221) e nessa trama serve para acentuar a questão da temporalidade, já que mesclam-se imagens de Silveiro no México e suas recordações. Deleuze (2005, p. 102), ao tratar da imagem-tempo, indica que “o passado não se constitui depois do presente que ele foi, mas ao mesmo tempo, é preciso que o tempo se desdobre a cada instante em presente e passado”. Assim, cabe ao espectador perceber esses momentos de conflito do personagem, o que Nardi (2019, p. 122) chama de estado alterado, que permite maior liberdade estética no cinema, visto que “o tempo vai e volta, misturando imagens do presente com imagens da imaginação e da memória”, em que lugares e situações se entrecruzam com personagens familiares e históricos, além da identificação do narrador com o personagem, o que acontece na história de vida de Iñárritu e na trama de Silverio.
    Bardo indica um contador de histórias, essa foi a forma que Iñárritu escolheu para falar de si, visto que ele parte do México para os Estados Unidos para desenvolver filmes que foram amplamente premiados e depois retorna para discutir sua trajetória, o que acontece com o personagem Silverio. Em caráter de análise, podemos atribuir o aspecto autobiográfico, Philippe Dubois (2012, p. 4) aborda que a “autobiografia posiciona a problemática das imagens na ordem explícita da subjetividade, na ordem da vida psíquica e dos processos de memória”.
    A análise foi feita pela pesquisa documental, em que foram escolhidas cenas que demonstram a composição da imagem desta produção. Como resultado, temos um filme que transborda em exageros, rupturas com cenas que narram ora a vida do personagem, ora a história mexicana, metalinguagem ao colocar a produção de um documentário dentro da trama e entrelaçamento de tempo misturando o passado e presente. Com tudo isso, temos uma obra que apresenta uma cinematografia que serve para acentuar as emoções, os medos, o sucesso e a crise de identidade de Silverio durante sua viagem ao México e nos fazer refletir sobre nossas conquistas, fraquezas, rotinas e momentos especiais.

Bibliografia

    BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. A arte do cinema: uma introdução. Tradução: Roberta Gregoli. Campinas, SP: Editora da Unicamp; São Paulo: Editora da USP, 2013.
    DELEUZE, Gilles. A imagem-tempo. Tradução: Eloisa de Araujo Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 2005. (Cinema 2).
    DUBOIS, Philippe. A imagem-memória ou a mise-en-film da fotografia no cinema autobiográfico moderno. Revista Laika, São Paulo, v. 1, n. 1, jul. 2012. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistalaika/issue/view/10099 Acesso em: 25 mar. 2023.
    NARDI, Taís. A direção de fotografia de estados alterados de percepção. In: TEDESCO, Marina Cavalcanti; OLIVEIRA, Rogério Luiz (orgs.). Cinematografia, expressão e pensamento. Curitiba: Appris, 2019.
    OLIVEIRA, Rogério Luiz Silva de. A Cinematografia e a Plasticidade Dramatúrgica. In: ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS DE CINEMA E AUDIOVISUAL, 12, Goiânia, 2018. Anais de textos completos […]. São Paulo: SOCINE, 2018.